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“The Ballad of Darren”, o “primeiro” álbum do Blur desde os anos 90

Com a magia do auge do britpop em seu som, nono disco de estúdio da banda traz Damon Albarn se abrindo sobre tudo de ruim na vida

Em entrevistas antes do lançamento de “The Ballad of Darren”, Damon Albarn caracterizou o trabalho como o primeiro álbum de verdade do Blur desde “13”, de 1999. Se isso soa como insulto velado a “Think Tank” (2003) e “The Magic Whip” (2015), de certa maneira ele tem razão.

“Think Tank” foi divulgado em um período extremamente conturbado do Blur, com o guitarrista Graham Coxon deixando o grupo durante as gravações após um período na reabilitação para tratar seu alcoolismo. A ausência resultou em um disco que parecia mais uma extensão dos interesses paralelos de Damon Albarn – o álbum colaborativo “Mali Music” (2002), gravado com músicos do país africano, e um pequeno projeto multimídia chamado Gorillaz.

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Enquanto isso, “The Magic Whip” conta com toda a formação clássica do grupo, mas foi resultado de sessões improvisadas e apressadas, sendo moldadas por Graham Coxon para fazer algo. É certamente o trabalho mais fraco da carreira da banda.

“The Ballad of Darren”, por outro lado, poderia ter sido uma repetição disso, com sessões organizadas a partir da oportunidade da banda tocar shows em estádios no Reino Unido. A sorte do ouvinte é que dessa vez o Blur estava inspirado. Ou melhor, Damon Albarn tinha algo a falar.

O vocalista tem sido evasivo em entrevistas, mas o conteúdo das letras nesse álbum sugere que sua vida pessoal pode estar passando por um período complicado. Várias canções fazem alusões a brigas e términos, como é o caso do refrão de “Goodbye Albert”:

“I stayed away
I gave you time
Why don’t you talk to me anymore?
Don’t punish me forever”

[“Eu fiquei longe
Te dei tempo
Por que você não fala mais comigo?
Não me puna para sempre”]

Se quiser mais evidência de que algo pode estar errado na vida de Albarn, há as primeiras palavras proferidas pelo vocalista na excelente “St. Charles Square”:

“I f#cked up
I’m not the first to do it
Must forgot now, your smile”

[“Eu fiz m#rda
Não fui o primeiro a fazer
Preciso abrir mão agora do seu sorriso”]

Entretanto, apesar do Blur já ter minado o território de desespero emocional causado pelo término de uma relação – justamente no disco caracterizado por Albarn como o último de verdade do grupo até esse “13” –, o tom é diferente no sentido de que as canções mostram tanto a escuridão quanto a luz no fim do túnel.

Toda a tristeza das letras carrega um ar de resignação, de que a vida precisa continuar. Um término quando se tem 30 anos parece o apocalipse. Aos 55 – idade atual de Albarn –, mesmo se tratando de uma relação com décadas de duração e filhos, os participantes já passaram pelo suficiente para saber que não é o fim do mundo, apenas de um amor.

E os companheiros de longa data do vocalista estão lá pra ele. Graham Coxon sempre foi um guitarrista extremamente subestimado, capaz de criar belíssimas melodias e partes incorporando experimentalismo ao pop mais tradicional, seja com efeitos de modulação pouco comuns, acordes mais prog ou uso de barulho como recurso textural.

A maestria dele com ruído fica evidente na faixa de encerramento do disco, “The Heights”. A bela balada sobre tentar encontrar o próprio caminho no mundo traz um suntuoso arranjo que cresce ao longo de seus três minutos e 23 segundos de duração, mas ao invés de um clímax, ela se desfaz em estática.

Uma conclusão estranhamente apropriada para “The Ballad of Darren” como disco. Por mais que o Blur esteja afiado como em seu auge, alinhado em seus propósitos, os sentimentos de Albarn ainda estão para se resolver. O álbum é o som de alguém abrindo o peito sobre tudo de ruim na vida para os amigos, que o apoiam.

Ouça “The Ballad of Darren” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Blur – “The Ballad of Darren”

  1. The Ballad
  2. St Charles Square
  3. Barbaric
  4. Russian Strings
  5. The Everglades (For Leonard)
  6. The Narcissist
  7. Goodbye Albert
  8. Far Away Island
  9. Avalon
  10. The Heights

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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