Por que Roger Waters virou o líder do Pink Floyd, segundo o próprio

Baixista e vocalista ressalta que ninguém mais queria exercer a função, mas reconhece que poderia se tornar um tirano por conta da personalidade

No início das atividades do Pink Floyd, Syd Barrett era a grande força criativa, o que o colocou em um patamar de liderança. Porém, sua instabilidade mental, aditivada pela dependência química, transformaram o ambiente em um espaço de muita incerteza. Quase que certamente, a médio prazo, o destino não seria nada favorável à banda.

Foi então que Roger Waters assumiu a linha de frente, que manteria até 1983, passando o “cargo” a David Gilmour – contra a própria vontade – posteriormente. Em entrevista à extinta revista britânica Q, realizada em 1987 (e resgatada pelo site Far Out Magazine), o baixista e vocalista refletiu sobre os fatores que o colocaram como chefão do grupo em sua fase mais bem-sucedida.

“Sim, aconteceu logo depois que nos separamos de Syd. Tenho certeza que você ouviria argumentos sobre isso dos outros ‘meninos’, mas eu simplesmente assumi a responsabilidade. Em grande parte, aconteceu porque ninguém mais parecia querer fazer isso, o que é ilustrado graficamente pelo fato de que comecei a escrever a maior parte do material a partir de então. No fim das contas, me sinto perfeitamente feliz sendo um líder.”

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Roger reconhece que pode ter sido um tirano em vários momentos.

“Na verdade, sei que posso ter uma personalidade opressiva. Borbulho com ideias e, de certa forma, era mais fácil para os outros simplesmente concordarem. Raramente nos víamos socialmente, embora eu me desse bem com Nick Mason. Por um tempo limitado, nos primeiros anos do grupo, nós nos misturamos socialmente. Há uma imagem bastante atraente em um grupo reunido na estrada. Mas isso logo empalidece. E coisas como famílias garantem que esse ciclo chegue ao fim.”

Pink Floyd sob liderança de Roger Waters

Como foi perceptível para os fãs, as características do Pink Floyd mudaram bastante sob o comando de Roger Waters. Ele reflete sobre o tema:

“Bem, substituir Syd como líder do Pink Floyd foi fácil. Mas como compositor, ele era único. Eu nunca poderia aspirar ter seus insights e percepções enlouquecidas. Na verdade, por muito tempo eu não teria sonhado em reivindicar nenhum insight. Mas eu sempre darei crédito a Syd pela conexão que ele fez com seu inconsciente pessoal e com o coletivo, o grupo consciente.

Levei quinze anos para chegar perto disso. Mas o que permitiu a Syd ver as coisas da maneira que ele via? É como questionar por que um artista é um artista. Os artistas simplesmente sentem e veem as coisas de uma maneira diferente das outras pessoas. De certa forma, é uma bênção, mas também pode ser uma terrível maldição. Há uma grande satisfação a ser conquistada com isso, mas muitas vezes também é um fardo terrível.”

Como David Gilmour também se acostumou com o poder, uma reunião nunca aconteceu – exceto pelo Live 8, em uma ocasião especial. O Pink Floyd ainda existe como marca e entidade. Porém, enquanto banda, talvez nunca mais volte a acontecer em tempo integral.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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