O que motivou o Pink Floyd a se reunir para o Live 8

Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright colocaram diferenças de lado para fazer show final da história da banda

Não é segredo nenhum que a relação entre os membros da formação clássica do Pink Floyd está longe de ser tranquila. Mesmo assim, todos foram capazes de colocar as diferenças de lado por um único show, realizado em 2 de junho de 2005: a apresentação no festival Live 8.

Quis o destino que esse fosse o último show do Pink Floyd clássico. O motivo foi a perda do tecladista Richard Wright, que morreu 3 anos depois, em 2008.

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Com proposta beneficente, o Live 8 buscava reviver o sucesso e a noção de ajuda humanitária que aconteceu três décadas antes, em 1985, no histórico Live Aid. O evento foi organizado novamente por Bob Geldof, o mesmo idealizador do original, e contou com performances musicais em oito palcos, simultaneamente, nos países membros do grupo conhecido como G8.

O Pink Floyd faria um set reduzido, de aproximadamente 20 minutos, no Hyde Park, em Londres. Mesmo com a aparente tranquilidade, Roger Waters e David Gilmour tiveram pequenos desentendimentos no processo de realização da performance.

De volta com o ex

Composta por Roger Waters (voz e baixo), David Gilmour (voz e guitarra), Richard Wright (teclados) e Nick Mason (bateria), a formação clássica do Pink Floyd, até então, não tocava junta desde 1981. A apresentação final do quarteto ocorreu também em Londres.

Bob Geldof sabia que teria uma missão difícil pela frente. Inicialmente, David Gilmour não se mostrou disposto a fazer o show de reunião, comparando a situação a “voltar a dormir com uma ex”.

Foi necessário, então, adotar outra estratégia: o organizador entrou em contato com Nick Mason e, por intermédio do carismático baterista, conseguiu que os eternos rivais Waters e Gilmour conversassem pela primeira vez em dois anos.

O distanciamento era tanto que Roger precisou pedir a Bob o número de telefone de David, pois não o tinha. O guitarrista não topou de primeira, mas refletiu e acabou por aceitar o convite, como revela o próprio Waters em entrevista concedida nos bastidores do Live 8.

“Acho que Bob encontrou Nick em uma festa ou algo assim e disse: ‘você falaria com Roger?’. E Nick disse: ‘por que você não fala com ele?’. Então, conversamos no telefone. Ele perguntou se eu faria a ligação (para Gilmour) e então eu respondi que sim, por que não? Liguei e acho que David ficou um pouco surpreso quando o telefone tocou e era eu. Mas de qualquer forma, falamos por alguns minutos e ele disse que teria de pensar. No dia seguinte, ele retornou e disse: ‘tudo bem, eu vou’.”

Roger Waters

Gilmour comentou, na mesma entrevista, sobre o que se passou em sua mente ao receber o convite de Waters e Geldof. O músico enfatizou o caráter social do evento e a chance de mostrar aos filhos e netos como era o Pink Floyd em um palco – algo que parecia tão impensável àquela altura.

“Achei que iria me arrepender se não fizesse esse único show para essa causa tão boa e dar uma chance a alguns dos meus filhos de verem o que eu costumava fazer. E, obviamente, o mais importante, espero que isso beneficie o mundo.”

David Gilmour

Velhos hábitos

Com pouco tempo de show e e um catálogo de músicas geralmente longas, os membros do Pink Floyd tiveram que pensar com cuidado como aproveitar os 20 minutos que teriam no palco do Live 8.

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Nesse momento, surgiram os primeiros atritos entre Waters e Gilmour. A visão dos dois a respeito do repertório parecia não combinar.

Um dos motivos de discórdia foi a inclusão de “Another Brick in the Wall Pt. 2”, a música mais famosa da banda. Roger Waters pretendia tocá-la, enquanto David Gilmour era contra. O guitarrista venceu essa queda de braço, pois justificou que a mensagem da canção não era adequada ao evento.

Eles também discordaram em relação aos arranjos e outras partes do show. Porém, no fim das contas, entraram em um consenso e definiram que iriam tocar quatro músicas. São elas: “Breathe (In The Air)” e “Money”, ambas do álbum “The Dark Side of the Moon” (1973); além de “Wish You Were Here”, do disco de mesmo título (1975); e “Comfortably Numb”, oriunda de “The Wall” (1979).

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O adeus do Pink Floyd

Nomes como Robbie Williams, Coldplay, Madonna, Elton John (com Pete Doherty), Keane, U2 e Paul McCartney, entre outros, se apresentaram no Hyde Park durante o Live 8. Artistas de peso, certamente. Porém, devido a todos os fatos que rodeavam tal reunião, o Pink Floyd era a atração mais esperada.

O show rolou sem percalços: tudo dentro do esperado, tudo em seu devido lugar. Foi a despedida perfeita.

Antes de tocarem “Wish You Were Here”, Roger Waters ainda homenageou Syd Barrett, fundador da banda, que morreria no ano seguinte. Diagnosticado com problemas mentais na juventude, Barrett faleceu em decorrência de um câncer no pâncreas.

“Na verdade é bem emocionante estar aqui com esses três caras de novo, depois de todos esses anos – assim como com o resto de vocês. De qualquer forma, estamos fazendo isso pelas pessoas que não estão aqui – e particularmente, é claro, por Syd.”

Roger Waters

Depois do show, Waters não descartou a possibilidade de mais apresentações da banda em eventos de caridade. Por sua vez, Gilmour, motivado pelas desavenças durante as preparações para o show, sempre deixou claro que aquela seria a última vez.

E foi. Com a morte de Richard Wright em 2008, o Pink Floyd jamais se reuniria de novo.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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