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Entrevista: Fernando Ribeiro faz balanço de três décadas de Moonspell e revela próximos planos

Prestes a realizar série de shows pelo Brasil, vocalista descreve ainda a evolução sonora de sua banda e elege os álbuns mais representativos da carreira

Ninguém segura o Moonspell em 2023. O quinteto formado por Fernando Ribeiro (vocais), Ricardo Amorim (guitarra), Aires Pereira (baixo), Hugo Ribeiro (bateria) e Pedro Paixão (teclados) dará uma pausa na composição do sucessor de “Hermitage” (2021) para voltar ao Brasil, onde, entre 7 e 14 de abril, tocará em seis cidades: Porto Alegre (7/4), Curitiba (8/4), Limeira (9/4), Brasília (11/4), Belo Horizonte (12/4) e São Paulo (14/4), nesta última como parte do São Paulo Metal Fest

A poucas semanas do vindouro giro, Ribeiro concedeu entrevista a IgorMiranda.com.br na qual fez um balanço da trajetória da banda e da própria carreira de escritor. Também comentou assuntos correlatos à pandemia e à Guerra da Ucrânia e afirmou: já passou da hora de Metallica e Iron Maiden levarem o grupo pioneiro do metal extremo português para a estrada.

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Uma entrevista com Fernando Ribeiro (Moonspell)

Longevidade, autogestão e o metal extremo na atualidade

Mais de três décadas de atividades não é para qualquer um. Manter a empolgação e o frescor, para muitos, é o segredo da longevidade. Para Fernando Ribeiro, no entanto, os principais ingredientes da receita são outros.

“Uma boa gestão das expectativas. As expectativas podem matar uma banda. Em segundo lugar, paciência, resistência e compreensão de que existe algo acima dos ‘egos’ da banda; e aí também se deve fazer uma boa gestão. Os anos vão passando, tomar decisões nunca é fácil, mas no caso do Moonspell elas têm de ser tomadas quase que diariamente, pois nós também fazemos o management da banda.”

Por mais assustadora que possa parecer, a “autogestão” traz suas vantagens. Ribeiro destaca que o Moonspell pode não ser tão grande como alguns de seus contemporâneos, mas não está preso a “nenhuma fórmula musical” ou submetido a “pressão empresarial”.

Ao ser questionado sobre o papel do metal extremo na atualidade, o vocalista surpreende por um lado, mas ao citar novos nomes da cena, se mostra antenado por outro:

“Não sou fã de metalcore, embora respeite e o considere essencial para as novas gerações. É questão de gosto. Mas há uma nova geração de bandas de death metal que é fabulosa, como o Okkultist e o Gaerea, de Portugal, ou o Dead Congregation, da Grécia. Há um movimento forte, não gosto de tudo, mas a vitalidade é assinalável.”

Evolução sonora e álbuns mais representativos

Fernando Ribeiro diz ser impossível descrever, com exatidão, a evolução sonora do Moonspell ao longo dos anos, desde o primeiro álbum, “Wolfheart” (1995), até o mais recente, “Hermitage”. Para ele, a trajetória da banda não foi calculada, mas espontânea.

“Óbvio que todas as bandas querem não só tocar melhor tecnicamente, mas, no nosso caso, fazer música que represente aquilo que vivemos, ouvimos e lemos, e é daí, dessas influências, que a chamada ‘evolução’ se ocasiona. Começamos emulando o metal extremo de bandas como Bathory, Celtic Frost e Sarcófago, mas depois fomos descobrindo outras, como Type O Negative, The Sisters of Mercy, Pink Floyd e Nine Inch Nails, e fomos as adicionando ao nosso som.”

A discografia de estúdio do Moonspell compreende, até o momento, treze álbuns de estúdio. Para o vocalista, três deles são os mais representativos da banda:

“O ‘Irreligious’, de 1996, foi o disco certo na hora certa. No ápice do gothic metal, nós fizemos um disco que refletia de maneira muito cristalina o estilo. Também considero o ‘The Antidote’ (2003) um dos nossos discos mais característicos, não obstante tenha sido um pouco ignorado à época, e o ‘Extinct’ (2015), que tem ótimas canções, e o Moonspell é uma banda de canções.”

Brasil: amor tardio, amor verdadeiro

Embora hoje conte com uma grande base de fãs no Brasil, o Moonspell custou a conquistar adeptos no país. Fernando Ribeiro relembra que as primeiras apresentações em território nacional, em meio a uma turnê pela América Latina no ano de 1998, foram as que tinham menos gente. Porém, o grupo não desistiu, por ter consciência de que poderia crescer por aqui.

Para o vocalista a popularidade enfim alcançada se deve, sobretudo, a dois fatores, e recentes até:

“Penso que o [álbum] ‘1755’, que tem a versão [de ‘Lanterna dos Afogados’] dos Paralamas do Sucesso, e a participação no Rock in Rio em 2015 chamaram mais a atenção sobre nós e promoveram maior aproximação [com o público brasileiro].”

Da cena heavy metal brasileira, a qual define como “das melhores do mundo”, Ribeiro destaca bandas como Sepultura, The Troops of Doom, Dorsal Atlântica, The Mist, Angra, Sarcófago, Matanza e Ratos de Porão. E, é claro, os fãs— inclusive os que trocaram o Brasil por Portugal:

“Há muitos brasileiros morando em Portugal agora, e [com isso] os shows estão muito mais vibrantes, já que existe [nos brasileiros] essa ‘fome de viver’ que na Europa já morreu. É essa cor que o brasileiro, no Brasil ou fora dele, traz e que é muito importante!”

Fora da raia do heavy metal, o vocalista aponta outros motivos pelos quais o Brasil lhe é tão encantador:

“A cultura e o imaginário do Brasil escapam a qualquer definição, realismo mágico ou surrealismo do cotidiano. Acho que os autores brasileiros, tanto quanto os músicos brasileiros, sempre tentam cristalizar o Brasil nas suas obras. Isso é muito bonito e inspirador e pode ir desde ‘Macário’ [de Álvares de Azevedo] a ‘Gabriela, Cravo e Canela’ [de Jorge Amado]; de Sarcófago a Caetano [Veloso]; de [Luiz] Ruffato a Cruz e Sousa; de [Chico] Buarque a Vladmir Korg. O Brasil será sempre essa amplitude e essa vastidão.”

Presente pandêmico, futuro literário

Como muitas bandas da Europa, o Moonspell teve seus planos e suas atividades afetados pela pandemia do coronavírus e, depois, pela Guerra da Ucrânia. Adaptações a essa nova realidade foram necessárias e postas em prática. Primeiro, Fernando Ribeiro reflete:

“[A pandemia e a guerra] são, sem dúvida, resultados da maneira impiedosa como o mundo é gerido pelas forças políticas e econômicas. O liberalismo/capitalismo que organiza o mundo afeta todas as profissões, incluindo a do músico.”

Então, relaciona o que de concreto pôde fazer:

“Reduzimos nosso cachê, adaptamos os termos de nosso contrato, abaixamos o preço do nosso merchandising e procuramos viver com menos, como qualquer outra pessoa que vive do seu trabalho. Viver da música, sim, mas sem exageros ou opulências.”

Se para expandir os horizontes ou complementar a renda — quem sabe ambos —, o vocalista iniciou um negócio de consultoria musical. Também editou um novo romance, “Café Kanimambo”, que será lançado em junho deste ano. A experiência na área musical influencia na literária e vice-versa?

“A Literatura será o meu futuro. Mas já me auxilia demais no presente porque ler e escrever são a minha válvula de escape sem a qual não vivo. Até na estrada tiro tempo para ler e escrever. [Música e literatura] são áreas compatíveis até, mas o que faço como autor de romances tem pouco a ver com o que faço como letrista na banda, embora existam pontos de contato, como é óbvio.”

Como na literatura não tem grandes projetos que não se divertir e se expressar, Ribeiro traça os planos para o dia em que decidir se aposentar da música:

“Uma casa pequena com uma janela grande, à beira-mar; uma garrafa de uísque single malt 18 anos; uma biblioteca [de tamanho] considerável; tempo e muita paz com o quebrar das ondas do Oceano Atlântico. Creio que já realizei todos os meus sonhos como músico.”

Todos mesmo?

“Não é bem um sonho, mas seria justo que uma banda como o Metallica ou o Iron Maiden nos levasse em turnê. Já levaram tantas bandas, mas nós nunca fomos convidados. E temos estatuto para honrar esse convite.”

Confira as datas do Moonspell no Brasil

  • 7 de abril: Porto Alegre (RS) – Bar Opinião
  • 8 de abril: Curitiba (PR) – Jokers Pub
  • 9 de abril: Limeira (SP) – Mirage Eventos
  • 11 de abril: Brasília (DF) – Toinha Brasil Show
  • 12 de abril: Belo Horizonte (MG) – Mister Rock
  • 13 de abril: São Paulo (SP) – São Paulo Metal Fest, Carioca Club

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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