Feist retorna após seis anos aliando folk com experimental em “Multitudes”

Passaram-se 16 anos desde "1234" e ela continua encontrando coisas mais interessantes para fazer em vez de tentar replicar seu maior sucesso

Leslie Feist acertou na loteria em 2007. Sua canção “1234” – presente numa propaganda de iTunes e praticamente tudo quanto é lugar naquele ano – propulsionou o álbum “The Reminder” a ter mais de 700 mil cópias vendidas nos Estados Unidos. Esse disco era a rara obra capaz de obter enorme sucesso comercial e reconhecimento até da crítica mais esnobe.

A chave pra isso é a habilidade que Feist tem para aliar uma sensibilidade pop apurada com um gosto por experimentalismo em serviço à canção. Nos trabalhos subsequentes, “Metals” (2011) e “Pleasure” (2017), a cantora canadense foi explorando cada vez mais os aspectos mais ásperos e espinhosos de sua sonoridade.

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Ela não estava necessariamente afastando quem se tornou fã por causa de “1234”, mas sim demonstrando que como artista, não teria suas músicas moldadas pela sensibilidade de mais ninguém, muito menos demandas de mercado. Os tempos entre lançamentos reforça isso. Leslie Feist não ter medo de ser esquecida.

“Multitudes”, como o nome sugere, reflete várias coisas. Nos seis anos desde “Pleasure”, Leslie Feist se tornou mãe antes da pandemia e perdeu seu pai durante. A cantora descreveu em entrevistas a dificuldade de encapsular a complexidade de ambas as situações e sua reação emocional a elas. Foi daí que o disco surgiu.

Disso e de um espetáculo intimista não tão diferente em conceito a “Lifehouse” – a ambiciosa ópera-rock frustrada do The Who que eventualmente virou “Who’s Next” (1971). Feist, juntamente com Todd Dahlhoff e Amir Yaghmai percorreram o Canadá e a Europa trabalhando nas canções do que viria a ser “Multitudes” em tempo real.

O resultado traz as marcas de material que aguentou o batismo de fogo de shows. Cada canção em “Multitudes” carrega a certeza de sua compositora na força delas. Os arranjos são simples, mas eficazes. A voz de Feist é suave, quase um suspiro melódico, capaz de cantar sobre os perigos físicos inerentes a ser mulher na última estrofe de “Of Womankind” sem precisar se esforçar para transmitir o terror da situação. Essa clareza devastadora também aparece em “Love Who We Are Meant To”:

“We will struggle with the truth
That sometimes we don’t get to
Love who we are meant to”

Outro uso notório que Feist faz de sua voz é na hora de construir harmonias. Existe tanto espaço entre os instrumentos que, quando essas aparecem, chega a ser avassalador. E quando ela decide fazer uma canção enorme, trata-se da excelente “Borrow Trouble”, na qual explode em gritos no clímax.

“Multitudes” não tem um hit como “1234”. Feist não tem mais interesse em compor algo assim. Contudo, o material pela primeira vez desde “The Reminder” apresenta o imediatismo pop em equílibrio com o experimentalismo.

Ouça “Multitudes” a seguir, via Spotify.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Feist – “Multitudes”

  1. “In Lightning”
  2. “Forever Before”
  3. “Love Who We Are Meant To”
  4. “Hiding Out In The Open”
  5. “The Redwing”
  6. “I Took All Of My Rings Off”
  7. “Of Womankind”
  8. “Become The Earth”
  9. “Borrow Trouble”
  10. “Martyr Moves”
  11. “Calling All The Gods”
  12. “Song For Sad Friends”

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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