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Jane’s Addiction faz show intenso para público sedento por hits em São Paulo

Com Josh Klinghoffer na guitarra e repertório focado nos primeiros álbuns, banda esquentou motores para o Lollapalooza em 3ª apresentação no país e 1ª em espaço fechado

Passadas as onze horas da noite, quatro músicos esgotados e empolgados não se cansavam de agradecer ao público por uma noite memorável. Em sua terceira passagem pelo Brasil, a primeira apresentação dos americanos do Jane’s Addiction em um lugar fechado no país foi quase uma reprodução da atmosfera underground focada apenas na música do grupo.

O retorno do baixista Eric Avery, membro fundador ao lado do vocalista Perry Farrell, foi responsável pela escolha do repertório focado nas músicas compostas em sua fase inicial. A ideia da turnê atual era uma reunião da formação clássica, mas Dave Navarro, em tratamento de sequelas de Covid longa, ainda não tem condições de excursionar.

- Advertisement -
Foto: Artur Satriani

No palco, a banda soou como se tocasse junta há anos. Nem pareceu que o ex-Red Hot Chili Peppers Josh Klinghoffer era o terceiro guitarrista na atual turnê a substituir Navarro. Antes dele, as seis cordas passaram por Daniel Ash (Bauhaus) e Troy Van Leeuwen (Queens of the Stone Age).

Se Navarro se caracterizava por uma presença imponente, Klinghoffer correu o palco e agitou como um menino – ainda que seus vinte anos de diferença de idade para Perry Farrell não façam dele um jovem iniciante. Essa participação cheia de energia do guitarrista contagiou o resto da banda e o público da Audio.

*Fotos de Artur Satriani / @artur_satriani. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Flop?

Público este que parecia estar fadado a ser decepcionante. Cinco minutos antes do horário programado para o começo do show, quando os fotógrafos encheram a área destinada ao seu trabalho, a Audio mal tinha metade da sua pista preenchida para o show do Jane’s Addiction.

Parcela da culpa poderia ser atribuída à greve dos metroviários na capital paulista. Mas não é como se o Jane’s Addiction, gestado no underground de Los Angeles nos anos 80 durante a febre da glamurosa cena de hard rock oitentista (ou hair metal, como prefiram), tenha angariado uma enorme quantidade de fãs no Brasil.

Diferente de seus contemporâneos californianos do Faith no More e, principalmente, do Red Hot Chili Peppers, com quem mantém uma relação quase incestuosa – além de Klinghoffer, Navarro integrou o RHCP 1993 e 1998, assim como Flea já gravou e tocou com o Jane’s em sua primeira reunião em 1997 –, o grupo de Perry Farrell não tocou em algum dos gigantes festivais do país para impulsioná-los além da rotação de seus clipes na então nascente MTV Brasil.

Encerrar as atividades ao implodir internamente às vésperas do estouro do Nirvana também não permitiu à banda surfar na onda do sucesso do rock alternativo, do qual o Jane’s Addiction não foi só uma das maiores inspirações, como corresponsável por impulsionar com seu festival itinerante Lollapalooza, lançado em 1991.

Além de uma certa impaciência do público ao percussivo e repetitivo som ambiente, um atraso de meia-hora para começar o show serviu para dissipar a sensação de vazio, ao permitir que todos entrassem e se acomodassem sem apertos ao longo de toda a pista, sem separações para “vips” ou “premiums”.

Foto: Artur Satriani

Sem distrações

O Jane’s Addiction subiu a um palco mal iluminado, cheio de fumaça, com todos os músicos vestidos de preto, por volta de 21h30, com “Up the Beach”. O tema quase instrumental, cheio de solos etéreos de guitarra, registrado em seu primeiro trabalho de estúdio, “Nothing’s Shocking”, de 1988, deixou claro que a noite seria focada primordialmente em sua música, sem distrações teatrais, como em apresentações anteriores no país.

Foto: Artur Satriani

A sequência inicial com “Trip Away” e “Whores”, as duas músicas que abrem seu disco de estreia homônimo, gravado ao vivo e lançado por uma pequena gravadora indie em 1987, trouxe uma resposta mais contemplativa do público – ainda que os músicos tenham agitado bastante no palco.

Foto: Artur Satriani

Em “Whores”, Perry Farrell chamou algumas dançarinas pela primeira vez ao palco, que continha plataformas sobre a bateria e em suas laterais usadas pelas moças para dar um ar mais burlesco à apresentação. A cena se repetiria em outras músicas ao longo da noite, mas jamais despertaria uma reação muito além do que elevar a quantidade de celulares filmando a banda.

Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

A resposta não evoluiu tanto quando Farrell, comunicando-se ao público com seu jeitão meio zen, anunciou “No One’s Leaving”, música que retrata a reação irascível de seus pais a um namoro interracial de sua irmã. Foi a primeira faixa executada na noite de seu álbum de maior sucesso, “Ritual de Lo Habitual” (1990), que chegou ao top 20 da Billboard e recebeu disco duplo de platina nos Estados Unidos.

Tudo mudou quando Eric Avery começou a introdução de baixo de “Ain’t no Right”, primeiro hit da noite, também do álbum de 1990. Os primeiros versos já foram acompanhados em coro pelo público e finalmente o show parecia ter decolado.

Da introspecção à descontração

O resto da apresentação, porém, não deixou de lado faixas longas e introspectivas, como “Ted, Just Admit it”, “Then She Did It” e “Three Days”, com destaque ao entrosamento da formação atual da banda e à fiel execução das partes de guitarra pelo empolgado Josh Klinghoffer.

Foto: Artur Satriani

Também houve momentos de maior descontração, como a percussiva “Chip Away”. Aqui, todos da banda seguiram à frente do palco e tocaram tambores para acompanhar Perry Farrell, liderados pelo baterista Stephen Perkins, que chamava o público a bater palmas.

Foto: Artur Satriani

Na sequência, os ânimos baixaram um pouco com a levada mais atmosférica de “Kettle Whistle”, faixa lançada na coletânea de mesmo nome em 1997, durante a primeira reunião do Jane’s Addiction com Flea no baixo. Era a única da noite sem uma versão de estúdio gravada por Eric Avery, apesar de ser uma composição da fase inicial do grupo.

Foto: Artur Satriani

Na espera por hits

Como ficou claro ao “Obvious” passar quase despercebida, o público esperava mesmo pelos hits. E quando vieram “Mountain Song” e “Stop!”, que encerrou a primeira parte da apresentação, a pista foi dominada por uma reação animada de fãs não demonstrando a falta de cabelos e as barbas grisalhas de quem agitava como se fosse um show nos anos 1990 no Olympia, finada casa de shows paulistana.

Depois de uma ligeira pausa, a banda voltou para o bis como Eric Avery empunhando o violão para “Jane Says”, uma das primeiras composições do grupo, retratando a amiga que inspirou o nome da banda. Sua letra também foi acompanhada pelo público e deixou claramente emocionado Perry Farrell, que há tempos bebericava do gargalo de sua garrafa de vinho.

Foto: Artur Satriani

A animada “Been Caught Stealing”, outro hit da banda, veio como ponto final da noite para reação enérgica e num alto volume do público. Abriu espaço para que os músicos, após executarem a última música da apresentação, viessem bem empolgados se despedir dos paulistanos.

Nos repertórios espalhados pelo chão do palco, havia a previsão de que o Jane’s Addiciton ainda tocasse “Oceansize”. Talvez cansados depois de mais de uma hora e meia agitando no palco, ou sem esperar uma reação maior do que em “Been Caught Stealing”, a catártica faixa de “Nothing’s Shocking” foi deixada de lado. Uma pena. Mas, na hora, ninguém percebeu.

*Fotos de Artur Satriani / @artur_satriani. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Jane’s Addiction – ao vivo em São Paulo

  • Local: Audio
  • Data: 23 de março de 2023
  • Turnê: 2023 North & South America

Repertório:

  1. Up the Beach
  2. Trip Away
  3. Whores
  4. No One’s Leaving
  5. Ain’t No Right
  6. Ted, Just Admit It…
  7. Then She Did…
  8. Obvious
  9. Chip Away
  10. Kettle Whistle
  11. Mountain Song
  12. Three Days
  13. Stop!

Bis:

  1. Jane Says
  2. Been Caught Stealing

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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Passadas as onze horas da noite, quatro músicos esgotados e empolgados não se cansavam de agradecer ao público por uma noite memorável. Em sua terceira passagem pelo Brasil, a primeira apresentação dos americanos do Jane’s Addiction em um lugar fechado no país foi quase uma reprodução da atmosfera underground focada apenas na música do grupo.

O retorno do baixista Eric Avery, membro fundador ao lado do vocalista Perry Farrell, foi responsável pela escolha do repertório focado nas músicas compostas em sua fase inicial. A ideia da turnê atual era uma reunião da formação clássica, mas Dave Navarro, em tratamento de sequelas de Covid longa, ainda não tem condições de excursionar.

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Foto: Artur Satriani

No palco, a banda soou como se tocasse junta há anos. Nem pareceu que o ex-Red Hot Chili Peppers Josh Klinghoffer era o terceiro guitarrista na atual turnê a substituir Navarro. Antes dele, as seis cordas passaram por Daniel Ash (Bauhaus) e Troy Van Leeuwen (Queens of the Stone Age).

Se Navarro se caracterizava por uma presença imponente, Klinghoffer correu o palco e agitou como um menino – ainda que seus vinte anos de diferença de idade para Perry Farrell não façam dele um jovem iniciante. Essa participação cheia de energia do guitarrista contagiou o resto da banda e o público da Audio.

*Fotos de Artur Satriani / @artur_satriani. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Flop?

Público este que parecia estar fadado a ser decepcionante. Cinco minutos antes do horário programado para o começo do show, quando os fotógrafos encheram a área destinada ao seu trabalho, a Audio mal tinha metade da sua pista preenchida para o show do Jane’s Addiction.

Parcela da culpa poderia ser atribuída à greve dos metroviários na capital paulista. Mas não é como se o Jane’s Addiction, gestado no underground de Los Angeles nos anos 80 durante a febre da glamurosa cena de hard rock oitentista (ou hair metal, como prefiram), tenha angariado uma enorme quantidade de fãs no Brasil.

Diferente de seus contemporâneos californianos do Faith no More e, principalmente, do Red Hot Chili Peppers, com quem mantém uma relação quase incestuosa – além de Klinghoffer, Navarro integrou o RHCP 1993 e 1998, assim como Flea já gravou e tocou com o Jane’s em sua primeira reunião em 1997 –, o grupo de Perry Farrell não tocou em algum dos gigantes festivais do país para impulsioná-los além da rotação de seus clipes na então nascente MTV Brasil.

Encerrar as atividades ao implodir internamente às vésperas do estouro do Nirvana também não permitiu à banda surfar na onda do sucesso do rock alternativo, do qual o Jane’s Addiction não foi só uma das maiores inspirações, como corresponsável por impulsionar com seu festival itinerante Lollapalooza, lançado em 1991.

Além de uma certa impaciência do público ao percussivo e repetitivo som ambiente, um atraso de meia-hora para começar o show serviu para dissipar a sensação de vazio, ao permitir que todos entrassem e se acomodassem sem apertos ao longo de toda a pista, sem separações para “vips” ou “premiums”.

Foto: Artur Satriani

Sem distrações

O Jane’s Addiction subiu a um palco mal iluminado, cheio de fumaça, com todos os músicos vestidos de preto, por volta de 21h30, com “Up the Beach”. O tema quase instrumental, cheio de solos etéreos de guitarra, registrado em seu primeiro trabalho de estúdio, “Nothing’s Shocking”, de 1988, deixou claro que a noite seria focada primordialmente em sua música, sem distrações teatrais, como em apresentações anteriores no país.

Foto: Artur Satriani

A sequência inicial com “Trip Away” e “Whores”, as duas músicas que abrem seu disco de estreia homônimo, gravado ao vivo e lançado por uma pequena gravadora indie em 1987, trouxe uma resposta mais contemplativa do público – ainda que os músicos tenham agitado bastante no palco.

Foto: Artur Satriani

Em “Whores”, Perry Farrell chamou algumas dançarinas pela primeira vez ao palco, que continha plataformas sobre a bateria e em suas laterais usadas pelas moças para dar um ar mais burlesco à apresentação. A cena se repetiria em outras músicas ao longo da noite, mas jamais despertaria uma reação muito além do que elevar a quantidade de celulares filmando a banda.

Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

A resposta não evoluiu tanto quando Farrell, comunicando-se ao público com seu jeitão meio zen, anunciou “No One’s Leaving”, música que retrata a reação irascível de seus pais a um namoro interracial de sua irmã. Foi a primeira faixa executada na noite de seu álbum de maior sucesso, “Ritual de Lo Habitual” (1990), que chegou ao top 20 da Billboard e recebeu disco duplo de platina nos Estados Unidos.

Tudo mudou quando Eric Avery começou a introdução de baixo de “Ain’t no Right”, primeiro hit da noite, também do álbum de 1990. Os primeiros versos já foram acompanhados em coro pelo público e finalmente o show parecia ter decolado.

Da introspecção à descontração

O resto da apresentação, porém, não deixou de lado faixas longas e introspectivas, como “Ted, Just Admit it”, “Then She Did It” e “Three Days”, com destaque ao entrosamento da formação atual da banda e à fiel execução das partes de guitarra pelo empolgado Josh Klinghoffer.

Foto: Artur Satriani

Também houve momentos de maior descontração, como a percussiva “Chip Away”. Aqui, todos da banda seguiram à frente do palco e tocaram tambores para acompanhar Perry Farrell, liderados pelo baterista Stephen Perkins, que chamava o público a bater palmas.

Foto: Artur Satriani

Na sequência, os ânimos baixaram um pouco com a levada mais atmosférica de “Kettle Whistle”, faixa lançada na coletânea de mesmo nome em 1997, durante a primeira reunião do Jane’s Addiction com Flea no baixo. Era a única da noite sem uma versão de estúdio gravada por Eric Avery, apesar de ser uma composição da fase inicial do grupo.

Foto: Artur Satriani

Na espera por hits

Como ficou claro ao “Obvious” passar quase despercebida, o público esperava mesmo pelos hits. E quando vieram “Mountain Song” e “Stop!”, que encerrou a primeira parte da apresentação, a pista foi dominada por uma reação animada de fãs não demonstrando a falta de cabelos e as barbas grisalhas de quem agitava como se fosse um show nos anos 1990 no Olympia, finada casa de shows paulistana.

Depois de uma ligeira pausa, a banda voltou para o bis como Eric Avery empunhando o violão para “Jane Says”, uma das primeiras composições do grupo, retratando a amiga que inspirou o nome da banda. Sua letra também foi acompanhada pelo público e deixou claramente emocionado Perry Farrell, que há tempos bebericava do gargalo de sua garrafa de vinho.

Foto: Artur Satriani

A animada “Been Caught Stealing”, outro hit da banda, veio como ponto final da noite para reação enérgica e num alto volume do público. Abriu espaço para que os músicos, após executarem a última música da apresentação, viessem bem empolgados se despedir dos paulistanos.

Nos repertórios espalhados pelo chão do palco, havia a previsão de que o Jane’s Addiciton ainda tocasse “Oceansize”. Talvez cansados depois de mais de uma hora e meia agitando no palco, ou sem esperar uma reação maior do que em “Been Caught Stealing”, a catártica faixa de “Nothing’s Shocking” foi deixada de lado. Uma pena. Mas, na hora, ninguém percebeu.

*Fotos de Artur Satriani / @artur_satriani. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Jane’s Addiction – ao vivo em São Paulo

  • Local: Audio
  • Data: 23 de março de 2023
  • Turnê: 2023 North & South America

Repertório:

  1. Up the Beach
  2. Trip Away
  3. Whores
  4. No One’s Leaving
  5. Ain’t No Right
  6. Ted, Just Admit It…
  7. Then She Did…
  8. Obvious
  9. Chip Away
  10. Kettle Whistle
  11. Mountain Song
  12. Three Days
  13. Stop!

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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