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Crown Lands traz prog ecológico e de responsabilidade social em “Fearless”

Temática destemida e musicalidade diversificada caracterizam segundo álbum do jovem duo canadense

“De Rush a Paul Simon, de Led Zeppelin a John Prine. Rock progressivo, mas não como você conhece”, diz a biografia que consta do site oficial do Crown Lands. Ao menos no que diz respeito ao componente musical da equação, há controvérsias.

Isso porque o cantor e baterista Cody Bowles e o guitarrista e tecladista Kevin Comeau caminham sobre solo previamente pisoteado. Mesmo a mistura de ingredientes tipicamente prog a outros mais frequentemente associados ao folk e a outros estilos do cancioneiro tradicional norte-americano não é inédita.

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Inédito talvez seja o fato de dois caras na casa dos vinte e poucos anos estarem dispostos a nadar contra a corrente de tal forma. Para repelir ainda mais qualquer viabilidade comercial, em “Fearless”, seu segundo álbum de estúdio, a dupla segue apostando num background temático de múltiplos apelos impopulares entre o ouvinte médio de prog; de viagens interestelares e incursões à Terra Média a causas LGBTQIAP+ e dos povos originários da América do Norte expressas de maneira figurativa.

Com o perdão do trocadilho, “Fearless” abre destemido com “Starlifter: Fearless Pt. II”, um “disco dentro do disco” com 18 minutos de duração. Uma qualidade musical suprema se faz notar, mas são tantas as quebras de andamento, variações e até mesmo acenos a diferentes referenciais — como o Genesis de “Selling England by the Pound” (1973) e, com mais contundência, o Rush na fase pré-paletó do Didi — que é impossível não chamá-la de “música feita para músico”.

Passado o laboratório de teoria e prática musical — e deixando de lado a dissidência prog-indie “Context: Fearless Pt. I” —, “Fearless” vai se desdobrando em canções mais direto ao ponto e revelando outras águas das quais Bowles e Comeau beberam.

“Dreamer of the Dawn” é o típico AOR yuppie oitentista. De refrão quase metal com show de interpretação de Bowles, “The Shadow” tem uma pegada mais cáustica e eleva a carga dramática à estratosfera. Já “Right Way Back” reúne o que há de mais elementar no cânone do Deep Purple setentista sem copiar timbres de outrora. A instrumental “Penny” traz o violão para a linha de frente e, novamente, temos a certeza de que os Steves Howe e Hackett estão entre os artistas de cabeceira de Comeau.

Encerram o álbum “Lady of the Lake” — já a quarta faixa mais ouvida do duo nas plataformas digitais — e a meditativa “Citadel” em cujo âmago metafórico e fantasioso repousa uma mensagem de obstinação e luta por justiça que não poderia soar mais atual e/ou necessária.

Ao término de seus 58 minutos, “Fearless” deixa a impressão de que o Crown Lands, não obstante a pouca idade de seus integrantes e o relativo pouco tempo de estrada — sua formação se deu em 2015 —, tem tudo para ocupar um posto ainda vago no rock contemporâneo: o de caras do prog tão preocupados com a estética do seu som quanto com o mundo a seu redor.

Ouça “Fearless” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

https://open.spotify.com/album/7pksbj88zVcexbacR0GfrP

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Crown Lands – “Fearless”

  1. Starlifter: Fearless Pt. II
  2. Dreamer Of The Dawn
  3. The Shadow
  4. Right Way Back
  5. Context: Fearless Pt. I
  6. Reflections
  7. Penny
  8. Lady Of The Lake
  9. Citadel

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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