O lado A do LP original de “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd, fecha com uma de suas músicas mais emblemáticas: “The Great Gig in the Sky”. Seu nascimento ocorreu através de uma composição do tecladista Richard Wright, em meio a testes de sons, mas foi por intermédio da cantora Clare Torry que se tornou a obra que todos conhecemos.
Criada para ser uma espécie de êxtase religioso sobre a questão da morte, “The Great Gig in the Sky” inicialmente contava com mais vozes sobre o instrumental, o que incluía trechos da Bíblia lidos por um fanático religioso da época. A banda também tentou usar arquivos da Nasa das vozes de astronautas em missões espaciais. Só não ficava tão bom quanto queria. Daí veio uma sugestão do engenheiro de som Alan Parsons que fez a diferença no resultado final.
Alan Parsons convida Clare Torry
Durante as sessões, Alan Parsons sugeriu que “The Great Gig in the Sky” contasse com uma voz feminina por cima do instrumental. O profissional, inclusive, tinha o nome certo para isso: uma jovem cantora britânica chamada Clare Torry, de quem os músicos do Pink Floyd nunca tinham ouvido falar.
Com apenas 25 anos na época, ela trabalhava como compositora contratada de uma empresa ligada à gravadora EMI. Chegou a lançar alguns trabalhos entre o final dos anos 1960 e início dos 1970, sem destaque.
A gravação de “The Great Gig in the Sky”
Depois de adiar a gravação por ter ingressos para um show de Chuck Berry na data original, Clare Torry foi recebida em estúdio pelos músicos do Pink Floyd. O guitarrista e vocalista David Gilmour ficou encarregado de explicar a ela o que deveria ser feito. O problema é que nem eles sabiam, como deixou claro a própria cantora em entrevista de 2005.
“Eu cheguei e eles disseram ‘bem, estamos fazendo esse álbum e tem essa faixa – e nós realmente não sabemos o que fazer com ela’. Eles me disseram que o álbum era sobre nascimento, morte e tudo o que tem entre os dois. E eu disse ‘bem, toquem a música para mim’. Eles tocaram e eu disse: ‘bem, o que vocês querem?’. E eles disseram: ‘nós não sabemos’.”
O jeito foi improvisar e Torry começou a cantar palavras genéricas como “oh baby”. Logo, Gilmour a interrompeu e pediu notas mais longas. Após algumas tentativas, a artista teve a ideia que ouvimos na versão final, ao pensar em sua voz como se fosse um instrumento musical a mais – o que gerou o famoso lamento que acompanha a música.
Ao todo foram registrados apenas dois takes, com um terceiro interrompido pela própria Torry, que achou que já soava repetitiva. Ela recebeu seu pagamento de 30 libras pelo trabalho e foi para casa achando que sua voz não seria usada no álbum.
Mal sabia ela que sua performance havia impressionado os músicos do Pink Floyd – embora ninguém tivesse deixado isso claro na hora e os próprios integrantes desconfiassem que ela fosse a pessoa certa, como Gilmour relembrou em entrevista à Rolling Stone.
“Clare Torry realmente não parecia adequada. Ela foi ideia de Alan Parsons. Queríamos colocar uma garota lá, gritando orgasticamente. Alan já havia trabalhado com ela anteriormente, então demos uma chance. E ela foi fantástica. Tivemos que incentivá-la um pouco. Demos a ela algumas dicas dinâmicas: ‘talvez você queira fazer esta parte silenciosamente e aquela parte mais alto’. Ela fez alguns takes e depois compilamos a performance final de todas as partes. Não foi feito de uma vez.”
Sucesso e participação ao vivo
A versão final de “The Great Gig in the Sky” foi feita a partir de trechos dos três takes gravados por Clare Torry. Ela própria só teve a confirmação de que seu trabalho havia sido usado quando viu o disco em uma loja e encontrou seu nome nos créditos. Torry ainda cantou sua parte da música em um evento beneficente ocorrido em novembro de 1973, meses após o lançamento de “The Dark Side of the Moon”.
Enquanto o álbum se tornaria um clássico absoluto em popularidade e números, pouca coisa mudou para a cantora. Ela continuou a trabalhar como backing vocal de estúdio, em músicas de artistas como Meat Loaf, Dolly Parton, Culture Club, Olivia Newton-John, The Alan Parsons Project, entre outros. Participou também de turnês solo de Roger Waters nos anos 1980, além dos álbuns “When the Wind Blows” (trilha sonora de 1986) e “Radio K.A.O.S.” (1987).
Em 1990, veio a grande surpresa. No grandioso show que o Pink Floyd fez em Knebworth, quando promovia o ao vivo “Delicate Sound of Thunder” (1988), Clare Torry cantou ao vivo suas partes em “The Great Gig in the Sky”. Ela não trabalhava com a banda desde 1973.
Processo contra o Pink Floyd
A história da parceria, infelizmente, não acabou de forma amigável. Em 2004, após se aposentar temporariamente da música, Clare Torry processou o Pink Floyd por direitos autorias em relação aos vocais de “The Great Gig in the Sky”.
Não se sabe os valores, mas houve um acordo extrajudicial e a cantora recebeu retroativos, além de ser creditada como compositora da música desde então. Ao julgar pelos comentários dela em 2005, o motivo do processo parece ter sido financeiro.
“Durante vários anos, as pessoas me perguntaram sobre isso. Cheguei a pensar no assunto, mas as custas seriam altíssimas. Tive que engolir, não queria ficar com fama de ‘criadora de caso’. Quando me retirei do meio musical, reconsiderei.”
Em 2006, Torry ainda lançou um álbum intitulado “Heaven in the Sky”, que consiste em uma coletânea de músicas gravadas por ela entre os anos 60 e 70. Pouco se ouviu falar sobre ela depois disso.
Apesar de tardio, o processo movido por ela contra o Pink Floyd é considerado justo, já que a voz da cantora e as linhas melódicas criadas por ela foram decisivas para que “The Great Gig in the Sky” e consequentemente “The Dark Side of the Moon” serem o que são.
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Ouço DSoM desde os anos 70. Está entre os melhores LPs de todos os tempos.
“The Great Gig in The Sky”engrandece muito o disco. Já ouvi outras intérpretes tentando canta-la, mas não passam nem perto da interpretação da Clare.
Com certeza ela merecia muito mais do que ganhou originalmente pelo trabalho.
linda música…mas penso…que ela com o tempo foi sendo aperfeiçoada…para mim…durga…claudia fontaine e principalmente Sam Brown no pulse…foi onde ela chegou na sua versão definitiva…o que a Sam Brown faz na sua vez… é simplesmente lindíssima…so minha opinião…abc a todos.
O processo foi justo. Penso eu que a banda deveria ter repensado o cachê dela até mesmo antes do lançamento do disco.
La voz de Clare Torry en este tema es espectacular, pero las versiones de Rachel Fury y de Sam Brown son superiores por lejos.