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Entrevista: Doug Aldrich celebra nova fase do Dead Daisies e relembra Whitesnake e Dio

Supergrupo com Glenn Hughes no vocal e baixo lançou o álbum “Radiance” no fim de 2022; guitarrista celebrou momento atual e relembrou passado com carinho

O The Dead Daisies é tão produtivo quanto rotativo. O supergrupo liderado pelo guitarrista David Lowy lançou no fim de 2022 seu sexto álbum de estúdio, “Radiance”, sem repetir formação. Ainda assim, dá para dizer que a banda voltou a encontrar estabilidade – não apenas pela manutenção do também guitarrista Doug Aldrich como, também, pela continuidade do lendário Glenn Hughes nos vocais e baixo. Até a única mudança em comparação ao trabalho anterior remeteu a outros momentos do projeto, já que o baterista Brian Tichy reassumiu a vaga que foi dele em 2013 e de 2015 a 2017.

Em conversa com o site, Aldrich compartilhou diversos detalhes e impressões a respeito de “Radiance” e do momento atual dos Daisies. Também notório por ter integrado o Whitesnake e o Dio, banda do saudoso vocalista Ronnie James Dio, o guitarrista aproveitou a ocasião para relembrar ambos os trabalhos.

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*A entrevista pode ser assistida no vídeo abaixo (com legendas em português) ou lida nos parágrafos seguintes. A versão em texto conta com ligeiras edições para melhor adequação à leitura.

Fruto da pandemia

“Radiance” é mais um daqueles álbuns que só foram feitos por culpa da pandemia. Doug Aldrich destaca que as músicas presentes no material começaram a ser trabalhadas em 2020, um ano antes do disco anterior, “Holy Ground”, ter saído. Com os sucessivos adiamentos de turnês causados pela Covid, os integrantes decidiram gravar outro trabalho.

Como destacado em resenha publicada no site, as letras também trazem uma mensagem claramente alinhada aos sentimentos provocados pelos tempos pandêmicos. Glenn Hughes, autor de boa parte dos versos, buscou soar mais positivo do que nunca – embora as melodias estejam cada vez mais pesadas. São os “heavy grooves”, como define Aldrich: heavy, mas sem perder o groove.

“Não planejamos soar mais pesados, veio naturalmente. Eu tinha alguns riffs, Glenn também. Quando Ben (Grosse) começou a produzir, simplesmente ficou mais pesado. Coloquei um plugin da SansAmp no baixo de Glenn que deu uma vibe estilo amplificador valvulado distorcido. Ele gostou muito e soava legal com as guitarras. Deixava mais agressivo.”

Curiosamente, o sucessor de “Holy Ground” seria inicialmente um projeto conceitual. Aldrich disse que as letras contariam a história de um homem que enfrenta obstáculos – e os supera – durante uma jornada em sua vida.

“É meio como as letras dele são normalmente, elas já são muito espirituais, mas havia uma narrativa definida. Quando começamos com ‘Radiance’, achamos que não era a hora certa para um álbum conceitual. Era durante a Covid. Achamos que talvez, dependendo do quanto aquilo durasse, poderia ser algo bem interessante, mas no fim das contas, queríamos fazer outro álbum de rock pesado. Algumas das canções eram mais tranquilas.”

O baterista-guitarrista e a alta rotatividade

Como destacado anteriormente, “Radiance” marca o retorno do experiente Brian Tichy, que já tocou com Ozzy Osbourne, Billy Idol, Velvet Revolver, Foreigner, Slash’s Snakepit, entre muitos outros. Doug Aldrich é um velho conhecido do baterista, visto que ambos trabalharam juntos no Whitesnake entre 2010 e 2013. A parceria voltou a dar certo, em especial porque Tichy também é um competente guitarrista.

“Brian chegava em estúdio e queria ouvir o que eu estava fazendo, dando sugestões. Meio que temos uma telepatia porque ele toca guitarra e conhece meu estilo, o que sei fazer e o que não consigo fazer. E ele tem grandes ideias. Na bateria, ele leva tudo a um outro nível. É o baterista que mais gostei de ter trabalhado até hoje. Já trabalhei com tantos: de Carmine Appice a Simon Phillips, Jason Bonham, Aynsley Dunbar, Mikkey Dee, mas Brian Tichy é, considerando tudo, o melhor baterista com quem já trabalhei. É supermusical. Parece tocar forte, mas só parece, pois ele toca com finesse. Tem muito groove.”

Embora a alta rotatividade de integrantes seja uma das marcas do The Dead Daisies – são 16 ex-integrantes em 11 anos de existência –, Aldrich pode ser considerado um “veterano” da formação, pois faz parte do grupo desde 2016. Ao ser perguntado sobre o que motivou sua continuidade na banda, o guitarrista explicou ser grande amigo de todos com quem tocou até agora.

“Sou amigo desses músicos minha carreira inteira. Encontrei com Brian algumas vezes antes do Whitesnake, mas lá começamos uma amizade muito boa. Conheço John Corabi (vocalista entre 2015 e 2019) desde garoto. Deen Castronovo (baterista entre 2017 e 2021) e eu temos um longo passado, assim como Marco Mendoza (baixista entre 2013 e 2019), por conta do Whitesnake, embora o tenha conhecido em 1995. É um negócio meio livre na banda. Fizemos muitas coisas com John e ele ficou desgastado, nós queríamos seguir, mas ele queria tirar um tempo de descanso e tinha algumas coisas solo rolando, assim como Marco.”

Até mesmo Glenn Hughes tinha uma relação prévia com Doug, já que ambos tocaram juntos no passado.

“No caso de Glenn, empresários ligaram para ele, pois ele estava em sua turnê em tributo ao Deep Purple.  Perguntaram o que eu achava e eu perguntei se estavam brincando, pois seria incrível. E eu gosto muito de trabalhar com David, ele é muito pé no chão, embora seja o fundador. Todos colaboramos, mas David traz exuberância ao grupo e só temos a agradecer.”

Revolution Saints e Whitesnake

Recentemente, Doug Aldrich surpreendeu a todos ao anunciar que tanto ele quanto o baixista e vocalista Jack Blades estavam fora do Revolution Saints, outro de seus projetos. O grupo liderado por Deen Castronovo, que também assume o microfone principal por aqui, foi reformado com Joel Hoekstra (curiosamente o substituto de Aldrich no Whitesnake) na guitarra e Jeff Pilson (ex-Dokken, Foreigner) no baixo.

Perguntado sobre as razões da saída, Doug inicialmente brincou ao dizer “a gente foi demitido”. Segundos depois, admitiu a piada e explicou o que realmente rolou.

“Eu ia inventar algo como ‘Deen descobriu que estávamos tirando dinheiro extra do banco’. Mas, não, foi totalmente amigável. Adoro Deen; Joel Hoekstra e eu somos amigos; Jeff é um dos melhores caras, assim como Jack Blades. Mas tanto Jack quanto eu estávamos sentindo tipo: ‘ok, fizemos três álbuns, foi bem legal, mas isso não é uma banda’. As pessoas perguntavam quando iríamos tocar ao vivo e não tinha como fazer isso. Deen estava ocupado com o Journey, daí Deen e eu estávamos no Dead Daisies juntos, mas Jack estava ocupado com o Night Ranger. Nunca deu para alinhar. Então, depois de ‘Rise’ (álbum de 2020), achei que era uma boa hora para pedir as contas, pois não me sentia legal com a ideia de não fazer turnês.”

Embora tenha circulado por diversos grupos, Doug Aldrich é especialmente notório por ter integrado o Whitesnake, de 2003 a 2014, e o Dio, entre 2002 e 2003 (além das voltas temporárias em 2005 e 2009). A relação com os líderes de ambas as bandas, os vocalistas David Coverdale e Ronnie James Dio, é para lá de especial.

No caso de Coverdale, Aldrich foi o braço-direito da reformulação do Whitesnake após uma década de 1990 marcada por hiatos e instabilidade. A volta do grupo foi sacramentada há duas décadas – e mesmo fora há 9 anos, o guitarrista não esconde seu orgulho por ter participado disso.

“Foi uma honra. Era tão empolgante fazer parte daquela banda com Marco (Mendoza), Tommy (Aldridge, baterista), Reb (Beach, guitarrista), Timothy (Drury, tecladista). David e eu nos demos bem de cara. Somos almas parecidas. Eu era fã desde antes da banda ser popular nos Estados Unidos, antes de ‘Slide it In’ (1984). Eu trabalhava com um vocalista muito fã de David Coverdale e ele tinha os primeiros trabalhos do Whitesnake. Eu amava o Whitesnake dos primórdios. Então, quando entrei, David apreciava eu conhecer o passado dele.”

Para manter-se ao lado de Coverdale, Aldrich abdicou do trabalho com Dio. O falecido cantor o havia chamado para retornar de vez em 2005, mas a promessa de trabalhar em material inédito com o Whitesnake fez com que o convite fosse recusado.

“Eu estava substituindo alguém no Dio na mesma época, em 2005, e eu estava no Whitesnake há três anos. Ronnie falou: ‘quero você de volta’. E eu falei pro David: ‘se vou continuar com você, a gente precisa fazer músicas novas’. Não dava para ficar dependendo do passado. Vamos fazer música nova pra falar de coisas novas. Havia um grupo enorme de jovens que estavam descobrindo o Whitesnake. Então quando fizemos as quatro primeiras canções no disco ao vivo (‘Live… in the Shadow of the Blues’) e então ‘Good to Be Bad’. Foi ótimo criar música junto com ele. E a gente entrou no embalo.”

Os tempos com Ronnie James Dio

Tal situação, infelizmente, impediu que Doug Aldrich seguisse com Ronnie James Dio e gravasse outro álbum além de “Killing the Dragon” (2002), seu único disco de estúdio ao lado do baixinho. Ainda assim, as lembranças dos tempos com o ex-vocalista do Rainbow e Black Sabbath são ótimas, como recorda o guitarrista.

“Eu não estaria aqui falando com você agora se não fosse pelo Ronnie. Guitarristas me conheciam de trabalhos passados, mas Ronnie me expôs ao mundo e me fez um músico melhor. Ele me pediu pra fazer parte da banda dele em 1989 e eu não queria sair da minha banda naquela época (Lion). Então, uma década depois, ele me chamou de novo. Fomos num pub e ele me disse que eu começaria no dia seguinte. Fui para o estúdio com minha guitarra e meu amplificador, segui para o porta-malas tirar tudo e um homem enorme apareceu: ‘não toca nisso, você é o guitarrista, você não carrega mais amp’. O nome dele é Turbo, Scott Turbo, o segurança de Ronnie. De repente, minhas mãos eram preciosas. Era como fazer parte de uma família.”

O músico destacou ainda que Ronnie sabia como tirar o melhor dele, o que se provou nas sessões de composição para “Killing the Dragon”.

“Ronnie tinha uma revista de palavras cruzadas e ficava sentado fazendo, eu ficava atrás, em pé tocando guitarra. Aí eu tocava algo e perguntava: ‘o que você acha?’ Ele reagia com um ‘quê?’, com um ‘não, está ótimo, eu adorei’ ou dava alguma sugestão. Com as bases, ele era tranquilo. Com os solos, ele dizia… acho que um dos que ele gostou bastante foi ‘Better in the Dark’, ele chegou a me comparar ao (Ritchie) Blackmore. Foi uma honra e um privilégio trabalhar com ele”, pontuou.

Ouça “Radiance” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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O The Dead Daisies é tão produtivo quanto rotativo. O supergrupo liderado pelo guitarrista David Lowy lançou no fim de 2022 seu sexto álbum de estúdio, “Radiance”, sem repetir formação. Ainda assim, dá para dizer que a banda voltou a encontrar estabilidade – não apenas pela manutenção do também guitarrista Doug Aldrich como, também, pela continuidade do lendário Glenn Hughes nos vocais e baixo. Até a única mudança em comparação ao trabalho anterior remeteu a outros momentos do projeto, já que o baterista Brian Tichy reassumiu a vaga que foi dele em 2013 e de 2015 a 2017.

Em conversa com o site, Aldrich compartilhou diversos detalhes e impressões a respeito de “Radiance” e do momento atual dos Daisies. Também notório por ter integrado o Whitesnake e o Dio, banda do saudoso vocalista Ronnie James Dio, o guitarrista aproveitou a ocasião para relembrar ambos os trabalhos.

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*A entrevista pode ser assistida no vídeo abaixo (com legendas em português) ou lida nos parágrafos seguintes. A versão em texto conta com ligeiras edições para melhor adequação à leitura.

Fruto da pandemia

“Radiance” é mais um daqueles álbuns que só foram feitos por culpa da pandemia. Doug Aldrich destaca que as músicas presentes no material começaram a ser trabalhadas em 2020, um ano antes do disco anterior, “Holy Ground”, ter saído. Com os sucessivos adiamentos de turnês causados pela Covid, os integrantes decidiram gravar outro trabalho.

Como destacado em resenha publicada no site, as letras também trazem uma mensagem claramente alinhada aos sentimentos provocados pelos tempos pandêmicos. Glenn Hughes, autor de boa parte dos versos, buscou soar mais positivo do que nunca – embora as melodias estejam cada vez mais pesadas. São os “heavy grooves”, como define Aldrich: heavy, mas sem perder o groove.

“Não planejamos soar mais pesados, veio naturalmente. Eu tinha alguns riffs, Glenn também. Quando Ben (Grosse) começou a produzir, simplesmente ficou mais pesado. Coloquei um plugin da SansAmp no baixo de Glenn que deu uma vibe estilo amplificador valvulado distorcido. Ele gostou muito e soava legal com as guitarras. Deixava mais agressivo.”

Curiosamente, o sucessor de “Holy Ground” seria inicialmente um projeto conceitual. Aldrich disse que as letras contariam a história de um homem que enfrenta obstáculos – e os supera – durante uma jornada em sua vida.

“É meio como as letras dele são normalmente, elas já são muito espirituais, mas havia uma narrativa definida. Quando começamos com ‘Radiance’, achamos que não era a hora certa para um álbum conceitual. Era durante a Covid. Achamos que talvez, dependendo do quanto aquilo durasse, poderia ser algo bem interessante, mas no fim das contas, queríamos fazer outro álbum de rock pesado. Algumas das canções eram mais tranquilas.”

O baterista-guitarrista e a alta rotatividade

Como destacado anteriormente, “Radiance” marca o retorno do experiente Brian Tichy, que já tocou com Ozzy Osbourne, Billy Idol, Velvet Revolver, Foreigner, Slash’s Snakepit, entre muitos outros. Doug Aldrich é um velho conhecido do baterista, visto que ambos trabalharam juntos no Whitesnake entre 2010 e 2013. A parceria voltou a dar certo, em especial porque Tichy também é um competente guitarrista.

“Brian chegava em estúdio e queria ouvir o que eu estava fazendo, dando sugestões. Meio que temos uma telepatia porque ele toca guitarra e conhece meu estilo, o que sei fazer e o que não consigo fazer. E ele tem grandes ideias. Na bateria, ele leva tudo a um outro nível. É o baterista que mais gostei de ter trabalhado até hoje. Já trabalhei com tantos: de Carmine Appice a Simon Phillips, Jason Bonham, Aynsley Dunbar, Mikkey Dee, mas Brian Tichy é, considerando tudo, o melhor baterista com quem já trabalhei. É supermusical. Parece tocar forte, mas só parece, pois ele toca com finesse. Tem muito groove.”

Embora a alta rotatividade de integrantes seja uma das marcas do The Dead Daisies – são 16 ex-integrantes em 11 anos de existência –, Aldrich pode ser considerado um “veterano” da formação, pois faz parte do grupo desde 2016. Ao ser perguntado sobre o que motivou sua continuidade na banda, o guitarrista explicou ser grande amigo de todos com quem tocou até agora.

“Sou amigo desses músicos minha carreira inteira. Encontrei com Brian algumas vezes antes do Whitesnake, mas lá começamos uma amizade muito boa. Conheço John Corabi (vocalista entre 2015 e 2019) desde garoto. Deen Castronovo (baterista entre 2017 e 2021) e eu temos um longo passado, assim como Marco Mendoza (baixista entre 2013 e 2019), por conta do Whitesnake, embora o tenha conhecido em 1995. É um negócio meio livre na banda. Fizemos muitas coisas com John e ele ficou desgastado, nós queríamos seguir, mas ele queria tirar um tempo de descanso e tinha algumas coisas solo rolando, assim como Marco.”

Até mesmo Glenn Hughes tinha uma relação prévia com Doug, já que ambos tocaram juntos no passado.

“No caso de Glenn, empresários ligaram para ele, pois ele estava em sua turnê em tributo ao Deep Purple.  Perguntaram o que eu achava e eu perguntei se estavam brincando, pois seria incrível. E eu gosto muito de trabalhar com David, ele é muito pé no chão, embora seja o fundador. Todos colaboramos, mas David traz exuberância ao grupo e só temos a agradecer.”

Revolution Saints e Whitesnake

Recentemente, Doug Aldrich surpreendeu a todos ao anunciar que tanto ele quanto o baixista e vocalista Jack Blades estavam fora do Revolution Saints, outro de seus projetos. O grupo liderado por Deen Castronovo, que também assume o microfone principal por aqui, foi reformado com Joel Hoekstra (curiosamente o substituto de Aldrich no Whitesnake) na guitarra e Jeff Pilson (ex-Dokken, Foreigner) no baixo.

Perguntado sobre as razões da saída, Doug inicialmente brincou ao dizer “a gente foi demitido”. Segundos depois, admitiu a piada e explicou o que realmente rolou.

“Eu ia inventar algo como ‘Deen descobriu que estávamos tirando dinheiro extra do banco’. Mas, não, foi totalmente amigável. Adoro Deen; Joel Hoekstra e eu somos amigos; Jeff é um dos melhores caras, assim como Jack Blades. Mas tanto Jack quanto eu estávamos sentindo tipo: ‘ok, fizemos três álbuns, foi bem legal, mas isso não é uma banda’. As pessoas perguntavam quando iríamos tocar ao vivo e não tinha como fazer isso. Deen estava ocupado com o Journey, daí Deen e eu estávamos no Dead Daisies juntos, mas Jack estava ocupado com o Night Ranger. Nunca deu para alinhar. Então, depois de ‘Rise’ (álbum de 2020), achei que era uma boa hora para pedir as contas, pois não me sentia legal com a ideia de não fazer turnês.”

Embora tenha circulado por diversos grupos, Doug Aldrich é especialmente notório por ter integrado o Whitesnake, de 2003 a 2014, e o Dio, entre 2002 e 2003 (além das voltas temporárias em 2005 e 2009). A relação com os líderes de ambas as bandas, os vocalistas David Coverdale e Ronnie James Dio, é para lá de especial.

No caso de Coverdale, Aldrich foi o braço-direito da reformulação do Whitesnake após uma década de 1990 marcada por hiatos e instabilidade. A volta do grupo foi sacramentada há duas décadas – e mesmo fora há 9 anos, o guitarrista não esconde seu orgulho por ter participado disso.

“Foi uma honra. Era tão empolgante fazer parte daquela banda com Marco (Mendoza), Tommy (Aldridge, baterista), Reb (Beach, guitarrista), Timothy (Drury, tecladista). David e eu nos demos bem de cara. Somos almas parecidas. Eu era fã desde antes da banda ser popular nos Estados Unidos, antes de ‘Slide it In’ (1984). Eu trabalhava com um vocalista muito fã de David Coverdale e ele tinha os primeiros trabalhos do Whitesnake. Eu amava o Whitesnake dos primórdios. Então, quando entrei, David apreciava eu conhecer o passado dele.”

Para manter-se ao lado de Coverdale, Aldrich abdicou do trabalho com Dio. O falecido cantor o havia chamado para retornar de vez em 2005, mas a promessa de trabalhar em material inédito com o Whitesnake fez com que o convite fosse recusado.

“Eu estava substituindo alguém no Dio na mesma época, em 2005, e eu estava no Whitesnake há três anos. Ronnie falou: ‘quero você de volta’. E eu falei pro David: ‘se vou continuar com você, a gente precisa fazer músicas novas’. Não dava para ficar dependendo do passado. Vamos fazer música nova pra falar de coisas novas. Havia um grupo enorme de jovens que estavam descobrindo o Whitesnake. Então quando fizemos as quatro primeiras canções no disco ao vivo (‘Live… in the Shadow of the Blues’) e então ‘Good to Be Bad’. Foi ótimo criar música junto com ele. E a gente entrou no embalo.”

Os tempos com Ronnie James Dio

Tal situação, infelizmente, impediu que Doug Aldrich seguisse com Ronnie James Dio e gravasse outro álbum além de “Killing the Dragon” (2002), seu único disco de estúdio ao lado do baixinho. Ainda assim, as lembranças dos tempos com o ex-vocalista do Rainbow e Black Sabbath são ótimas, como recorda o guitarrista.

“Eu não estaria aqui falando com você agora se não fosse pelo Ronnie. Guitarristas me conheciam de trabalhos passados, mas Ronnie me expôs ao mundo e me fez um músico melhor. Ele me pediu pra fazer parte da banda dele em 1989 e eu não queria sair da minha banda naquela época (Lion). Então, uma década depois, ele me chamou de novo. Fomos num pub e ele me disse que eu começaria no dia seguinte. Fui para o estúdio com minha guitarra e meu amplificador, segui para o porta-malas tirar tudo e um homem enorme apareceu: ‘não toca nisso, você é o guitarrista, você não carrega mais amp’. O nome dele é Turbo, Scott Turbo, o segurança de Ronnie. De repente, minhas mãos eram preciosas. Era como fazer parte de uma família.”

O músico destacou ainda que Ronnie sabia como tirar o melhor dele, o que se provou nas sessões de composição para “Killing the Dragon”.

“Ronnie tinha uma revista de palavras cruzadas e ficava sentado fazendo, eu ficava atrás, em pé tocando guitarra. Aí eu tocava algo e perguntava: ‘o que você acha?’ Ele reagia com um ‘quê?’, com um ‘não, está ótimo, eu adorei’ ou dava alguma sugestão. Com as bases, ele era tranquilo. Com os solos, ele dizia… acho que um dos que ele gostou bastante foi ‘Better in the Dark’, ele chegou a me comparar ao (Ritchie) Blackmore. Foi uma honra e um privilégio trabalhar com ele”, pontuou.

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