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Os melhores discos de 2022 na opinião de Ricardo Batalha

Colaborador do site e jornalista da revista Roadie Crew listou 10 destaques nacionais e 10 internacionais, além de menções honrosas e algumas decepções

O modo que utilizo para fazer a lista dos melhores lançamentos de cada ano é baseada primeiramente pelo gosto pessoal. Depois, vou elencando os que mais escutei seguidamente. Ou seja, são os que ficarão para sempre na minha playlist e não os que escutei de forma esporádica, ou simplesmente por causa da função que exerço.

Ressalta-se, porém, que ouvi e gostei de muitos outros além dos listados (10 de bandas brasileiras e outros 10 de estrangeiras). Claro, dentre os que ficam abaixo do top 10, muitos irei escutar com frequência ou simplesmente separar as faixas que mais gostei, algo que me remete aos tempos de descoberta, pois sempre gostei de montar coletâneas. O que hoje fazemos nas plataformas de streaming, antes era feito pegando o disco de vinil, separando as músicas preferidas para gravar em fita cassete.

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Os 10 melhores discos de 2022 na opinião de Ricardo Batalha

O pódio

1) Ratos de Porão – “Necropolítica”

Entrevistei o Ratos de Porão no final de 2021 para o canal do YouTube da Roadie Crew. Na época, João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) estavam fazendo shows especiais no La Iglesia (SP), tocando discos clássicos na íntegra. Na ocasião, eles já tinham registrado “Necropolítica” e a expectativa em ouvi-lo era grande.

Pois bem, escutei e não consegui parar mais de ouvir, como quase sempre ocorre quando o R.D.P. lança um novo trabalho. É uma cartilha de boa música extrema baseada no hardcore e metal, feita por quem mais entende do riscado e com letras que expõem os problemas do nosso cotidiano.

O disco é novamente um retrato do nosso país sob a ótica do João Gordo, que escreve letras que casam bem com cada momento que vivemos. Triste é notar que várias letras do álbum “Brasil”, de 1989, ainda fazem sentido. Destaco ainda a arte de capa, inspirada em “Sabbath Bloody Sabbath”.

2) The Troops of Doom – “Antichrist Reborn”

Tive o privilégio de ver o The Troops of Doom sair do zero, em meio a uma pandemia, o isolamento social, e decolar sem parar de trabalhar um instante. No início, os músicos faziam tudo de forma remota, sem sequer terem ensaiado juntos.

Pois bem, depois dos EPs “The Rise of Heresy” (2020) e “The Absence of Light” (2021), de estrear ao vivo, veio o álbum de estreia, que reafirmou as bases da ideia inicial de Alex Kafer (vocal e baixo), Jairo “Tormentor” Guedz (guitarra), Marcelo Vasco (guitarra) e Alexandre Oliveira (bateria), que era resgatar a essência do death metal dos anos 80.

A faixa “A Queda” conta com a participação de João Gordo, mas destaco ainda “Dethroned Messiah”, “Deserters From Paradise”, “Altar of Delusion” e os bônus que gravaram com versões de “Necromancer”, da ex-banda de Jairo, o Sepultura, e de “The Usurper”, do Celtic Frost, uma das preferidas “da casa”.

3) Saxon – “Carpe Diem”

Biff Byford (vocal), Paul Quinn e Doug Scarratt (guitarras), Nibbs Carter (baixo) e Nigel Glockler (bateria) conseguiram mais uma vez o intento de entreter fãs do heavy metal tradicional e entusiastas da NWOBHM. “Carpe Diem” traz um repertório bem colocado e dinâmico, que alterna faixas aceleradas com outras mais melódicas, além de algumas cadenciadas e bem pesadas.

O metal, que sempre se renova e se reinventa com a chegada das novas gerações, mostra que envelheceu bem graças a discos como este. Com os cavaleiros dos Saxon não existe acomodação e o sentimento ainda é o daqueles jovens usando jaqueta de couro e jeans, gritando em cima de uma motocicleta. Se a letra de Crusader diz “o futuro honrará seus feitos”, está aí mais uma prova.

O ponto negativo é a arte de capa do ilustrador inglês Paul Raymond Gregory, que ficou sem impacto e até caberia melhor para um livro de história.

O restante do top 20

4) Behemoth – “Opvs Contra Natvram”

5) Degreed – “Are You Ready”

6) Jeff Scott Soto – “Complicated”

7) Dan Reed Network – “Let’s Hear It for the King”

8) Scorpions – “Rock Believer”

9) Skid Row – “The Gang’s All Here”

10) Tony Martin – “Thorns”

11) Trauma – “Awakening”

12) Sinistra – “Sinistra”

13) Golpe de Estado – “Caosmópolis”

14) Santuário – “1982-1987”

15) Razor – “Cycle of Contempt”

16) The Mist – “The Circle of the Crow”

17) Carro Bomba – “Migalhas”

18) Claustrofobia – “Unleeched”

19) Eskröta – “T3rror”

20) Shaman – “Rescue”

Menções honrosas

Parkway Drive – “Darker Still”

Drowning Pool – “Strike a Nerve”

The 69 Eyes – “Drive” (EP)

Krisiun – “Mortem Solis”

Massacre – “Mythos” (EP)

Queensrÿche – “Digital Noise Alliance”

Blind Guardian – “The God Machine”

Evergrey – “A Heartless Portrait (The Orphean Testament)”

Voivod – “Synchro Anarchy”

Vio-lence – “Let the World Burn” (EP)

HIBRIA – “Me7amorphosis”

Caravellus – “Inter Mundos”

Xentrix – “Seven Words”

Laboratori – “Dívidas, Tretas, Muita Perseverança e Pouco Dom”

Black Pantera – “Ascensão”

Melhor ao vivo

Soen – “Atlantis”

As decepções

Cloven Hoof – “Time Assassin”

É lamentável que um nome tão forte e respeitado apresente algo tão abaixo da média. É bem verdade que se trata de um disco muito pesado para os padrões dos ingleses, tem alguns bons momentos, mas só ser pesado não ganha jogo. Se fosse uma banda iniciante até daria para relevar alguns pontos. Porém, estamos falando de um nome tradicional da NWOBHM. Dá até vergonha alheia escutar algumas faixas desta conclusão da saga “Dominator”, iniciada em 1988.

Joe Lynn Turner – “Belly of the Beast”

Sei lá quem teve a ideia de colocar o exímio vocalista americano Joe Lynn Turner fazendo um tipo de som totalmente diferente do que acostumamos a ouvir na carreira dele, ou seja, hard rock, melodic rock e AOR sempre classudo. Ter Peter Tägtgren, líder do Hypocrisy, na produção também não ajudou na tentativa de soar pesado e modernoso. Bem, mas pior que ter clichês de metal europeu é ler uma letra antivacina ou sobre a “Nova Ordem Mundial”. Indico TODOS os outros dez discos solo de Joe Lynn Turner, incluindo o de covers, tudo que ele fez no Rainbow, com Yngwie Malmsteen em “Odyssey”, o “Slaves and Masters” do Deep Purple, o projeto com Glenn Hughes, além do Sunstorm, Brazen Abbot e outros. Ou seja, a fase “sem peruca”, iniciada com “Belly of the Beast”, eu dispenso.

Disturbed – “Divisive”

A declaração foi de que este seria um trabalho agressivo e nervoso, mas aí você escuta o narrador falando: “Preparou, correu, bateu… Na trave!!!”. E vem a decepção. Sim, esta é uma analogia com a cobrança de pênaltis (Croácia, lembra?), porque o Disturbed jogou bem, trouxe vários ganchos interessantes, mas nada que chegue fazendo frente a trabalhos como “The Sickness” (2000), “Believe” (2002), “Ten Thousand Fists” (2005) ou “Indestructible” (2008). OK, temos a parceria inusitada de Ann Wilson (Heart) em “Don’t Tell Me”. No entanto, faltou aquela raiva ou mais inspiração para a tal agressividade e o ótimo vocalista David Draiman só aparece com aquelas suas linhas características e pegajosas em alguns momentos. Em outros, a busca pela melodia nos refrãos coloca uma boa música a perder. Tentei, tentei, tentei, mas este vai ficar de lado.

Annihilator – “Metal II”

Grande nome do thrash metal canadense, o Annihilator vem devendo um trabalho de impacto faz muito tempo. Pessoalmente, o último que gostei de todas as faixas e escuto sempre é “Carnival Diablos” (2001). A ideia aqui foi regravar o álbum “Metal”, seu décimo segundo trabalho, que foi lançado em 2007. Ainda que a intenção de Jeff Waters tenha sido homenagear Eddie Van Halen e Alexi Laiho, falhou.

Satan – “Earth Infernal”

Não é de hoje que o Satan infelizmente perdeu um pouco do impacto e da magia de sua música. Seus integrantes não perderam a identidade como dignos representantes da NWOBHM, mas pecam por timbres muito magros, que carecem de peso e punch, além de não mostrar aquela ousadia pelo qual o grupo ficou conhecido. Da mesma forma que “Cruel Magic”, “Earth Infernal” não ficará em destaque na prateleira de CDs. Serve para completar a coleção. E olha que ela começa com um clássico absoluto, “Court in the Act” (1983).

Leatherwolf – “Kill the Hunted”

O Leatherwolf tem trabalhos muito interessantes em sua discografia, o que não é o caso de “Kill The Hunted”. O disco até pode ser um emaranhado de clichês, mas traz bons riffs de guitarra, aqueles que são capazes de fazer com que qualquer fã de metal se anime. Porém, as linhas de voz são pobres demais e colocam tudo a perder. Estamos em 2022, não dá para lançar um disco por lançar, mas, infelizmente, foi o que esta tradicional banda americana de metal fez.

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Ricardo Batalha
Ricardo Batalhahttp://www.asepress.com.br/music/
Ricardo Batalha tem uma trajetória que se confunde com a própria história do heavy metal no Brasil. Trabalha na Roadie Crew desde 1996 e é um dos diretores da ASE Press. Além do trabalho de consultoria e assessoria, vem colaborando para diversos veículos de mídia ligados ao rock e heavy metal desde os anos 1980. Também é editor na Panorama Audiovisual Brasil (VPGroup), publicação dirigida aos profissionais de criação, produção e distribuição de conteúdos audiovisuais nas plataformas TV, Cinema, Rádio, Broadband, Mobile e Novas Mídias.

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