The Killers, Twenty One Pilots e mais fazem 1º GPWeek ser memorável

Apesar de confusão com ingressos de meia-entrada, evento no Allianz Parque, em São Paulo, trouxe boas apresentações para fãs de rock alternativo

Ao menos para os fãs de automobilismo e rock alternativo, São Paulo se tornou o “centro do mundo” no último fim de semana. Não só pelo Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, realizado no domingo (13), como também pelo festival GPWeek, que, no último sábado (12), ocupou o Allianz Parque para celebrar a união entre música e velocidade. As atrações eram o gigante indie The Killers, o duo híbrido Twenty One Pilots, o grupo de synthpop experimental Hot Chip, a revelação do pop rock The Band Camino e os gaúchos emocore da Fresno.

Os portões do estádio foram abertos pontualmente às 12h e o acesso dos representantes da imprensa era organizado, mas diversos fãs com ingressos meia-entrada foram barrados mesmo apresentando documento de estudante e orientados a pagar pela diferença por supostamente terem adquirido outros tipos de meia. Reportagem do Uol Splash traz mais informações sobre o ocorrido.

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Os primeiros fãs que entraram no Allianz puderam conferir estandes interativos dos patrocinadores com “ambientes Instagramáveis”, como o cenário com tubos de LED e luzes coloridas do C6 Bank. A Sony também se destacou ao organizar uma gameroom com simuladores de “Gran Turismo 7” e um corredor com consoles PlayStation 5 rodando o recém-lançado “God of War Ragnarök”.

Fresno se repete

Às 14h, a Fresno iniciou os trabalhos com uma introdução instrumental e a faixa-título do álbum “Vou Ter Que Me Virar” (2021), como nos demais shows da turnê. “Fudeu!!!”, em seguida, gerou fortes reações devido ao seu ritmo acelerado e intenso junto à “explosão” de palavrões em tela durante a execução. O vocalista e guitarrista Lucas Silveira agradeceu à presença de quem chegou cedo.

*Fotos de Gustavo Palma gentilmente cedidas pelo Sonoridade Underground

Nos shows anteriores, os músicos destacaram mensagens sobre o voto consciente nas eleições de outubro. Com o fim do pleito, a pauta de agora foi a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. O frontman da Fresno chegou a comentar: “Graças a Deus, agora falta pouco para esse aí ir embora”.

Fora isso, a apresentação foi bem parecida com a do Popload Festival, no último mês de outubro. Mesmos efeitos especiais, cenas do videoclipe com a participação de Lulu Santos em “Já faz tanto tempo” e do anime noventista “Neon Genesis Evangelion” em “Casa assombrada”, piadas sobre os “emos velhos”, comentários nostálgicos sobre a finada MTV Brasil antes de “Quebre as correntes” e críticas à classe média em “Eles odeiam gente como nós”.

Talvez a grande surpresa tenha sido a mensagem final de Lucas Silveira – “acho que mais artistas brasileiros deveriam estar aqui hoje” – e uma versão distorcida da “música mais brasileira possível” em sua opinião: “Eva”, original do Rádio Táxi e consagrada na voz da Banda Eva. Ainda assim, uma performance repetitiva e desgastada para quem já viu o grupo em outras ocasiões recentes.

Repertório – Fresno

  1. Intro instrumental
  2. Vou ter que me virar
  3. Fudeu
  4. Natureza caos
  5. Manifesto
  6. Quebre as correntes
  7. Já faz tanto tempo
  8. Cada acidente
  9. Eles odeiam gente como nós
  10. Diga, parte 2
  11. Casa assombrada
  12. Eva (cover de Rádio Táxi)

A surpresa The Band Camino

Promessa do cenário pop rock internacional especialmente após o lançamento do álbum homônimo em 2021, o The Band Camino não é lá muito conhecido no Brasil. Acabou sendo a performance mais aleatória do dia, mas convenceram os presentes com um show dançante e que conquistou o público aos poucos. Os músicos retribuíram com direito ao uso de camisas do Palmeiras.

*Fotos de Andre Santos em cobertura para o site

Spencer Stewart impressionou por seu talento em variadas frentes: tocou piano, teclado, guitarra e ainda assumiu os vocais em algumas canções. Também surpreenderam ao convidar o guitarrista brasileiro Mateus Asato (Bruno Mars, Jessie J) para tocar em “See Through”, “1 Last Cigarette” e “Daphne Blue”. O show surpreendeu e certamente cativou muita gente estava presente.

Repertório – The Band Camino

  1. Know It All
  2. Roses
  3. Less Than I Do
  4. 2/14
  5. I Think I Like You
  6. Who Do You Think You Are?
  7. Song About You
  8. Never A Good Time
  9. Hush Hush
  10. Just A Phase
  11. California
  12. Damage
  13. What I Want
  14. Haunted
  15. See Through (com Mateus Asato)
  16. 1 Last Cigarette (com Mateus Asato)
  17. Daphne Blue (com Mateus Asato)

O belo Hot Chip

Com o figurino mais colorido e vibrante do evento, o Hot Chip evidenciou logo de cara proposta de seu show: animar a plateia. As batidas ritmadas do novo single “Down” logo aqueceram a pista na abertura da performance, por volta das 17h. Em retribuição, o público gritou a plenos pulmões as quase infinitas repetições do refrão.

*Fotos de Andre Santos em cobertura para o site

Outras facetas foram apresentadas conforme o show prosseguiu, a exemplo da cativante “Flutes”, mais inclinada ao indie rock do que ao eletrônico. Em meio à dobradinha de novas faixas “Eleanor” e “Freakout/Release”, o vocalista Alexis Taylor arriscou algumas palavras em português. Os demais músicos se revezaram nos instrumentos, correram pelo palco e, apesar da barreira existente entre a pista e o palco, dançaram junto com os fãs.

Toda a performance se destacou pelo capricho da produção artística, com destaque a “Ready for the Floor”, acompanhada de uma estética “techno psicodélica” que é marca registrada dos britânicos. Já em meio ao pôr do sol, o hit “Over and Over” levou o público ao êxtase, com os números de encerramento “Huarache Lights” e “I Feel Better” em seguida.

O Hot Chip ofereceu um show animado e visualmente belo. Mesmo diferente, arrancou aplausos dos fãs das atrações principais.

Repertório – Hot Chip

  1. Down
  2. Flutes
  3. Eleanor
  4. Freakout/Release
  5. Hungry Child
  6. Ready for the Floor
  7. Straight to the Morning
  8. Melody of Love
  9. Dance (ESG cover)
  10. Over and Over
  11. Huarache Lights
  12. I Feel Better

Twenty One Pilots além do espetáculo

Próximo das 19h, centenas de pessoas (em maioria adolescentes) com toucas vermelhas e maquiagem preta cobrindo o pescoço começaram a correr em direção ao palco. Pareceu um pouco estranho para o público mais velho que aguardava pelo The Killers, mas os jovens fantasiados como o vocalista Tyler Joseph no videoclipe “Stressed Out” estavam apenas demonstrando a devoção por uma das atrações mais esperadas da noite.

O show logo foi iniciado com uma surpresa: quem aguardava “Heathens” ou “Good Day” na abertura ouviu “Guns for Hands”, single do álbum “Regional at Best” (2011). O último refrão foi cortado e emendado com os teclados iniciais de “Morph”, canção queridinha dos fãs, mas que ainda é visto como “lado B”. “Holding on to You”, um dos primeiros sucessos da carreira da dupla, levou o público a cantar de forma ensurdecedora pela primeira vez no set. Também foi aqui que Joseph e o baterista Josh Dun cederam holofotes aos músicos de apoio.

*Fotos de Andre Santos em cobertura para o site

A versatilidade da dupla é visível em sua performance ao vivo. Em menos de 5 minutos, ouvimos rimas freestyle do rap, batidas ska e até elementos de música clássica. Durante “Lane Boy”, com seus efeitos de iluminação e assistentes mascarados com lançadores de fumaça pelo palco, já não havia fã de The Killers que não estivesse convencido pelo Twenty One Pilots.

“Mulberry Street” rendeu outro momento de destaque quando Tyler Joseph interagiu com o público. O cantor pediu para os fãs da arquibancada esquerda ligassem o celular quando ele dissesse “Mul”, os da pista acendessem com “Berry” e da arquibancada direita ao ouvirem “Street”. Quando a música começou, milhares de celulares geraram uma onda encantadora de luzes em movimento.

O nível de intensidade foi reduzido com um luau com direito a fogueira no palco para as versões acústicas de “Migraine”, “The Hype” e “House of Gold”. Na sequência, Josh e Tyler saíram do palco e coube ao trompetista Jesse Blum entreter a plateia com “Aquarela do Brasil” e o tema do game “Halo”. Na volta, uma chuva de hits iniciada por “Heavydirtysoul” e “Level of Concern”.

A partir dali, os rapazes deram trabalho aos seguranças. Em “Ride”, Tyler desceu do palco para cantar com o público da pista premium enquanto Josh levou um kit de bateria para a plateia e foi segurado pelos fãs enquanto solava. Já em “Car Radio”, Joseph escalou a torre de iluminação do estádio e ficou por lá também durante “Stressed Out”. O encerramento ficou a cargo do megahit “Heathens”, faixa da trilha sonora do filme “Esquadrão Suicida”, e “Trees” com chuva de papel picado.

O Twenty One Pilots foi além do espetáculo e ofereceu uma experiência de vida. Músicas criativas, banda de apoio gabaritada, efeitos especiais de encher os olhos e interação implacável com o público. Ficará na memória.

Repertório – Twenty One Pilots

  1. Guns for Hands
  2. Morph
  3. Holding on to You
  4. The Outside
  5. Lane Boy
  6. Chlorine
  7. Mulberry Street
  8. The Judge / Migraine
  9. The Hype / Nico and the Niners / Tear in My Heart
  10. House of Gold / We Don’t Believe What’s on TV
  11. Aquarela do Brasil / Tema do game Halo (solo trompetista)
  12. Jumpsui
  13. Heavydirtysoul
  14. Level of Concern
  15. Ride
  16. Shy Away
  17. Car Radio
  18. Stressed Out
  19. Heathens
  20. Trees

Um The Killers funcional

Após o show impecável do Twenty One Pilots, coube ao The Killers a missão de encerrar o GPWeek. O set começou de forma explosiva com “My Own Soul’s Warning”, faixa presente no álbum “Imploding the Mirage” (2020).

*Fotos de Chris Phelps gentilmente cedidas pela assessoria do evento

Correndo incansavelmente de ponta a ponta do cenário, o vocalista Brandon Flowers fez questão de exibir que realmente era um dos maiores showmen da atualidade.

Aplaudido, o grupo logo voltou ao passado com duas faixas dos álbuns “Sam’s Town” (2006) – “Enterlude” e “When You Were Young” – e “Hot Fuss” (2004) – “Jenny Was a Friend of Mine” e “Smile Like You Mean It”. Ainda que sem a força dos efeitos especiais do Twenty One Pilots, o grupo impressionou com um intenso e variado jogo de iluminação. Também surpreendeu a ausência de músicas do disco mais recente, “Pressure Machine”. A noite era mesmo de hits como “Smile Like You Mean It”, “Shot at the Night”, “Running Towards a Place” e tantos outros que vieram na sequência.

Brandon Flowers se arriscou no português ao perguntar: “Foram 4 longos anos… vocês se esqueceram da gente?” Os gritos eufóricos da plateia respondiam que “não”. A breve conversa serviu para intercalar mais dois hits: “Human” e “Somebody Told Me”, esta última com refrão tão popular que foi cantado até mesmo pelo público mais jovem do Twenty One Pilots. 

“Boy”, single cuja composição Brandon dedicou a seu filho de 16 anos, foi a faixa mais recente a marcar presença na noite. A partir da segunda metade do show, mais hits enfileirados. Flowers manteve-se como protagonista quase o tempo todo, sem espaço para que outros integrantes segurassem a frente do palco. O guitarrista Dave Keuning conquistou raro holofote durante o solo de “Read My Mind”. Observa-se ainda que as performances são bem fiéis às versões gravadas em estúdio, sem sair tanto da zona de conforto.

Próximo ao encerramento, veio um dos momentos mais legais da noite, que tem rolado nas apresentações recentes. Após Brandon perguntar se alguém ali presente sabia tocar bateria, um fã foi levado ao palco. Rafael, como foi identificado, assumiu o lugar de Ronnie Vannucci em “For Reasons Unknown” e se saiu super bem. “All These Things That I’ve Done” encerrou o set regular de forma memorável, com refrão ecoado em peso pelos fãs.

Após uma curta pausa, o bis chegou em uma dobradinha sem pausas com “Spaceman” e “Just Another Girl”, abastecidas por efeitos especiais: de uma cascata de fogos escorrendo no fundo do palco a uma chuva de serpentina enfeitando o cenário. “Mr. Brightside” fechou a noite com chave de ouro e o público cantando em uníssono.

Ao julgar somente pela apresentação, o Twenty One Pilots foi dono do espetáculo mais imponente da noite. No entanto, o repertório do The Killers envelheceu muito bem, o que justifica sua posição de headliners.

Repertório – The Killers

  1. My Own Soul’s Warning
  2. Enterlude
  3. When You Were Young
  4. Jenny Was a Friend of Mine
  5. Smile Like You Mean It
  6. Shot at the Night
  7. Running Towards a Place
  8. Human
  9. Somebody Told Me
  10. Boy
  11. A Dustland Fairytale
  12. Runaways
  13. Read My Mind
  14. Dying Breed
  15. Caution
  16. For Reasons Unknown (com participação de fã)
  17. All These Things That I’ve Done

Bis:

  1. Spaceman
  2. Just Another Girl
  3. Mr. Brightside

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Guilherme Góes
Guilherme Góeshttp://www.igormiranda.com.br
Guilherme Góes, 27 anos, estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança, participa do cenário musical independente paulistano desde 2009. Já passou pelos veículos Besouros.net e Hedflow.

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