A opinião de Michael Jackson sobre os maiores hits de “Thriller”

Em autobiografia, Rei do Pop compartilha lembranças e opiniões acerca das canções de destaque do disco mais vendido de todos os tempos

Os números impressionam, e não é para menos. Com mais de 70 milhões de cópias vendidas, “Thriller”, o sexto álbum de estúdio de Michael Jackson, é o disco mais comercialmente bem-sucedido de todos os tempos.

De suas nove faixas, sete foram lançadas como single, destacando-se “The Girl Is Mine” (parceria com Paul McCartney), “Billie Jean”, “Beat It”, “Human Nature” e, é lógico, a faixa-título, com seu revolucionário videoclipe cuja estreia parou o mundo.

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Mas o que Michael, que nos deixou em 2009, pensava de cada uma delas? Qual a inspiração por trás dos hits?

Essas e outras perguntas são respondidas em “Moonwalk”, autobiografia que o Rei do Pop escreveu em 1988, chega ao Brasil pela editora Estética Torta e do qual este artigo reproduz trechos em caráter exclusivo.

Michael Jackson fala sobre os hits de “Thriller”

“The Girl Is Mine”

“Off the Wall” (1979), álbum anterior a “Thriller”, originalmente se chamaria “Girlfriend”. O motivo? A canção homônima que Paul e Linda McCartney escreveram pensando em Michael antes mesmo de o conhecerem.

O primeiro encontro de Michael e Paul se deu numa festa na mansão do ator Harold Lloyd no final dos anos 1970. Jackson conta:

“[Paul e eu] apertamos a mão no meio de um monte de gente e ele disse: ‘Sabe, escrevi uma canção para você’. Fiquei muito surpreso e agradeci. E ele começou a cantar ‘Girlfriend’ para mim naquela festa. Trocamos números de telefone e prometemos nos reunir em breve, mas projetos diferentes e a própria vida nos afastaram e só voltaríamos a falar de novo dois anos depois.”

Quando estava prestes a começar o trabalho em “Thriller”, Michael ligou para Paul e propôs ao ex-Beatle se encontrarem para compor alguns hits. A colaboração dos dois rendeu “Say, Say, Say” — que McCartney lançaria no álbum “Pipes of Peace” (1983) — e “The Girl Is Mine”, que Jackson e o produtor Quincy Jones acabaram escolhendo como óbvio primeiro single de “Thriller”:

“[Quincy e eu] não tínhamos realmente muita escolha. Quando você tem dois nomes fortes como aqueles juntos numa canção, precisa logo publicá-la antes que seja tocada à exaustão e fique superexposta. Tínhamos de tirá-la do caminho.”

“The Girl Is Mine” veio a público em 18 de outubro de 1982; um mês e meio antes de “Thriller” chegar às lojas.

Sobre compor e gravar com “um homem capaz de tocar todos os instrumentos de um estúdio e escrever todas as partituras”, Michael Jackson revela que, embora fosse “um coitado de um garoto que nada sabia”, Paul McCartney não teve de “carregá-lo nas costas”:

“Trabalhamos em pé de igualdade e nos divertimos (…) Paul e eu compartilhávamos a mesma ideia de como uma canção pop devia funcionar e foi uma verdadeira dádiva para mim trabalhar com ele.”

“Billie Jean”

Por achar que as pessoas podiam imediatamente pensar na tenista Billie Jean King, Quincy Jones sugeriu a Michael Jackson usar o título “Not My Lover” para “Billie Jean”.

A inspiração para a letra, na qual uma garota afirma que Michael é o pai do seu filho e ele jura que não, não veio de uma golpista real; embora tenha havido algumas depois:

“A garota da canção é uma colagem de pessoas que nos têm assediado ao longo dos anos. Esse tipo de situação aconteceu com alguns de meus irmãos, e eu costumava ficar realmente espantado com aquilo. Não conseguia entender como aquelas garotas podiam dizer que estavam com o filho de alguém na barriga quando aquilo não era verdade.”

Michael sabia que o segundo single de “Thriller” ia ser um estouro quando a estava compondo.

“Um músico conhece o material que rende um hit. Precisa ter aquele som certo. Tudo tem de estar no lugar. Agrada a você e o faz sentir-se bem. Você sabe assim que ouve. Era como eu me sentia em relação a ‘Billie Jean’.”

Jackson quase pagou com a vida o fato de estar tão absorvido por “Billie Jean”.

“Um dia durante um intervalo numa sessão de gravação, eu rodava de carro com Nelson Hayes, que trabalhava comigo na época. ‘Billie Jean’ rolava na minha cabeça, era tudo em que conseguia pensar. Estávamos saindo da freeway quando um garoto de motocicleta nos parou e disse: ‘Seu carro está pegando fogo’. Subitamente notamos a fumaça e paramos no acostamento e todo o fundo do Rolls-Royce estava em chamas. Aquele garoto provavelmente salvou nossa vida. Se o carro tivesse explodido, podíamos ter morrido. Mas eu estava tão absorvido por aquela música flutuando na minha cabeça que nem dei atenção às terríveis possibilidades naquele momento.”

“Beat It”

Antes de compor “Beat It”, Michael Jackson vinha pensando que queria escrever o tipo de canção de rock totalmente diferente do que se ouvia no rádio na época. Para ele, o terceiro single de “Thriller” é uma mensagem de não-violência aos jovens:

“A letra de ‘Beat It’ exprime algo que eu faria se estivesse encrencado. Sua mensagem de que deveríamos abominar a violência é algo em que acredito profundamente. Fala à garotada para usar a cabeça e evitar confusão. Não aconselho que você deva dar a outra face quando leva um soco nos dentes, mas, a não ser que esteja contra a parede e não tenha nenhuma escolha, simplesmente fuja antes que a violência irrompa. Se brigar e for morto, não ganhou nada e perdeu tudo. Você é o perdedor, assim como as pessoas que o amam. Isso é o que ‘Beat It’ pretende transmitir. Para mim a verdadeira bravura está em resolver as diferenças sem briga e ter a sabedoria de tornar essa solução possível.”

Jackson e Jones sabiam que Eddie Van Halen faria um ótimo trabalho em “Beat It” e, por isso, resolveram convidá-lo para participar da gravação.

“Quando Quincy ligou para Eddie Van Halen, ele achou que era um trote. Por causa da má conexão, Eddie se convenceu de que a voz do outro lado da linha era fake. Depois de ser mandado para aquele lugar, Quincy simplesmente discou de novo. Eddie concordou em participar da sessão e nos deu um incrível solo de guitarra em ‘Beat It’.”

Uma curiosidade sobre o famoso videoclipe de “Beat It”: o elenco não era formado por atores, mas por membros de gangues de verdade.

“Eu tinha gangues de rua em mente quando compus ‘Beat It’ e então juntamos algumas das mais duronas de Los Angeles e as botamos para trabalhar no clipe. Acabou sendo uma boa ideia e uma grande experiência para mim. Tivemos uns garotos marginais naquele set, garotos durões, e nem passaram pelo departamento de guarda-roupa. Aqueles caras no salão de sinuca na primeira cena levavam a coisa a sério; não eram atores. Aquele clima era real.”

“Human Nature”

Antes de se juntarem num grupo e emplacar hits como “Rosanna” e “Africa”, os integrantes do Toto eram bem conhecidos como músicos de estúdio individuais. Steve Porcaro, o tecladista, havia tocado em “Off the Wall”. Para “Thriller”, ele trouxe seus companheiros David Paich, Steve Lukather e o irmão Jeff Porcaro:

“Musicólogos sabem que o líder da banda, David Paich, é filho de Marty Paich, que trabalhou em alguns dos grandes discos de Ray Charles, como ‘I Can’t Stop Loving You’. Devido a sua experiência, conheciam os dois lados do trabalho em estúdio, quando ser independente e quando ser cooperativo, seguindo as instruções do produtor.”

“Human Nature” foi a música que os caras do Toto trouxeram para Quincy e ele e Michael concordaram que ela tinha uma belíssima melodia. Quanto à letra, Jackson garante que não foi escrita tendo uma pessoa ou situação específicas em mente:

“As pessoas frequentemente acham que a letra que você está cantando tem um significado pessoal especial para você, o que muitas vezes não é verdade. É importante alcançar as pessoas, comovê-las. Às vezes é possível fazer isso com o mosaico musical da melodia, do arranjo e da letra.”

“Thriller”

Os três clipes que saíram de “Thriller” – “Billie Jean”, “Beat It” e “Thriller” – foram todos parte do conceito original de Michael para o álbum: ele estava decidido a apresentar sua música tão visualmente quanto possível.

“Na época comecei a observar o que as pessoas estavam fazendo com clipes e não conseguia entender por que tanto daquilo parecia primitivo e fraco. Vi garotos assistindo e aceitando clipes tediosos porque não tinham alternativa. Se meu objetivo é fazer o melhor que eu possa em toda a área, então por que dar duro num álbum e depois produzir um clipe horrível? Eu queria algo que grudasse você ao aparelho de TV; algo que você quisesse ver repetidas vezes. A ideia desde o início era dar às pessoas qualidade. Eu queria ser um pioneiro naquele meio de comunicação relativamente novo e fazer os melhores filmes musicais curtos que fosse possível. Não gosto sequer de chamá-los de clipes. No set eu explicava que estávamos fazendo um filme e era assim que eu abordava a questão.”

Quando chegou a hora de produzir um clipe para a faixa título de “Thriller”, Jackson já tinha um nome em mente para a direção:

“[Eu] tinha visto um filme de terror chamado ‘Um Lobisomem Americano em Londres’ e sabia que o homem que o fizera, John Landis, seria perfeito para ‘Thriller’, uma vez que nosso conceito para o clipe incluía o mesmo tipo de transformações que ocorria com seu personagem. Contatamos então Landis e pedimos que dirigisse o clipe. Ele concordou, submeteu seu orçamento e fomos à luta (…) Queria as pessoas mais talentosas daquela área – o melhor fotógrafo de cinema, o melhor diretor, os melhores iluminadores que pudéssemos contratar. Não gravávamos em videoteipe; filmávamos em 35 milímetros. Éramos sérios.”

Ao mesmo tempo que Michael tentava pensar mais largamente, a gravadora lhe impunha problemas de orçamento. Assim, ele acabou pagando do próprio bolso pelos clipes de “Beat It” e “Thriller”.

“Não queria discutir dinheiro com ninguém. Em consequência, sou o proprietário daqueles filmes.”

O clipe de “Thriller” ficou pronto no final de 1983. A estreia na MTV ocorreu em fevereiro de 1984. Quando a gravadora Epic Records lançou “Thriller” como single, de acordo com Michael, “as vendas do álbum endoidaram”:

“Segundo as estatísticas, o filme e o lançamento do single resultaram na venda adicional de catorze milhões de álbuns e fitas num período de seis meses. A certa altura em 1984 estávamos vendendo um milhão de LPs por semana. Fiquei atônito com essa reação do público. Quando finalmente fechamos a campanha de ‘Thriller’ um ano depois, o álbum já tinha alcançado a marca dos trinta e dois milhões. Hoje as vendas chegam a quarenta milhões. Um sonho concretizado.”

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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