Levou algum tempo até que George Harisson obtivesse nos Beatles o destaque merecido enquanto compositor. As músicas criadas pelo guitarrista só começaram a aparecer de forma mais frequente nos álbuns finais da banda, cujo processo criativo era monopolizado por John Lennon e Paul McCartney.
Mas quando Harrison entrou de vez no “jogo” da composição, não teve para ninguém. O “quiet Beatle” apresentou ao mundo canções como “While My Guitar Gently Weeps”, “Taxman”, “Within You Without You”, “Something” e “Here Comes the Sun”.
As duas últimas faixas citadas foram lançadas no álbum “Abbey Road” (1969), o último a ser gravado pelos Beatles – embora não tenha sido o último a ser divulgado, visto que “Let t Be” (1970), registrado antes, saiu depois.
Em entrevista ao Music Radar em 2014, Geoff Emerick, engenheiro de som falecido em 2018 que trabalhou em alguns discos dos Beatles (incluindo “Abbey Road”), compartilhou algumas reflexões a respeito de George enquanto compositor. Ele falou justamente a respeito de “Something” e “Here Comes the Sun”, que estão no álbum citado anteriormente e são dois dos maiores hits do guitarrista no grupo.
“Something” e as garras de George Harrison
Com relação a “Something”, Emerick relembrou:
“George estava presunçoso quando nos mostrou essa. E com razão: ele sabia que a música era brilhante. E pela primeira vez, John e Paul viram que George havia subido ao nível deles. George estava em seu melhor enquanto guitarrista. Tocou um solo, mas alguns dias depois quis refazê-lo. Só havia uma pista de gravação disponível e era para overdubs orquestrais, então, George gravou um novo solo ao vivo com a orquestra. Foi uma aposta, mas ele fez em apenasu m take e foi lindo.”
O engenheiro de som ainda contou como Harrison se impôs durante a gravação da linha de baixo da música.
“Paul começou a tocar uma linha de baixo elaborada e George disse: ‘não, quero que seja simples’. Paul concordou. Não houve discordância, mas nos anos anteriores eu nunca pensaria que algo assim aconteceria. George dizendo a Paul como tocar o baixo? Impensável! Mas aquela música era o bebê de George e todos sabiam de cara que era um clássico instantâneo.”
“Here Comes the Sun”, grandeza e Ringo
Ao falar sobre “Here Comes the Sun”, Geoff Emerick constatou:
“Outra música vencedora de George e, novamente, ele sabia disso – sua confiança crescia cada vez mais. As viradas de tom feitas por Ringo (Starr, baterista) realmente fazem a diferença, mas ele odiava fazê-las porque nunca se lembrava do que fazia entre um take e outro. Acho que é por isso que as viradas são espetaculares: ele sentia que nunca conseguiria reproduzi-las, então era melhor que ele acertasse tudo de primeira.”
Outro ponto abordado pelo engenheiro de som tem a ver com a sonoridade grandiosa da faixa, algo que seria melhor explorado no futuro por George Harrison em carreira solo.
“Acrescentamos um pouco de orquestração, mas nada que sobrecarregasse. Acho que George começava a curtir a ideia de ‘grandeza’ naquele ponto algo que obviamente ele levou adiante quando fez ‘All Things Must pass’ com (o produtor) Phil Spector.”
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