Sejamos sinceros: a atmosfera favorecia. Afinal de contas, o Stones Music Bar já havia recebido Eric Martin no último dia 20 de março – na ocasião, junto de Jeff Scott Soto. Na terça-feira (15), porém, o headliner do evento era apenas o vocalista do Mr. Big, novamente com suporte dos ultra competentes músicos da Rolls-Rock. Em sua volta à casa na zona leste de São Paulo, ele distribuiu hinos de sua banda principal e lotou as dependências. Na plateia, além da presença feminina significativa, houve renovação de público: mães levaram as filhas e ajudando a transformar o clima em algo familiar.
Se você desconhece a casa, ela se localiza perto da estação Oratório da Linha Prata do Metrô, o popular monotrilho, uma além da Vila Prudente, terminal da Linha Verde. Ótima opção para descentralizar a cena rock/metal. De espaço amplo em três ambientes e uma bela fonte a decorá-lo, houve os que preferissem assistir ao show fora da área da pista (menor se comparada ao Carioca Club), ainda que comprometesse um pouco a qualidade do som – abafado em função do vidro de separação –, mas com certa privacidade e relativamente boa visão lateral. Agora, quem chegou tarde e se posicionou no fundão deve ter sofrido para enxergar. Ah, aceita uma dica? Feche logo a comanda e evite a fila na saída.
*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox
RF Force abre os trabalhos
Programada para abrir a festa às 19h, a RF Force de Marcelo Saracino (vocal), Rodrigo Flausino e Ivan Landgraf (guirarras), Ricardo Flausino (baixo) e Lucas Emidio (bateria) deu as caras dezessete minutos depois com “Preparations” de intro – sim, da trilha sonora de “Rambo II” (1985), em consonância com os assuntos das letras – e emendaram a pedrada “Creeps of The World”, “Fallen Angel” e “Fighter”.
Em sua interação inaugural, o carismático Marcelo destacou a proposta de “voltar às origens, ao passado, à década de oitenta fazendo heavy metal clássico” e anunciou a comovente “Will You Remember”, de começo mais cadenciado e melódico. “Flying Dogs” reacelerou os andamentos e o que levantou mesmo a galera foi um medley contendo trechos de “Balls To The Wall” (Accept), “Heaven and Hell” (Black Sabbath), “The Trooper” (Iron Maiden) e “Living After Midnight” (Judas Priest) – impossível permanecer parado!
Atencioso, ele esclareceu que a sigla da música seguinte, “M.O.A.B.”, se referia a “Mother of All Bombs”. Em seguida, o quinteto mandou bronca com “Beyond Life and Death”, um cover de “Holy Diver” (Dio), “The Beast and The Hunter” e a já clássica “Old School Metal”. Duvida? Cantando alto o refrão, o povo abraçou a causa e vale apontar o título às costas da jaqueta de couro do frontman!
Na prática, as faixas do set de uma hora e cinco minutos foram extraídas do début homônimo deste ano, exceto pelas releituras. E se você os viu na Fabrique antes do Airbourne em 28 de agosto, o repertório foi idêntico, em ordem levemente alterada, com as adições de “Will You Remember?” e “M.O.A.B.”, porém lá faltou “Holy Diver”. E anote aí: a RF Force veio para ficar!
Por WhatsApp, conversamos rapidamente com Marcelo Saracino e perguntamos a respeito da composição de Ronnie James Dio, ausente do setlist de palco: “‘Holy Diver’ está no repertório e, como foi um pedido do produtor que trouxe o Eric Martin e tínhamos tempo para fazê-la, a colocamos no show”.
RF Force – ao vivo em São Paulo
- Local: Stones Music Bar
- Data: 15 de novembro de 2022
Repertório:
Intro 1: Hell Patrol [Judas Priest]
Intro 2: Preparations [Jerry Goldsmith]
- Creeps of the World
- Fallen Angel
- Fighter
- Will You Remember?
- Flying Dogs
- Medley de Covers: Balls to the Wall [Accept], Heaven and Hell [Black Sabbath], The Trooper [Iron Maiden] e Living After Midnight [Judas Priest]
- M.O.A.B.
- Beyond Life And Death
- Holy Diver [Dio]
- The Beast and the Hunter
- Old School Metal
Enfim, a estrela da noite
E se o atraso anterior incomodara, imagine nada acontecendo às 21h, horário oficial da entrada de Eric Martin e, pasme: berrando para qualquer coisa na discotecagem, ninguém ligava… Ele só surgiu mesmo às 21h37 junto a Edu Costa (guitarra), Mau Seliokas (baixo), Cris Ribeiro (teclados) e Francis Lima (bateria) para fazerem “Gotta Love the Ride”, depois de utilizarem o tema da série “Família Soprano” como intro.
Se parcela considerável do público prestigiara a RF Force, agora todos, ensandecidos, se abarrotavam na pista e nos camarotes. No palco, a camisa de zebra de Edu cuidadosamente combinava com seus sapatos, mas do que este repórter gostou, de fato, foram as botas de Mau, pretas com detalhes flamejantes em vermelho! Decorando o cenário, um discreto “EM” estilizado na pele do bumbo e o nome da estrela da noite.
Exatamente como no álbum “Lean Into It” (1991), veio a dobradinha “Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)” – sem a furadeira de Paul Gilbert – e “Alive And Kickin’”. Após “Temperamental”, Eric brincou estar ao violão para esconder o peso, tirou sarro puxando “Sweet Home Alabama” (Lynyrd Skynyrd), embora a contextualização posterior tenha sido em tom sério:
“Durante os anos da Covid, comi tanto quanto qualquer um, mas bebi mais do que os outros. Tive problemas por muito tempo, uns bons três ou quatro anos, e deixem-me dizer sobre esta música, ‘Fragile’. Ela é sobre crise de meia-idade e era isso que eu estava tendo.”
Retomando o bom humor, as zoeiras prosseguiram. Primeiro, fez de conta que executaria material em japonês e provocou risos ao soltar um “Calma, muchacho!” direcionado a um afoito gaiato louco para gritar. Então, a seriedade tornou a imperar antes de anunciar a sensacional “Take Cover”, elevando a incidência de celulares erguidos:
“Quando toco esta música em específico, me lembro de meu saudoso amigo, Pat Torpey. Vocês eram grandes fãs dele? Tenho tocado muito esta música do Mr. Big, amo tocá-la e nela Pat criou uma batida icônica.”
Eric Martin soltinho
Na sequência, “Green-Tinted Sixties Mind” foi um espetáculo à parte, primeiro com Eric fitando a iluminação de teto em ordem pré-definida até aguardar por uma cor em especial: “O que é isso? O que é isso com as luzes? São as cores do arco-íris! Mas esta é a mais bonita de todas. Estou esperando mudar! Gostaria que…”, até receber o literal sinal verde. Encerrada por se atrapalhar no verso de abertura, impedindo-o de interpretá-lo por completo, pediu para refazer apenas a estrofe inicial e fez graça ao justificar de modo inusitado: “para Deus me perdoar e me deixar ir para o paraíso”. Lindo momento intimista somente com voz e os instrumentos bem baixinho.
“Superfantastic” manteve o pique acústico e, perfeita, “Shine”, única do álbum “Actual Size” (2001), agradou em cheio, provando que a época de Richie Kotzen no conjunto também deixou seu legado. Seria possível evoluir? Sim, com “Wild World”, cantada efusivamente pela galera! Oferecendo oportunidade de respiro a Eric, Edu fez um pequeno solo com menções a Led Zeppelin em “Heartbreaker” e “Dazed and Confused”, esta ligeiramente acompanhada pela banda inteira, até colarem “Take a Walk”.
Descontraído, o frontman perguntou às garotas se Edu não era um sonho com os olhos maquiados, confessou só enxergar de óculos, garantiu aquela ser a melhor audiência “vista” por ele em bastante tempo e, por fim, anunciou “Rock & Roll Over” batendo em uma hora de puro entretenimento. Parecendo ter comido palhacitos, ele também dedilhou um arranjo country, se espantou com o fato de o chamarem de “E-ri-qui!” e pronunciarem “Rolls-Rock” corretamente – sem o fonema / i / de apoio –, apresentou os colegas e, ciente da presença da maioria ali por uma canção específica, puxou “To Be With You”. Pelas vozes ecoando, sim, boa parte das pessoas saiu do conforto do lar devido a ela.
Showzaço
Na reta final, a excelente “Undertow” representou o álbum “What If…” (2011). “Electrified” deveria ter vindo na seqüência (ao menos ela constava no setlist de palco), porém acabou preterida e uma curta introdução de Cris Ribeiro, com direito a um pedacinho da trilha sonora de “2001: Uma Odisséia No Espaço” (1968), encaminhou “Promise Her the Moon”. Elogiando a plateia, observou o número de famílias e os latidos nos alto-falantes denunciaram “Colorado Bulldog”. Tirando onda, Eric fingiu rumar aos camarins para caracterizar o encore e, sem se calar, imediatamente voltou.
A saideira? “Addicted to That Rush”, com um snippet de “Fly Like an Eagle”, da Steve Miller Band, e que este escriba, preocupado em chegar à Linha Amarela do Metrô antes da meia-noite, viu e ouviu mal e porcamente sendo obrigado a zerar uma comanda sem consumo (pois é… lembre-se!). Com quase uma hora e quarenta minutos no relógio, “All the Young Dudes”, do Mott the Hoople, era o indício de conclusão às 23h15. Showzaço!
Se você esteve no Stones Music Bar na data com Soto, de diferente, rolaram as inclusões de “Fragile” e “Rock & Roll Over”, enquanto “Just Take My Heart”, “Road to Ruin” e “Electrified” saíram do repertório. Sendo assim, o álbum mais recente do Mr. Big, “Defying Gravity” (2017), foi o único ignorado.
Consideradas as circunstâncias da apresentação, Eric Martin certamente dará um jeitinho de estar em São Paulo em 2023. Os fãs ficam na torcida.
*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox
Eric Martin e Rolls-Rock – ao vivo em São Paulo
- Local: Stones Music Bar
- Data: 15 de novembro de 2022
Repertório:
Intro: Woke Up This Morning [Alabama 3]
- Gotta Love The Ride
- Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)
- Alive And Kickin’ *
- Temperamental
- Fragile *
- Take Cover *
- Green-Tinted Sixties Mind
- Superfantastic *
- Shine *
- Wild World [Cat Stevens] *
- Solo de guitarra de Edu Costa
- Take a Walk
- Rock & Roll Over
- To Be With You *
- Undertow
- Promise Her the Moon *
- Colorado Bulldog
- Addicted to That Rush
Outro: All the Young Dudes [Mott The Hoople]
* Eric Martin ao violão
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