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Visando o futuro, The Puro estreia com show intimista em São Paulo

Apresentação na Casa Rockambole traz Noel Hogan inaugurando, ao lado da brasileira Mell Peck, nova era na carreira quase 5 anos após trágico fim do The Cranberries

O que faz um artista quando a tão marcante voz de sua banda principal morre, forçando o fim das atividades? Noel Hogan, guitarrista do encerrado The Cranberries, inicialmente respeitou o luto da partida precoce de Dolores O’Riordan em janeiro de 2018. Em seguida, fez bom uso da pausa pandêmica ao criar o The Puro, parceria com Mell Peck, cantora natural de Sapucaia do Sul (RS) e por ele descoberta através do YouTube.

De dois anos de inúmeras colaborações à distância e algumas presenciais, surgiram o recém-lançado EP “Law of Return” e singles disponibilizados anteriormente. Na última quinta-feira (20), a dupla estreou com show único em solo nacional num local de nome sugestivo: o Rockambole. Localizado na fronteira dos tradicionais bairros de Pinheiros e Vila Madalena, em São Paulo, trata-se na prática de um bar agradável contendo um “teatro”, como os próprios funcionários se referiam ao escondido espaço lateral anexo.

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Com o The Puro previsto para 21h30, a programação da noite contava ainda com uma apresentação do Leela, grupo de rock alternativo formado no Rio de Janeiro e com mais de duas décadas de carreira. Infelizmente, não foi possível acompanhar a performance da segunda banda por estar agendado para um horário ainda mais tarde em um dia de semana. Portanto, o texto a seguir aborda apenas o show de Mell Peck e Noel Hogan, mas caso não conheça o Leela, não deixe de conferir o trabalho por meio de suas redes sociais ou plataformas digitais.

Chegando às 20h10, este escriba prontamente identificou uma placa informando a existência de pau-brasil ao lado da recepção – o que chama atenção, pois não é toda hora que você se depara com uma árvore dessas em apresentações de rock e metal. No aguardo, membros de um fã-clube do The Cranberries reforçavam a atmosfera familiar e intimista do evento.

Ao ouvir o EP formado por duas músicas em inglês, seu par de versões em português e outra composição em nosso idioma, percebe-se instantaneamente semelhança entre os timbres de Mell Peck e Dolores O’Riordan. O efeito pareceu se intensificar ao vivo. Simplificado, o set de dez faixas distribuídas ao longo de cinqüenta e seis minutos trouxe roupagem acústica sem bateria e cativou o público.

*Fotos de Andre Santos / @andresantos_mnp

Começa o show

Ansiosos, os presentes confortavelmente espalhados pela pista e por um alto mezanino só se acalmaram de fato às 21h47, quando Mell desceu as escadas de acesso ao palco já interpretando “Prison”. A postos estavam Noel, ao violão, e Binho, aos teclados – este apenas ocasionalmente a assessorá-los. Concluída, a simpática vocalista dirigiu-se à plateia:

“Boa noite! Hoje aqui tem uma mistura de Brasil e Irlanda. Nós somos The Puro, nossa música é feita com muito amor e espero que todos aproveitem a noite. Estou um pouquinho nervosa porque é o primeiro ao vivo, então é isso. Vocês são incríveis e muita gente que está aqui é uma galera que segue e acompanha. Estou muito feliz, o Noel também – ele ama o Brasil, vocês sabiam? Vamos lá, vou falar com ele como ensaiei.”

Os comandos curtos da interação foram “Are you happy?” e “You ok?”, obtendo as respostas “Very” e “Perfect” e arrancando risadas gerais. A gaúcha retomou: “A gente se comunica assim! Obrigada, gente! Aproveitem a noite, viu? E podem fazer barulho!”. Então anunciou “With Keys”, muito fiel a “Com Chaves”, do mesmo single da anterior e mesclando idiomas.

Nervosismo e emoção

Visivelmente nervosa, embora eufórica, a frontwoman acabou se atrapalhando ao entrar em “Shortcuts”. Se Billy Idol teve direito a parar tudo (por duas vezes) em “Eyes Without a Face” no Rock in Rio, Mell também pôde. Antes do reinício, desculpou-se:

“Sorry! Ao vivo tudo pode acontecer, vocês sabem, né? Sem vergonha, a gente é brasileiro e a gente erra. Vamos lá, Noel!”

Brincando, caprichou no inglês: “Again? You ok?”. A reação da galera? Ofereceu apoio incondicional a ela numa canção ainda mais poderosa ao vivo se comparada ao registro de estúdio.

Em seguida, fizeram “Renascer”, com ela equipada com um violão a fim de acudir o tímido Noel. Enquanto este repórter observava uma bela tatuagem do Linkin Park na mão esquerda da brasileira e notava a total ausência de decoração e merchandising (se houvesse qualquer item à venda, teriam faturado), chegara o esperado momento de uma homenagem “para uma grande artista que se foi, mas que sempre será lembrada”.

Subitamente a contextualização que introduzia “Shattered”, lançada pelo The Cranberries no álbum “Bury the Hatchet” (1999), foi interrompida. Emocionada, Mell desatou a chorar até conseguir continuar: “Me desculpem, Dolores se foi, mas…”, hesitação imediatamente completada por um fã num tocante “…a gente a ama”. Mesmo sentindo o peso da diferença entre fazer gravações de YouTube e encarar selecionada audiência, ela tirou as dificuldades de letra e prosseguiu.

Público nas mãos

Se àquela altura os dois já tinham o povo nas mãos, o que dizer com relação à performance de “Zombie”, clássico do disco “No Need to Argue” (1994)? Ponto alto, ao menos no quesito coro popular. Se você fechasse os olhos e desse o devido desconto, acreditaria ser a saudosa Dolores cantando ali.

Rumando à reta final do repertório, executaram a inédita “The Cure”, integralmente em português apesar do título, e “Law of Return”, novamente combinando idiomas. Mais extensa da noite, “Goodbye” encerrou a parte regular do set, batismo bastante apropriado para uma despedida – ainda que temporária.

Doce, Mell resumiu perfeitamente o clamor coletivo pelo regresso: “Vocês chamaram, né? Essa música a gente ensaiou hoje, hein?”. Era a inédita “Além dos Meus Olhos”, título revelado por ela ao ser indagada por este que vos escreve ao término do show. Curiosamente a saideira estava de fora do setlist de palco, que trazia a data incorreta de “October 21st, 2022”.

De coração? Tremenda estreia, com gostinho de quero mais, e foi ótimo ver e escutar Noel de pertinho. Caso tenha interesse em conhecer melhor o projeto, clique para ouvir o EP “Law of Return” e conferir outros materiais publicados sobre a banda. Uma entrevista com a dupla será publicada aqui no site nos próximos dias.

*Fotos de Andre Santos / @andresantos_mnp

The Puro – ao vivo em São Paulo

  • Local: Casa Rockambole
  • Data: 20 de outubro de 2022

Repertório:

  1. Prison
  2. With Keys
  3. Shortcuts
  4. Renascer
  5. Shattered (The Cranberries)
  6. Zombie (The Cranberries)
  7. The Cure
  8. Law of Return
  9. Goodbye

Bis:

  1. Além dos Meus Olhos

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