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Pixies chegam perto, mas ainda estão longe do passado em “Doggerel”

Novo álbum das lendas do alternativo aposta em arranjos maiores inspirados em surf music e trilhas de faroeste spaghetti, mas algo ainda falta

Desde a saída de Kim Deal em 2013 e o lançamento de “Indie Cindy” (2014), seu primeiro disco de inéditas desde “Trompe Le Monde” (1991), os Pixies parecem estar em redescoberta. Tentam retomar não somente os elementos mecânicos do que faz uma música do grupo, como também a motivação temática por trás dos melhores momentos da carreira.

“Doggerel”, que chega por meio da gravadora BMG, é a melhor tentativa até agora de recobrar a magia. Porém, ainda parece ser o som de pessoas de meia idade tentando compreender o que suas versões mais jovens estavam pensando quando mudaram a cara do rock.

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Tentando recobrar o passado

Ao longo de seus primeiros quatro discos e o EP “Come On Pilgrim” (1993), os Pixies revolucionaram o rock através de sua exploração de dinâmicas sonoras – o agora tradicional loud-quiet-loud. Contudo, há de se argumentar que tão importante para a receita do grupo eram as letras de Black Francis, explorando temas religiosos banhados em surrealismo, sexo, terror e ficção científica. 

Quando a banda retornou ao estúdio com “Indie Cindy”, em vez de tentar recapturar isso, fomos sujeitos a um vazio intelectual que se passava por dadaísmo musical. Os dois álbuns subsequentes, “Head Carrier” (2016) e “Beneath the Eyrie” (2019), apresentaram uma melhora significativa, em grande parte graças à presença da baixista Paz Lenchantin (A Perfect Circle), que se juntou à formação em 2016.

Entretanto, o grupo continuava tentando copiar a si mesmo em termos musicais – ou o que eles achavam que eram originalmente. Em “Doggerel”, ainda bem, eles resolvem tentar compreender a identidade sonora da banda em 2022 em vez de recriar um passado parcial.

Numa declaração oficial na época do anúncio do disco, Black Francis falou sobre isso:

“Estamos tentando fazer coisas que são muito grandes, arriscadas e orquestrais. O lado punk, eu gosto muito de tocar, mas não dá para artificialmente criar essa m#rda. Existe outro jeito de fazer isso, tem outras coisas que podemos fazer com essa energya extra especial que estamos encontrando.”

Soando diferentes para ficar iguais

A busca por algo maior, mais arriscado e orquestral acaba dando certo nos melhores momentos de “Doggerel”. Os singles “Vault of Heaven” e “There’s a Moon On” transbordam criatividade com seu uso de surf music, rockabilly e influência das trilhas de Ennio Morricone. A faixa-título, com seu arranjo esparso e ritmo funky, é fenomenal. O trabalho de Joey Santiago na guitarra nessas canções merece muitos elogios por apresentar uma dimensão nova a seu estilo.

Ainda assim, os Pixies esbarram na realidade de que Black Francis não é o mesmo letrista de antes. O homem nascido Charles Thompson IV passou por muito trabalho terapêutico em si mesmo e parece estar num lugar muito melhor mentalmente. Nesse processo, ele parece ter superado grande parte dos complexos responsáveis por ditar os momentos mais psicóticos e excitantes da discografia do grupo.

“Doggerel” é o quarto álbum desde o retorno dos Pixies como banda de estúdio e eles nunca estiveram tão perto do que eram. O problema é: isso ainda é longe demais. 

Se pensarmos nessa encarnação do grupo como uma entidade separada, “Doggerel” é um disco legal. No entanto, ao levar em conta a história completa – como não conseguimos evitar de fazer –, continua sendo uma cópia desbotada de algo muito superior.

Ouça “Doggerel” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Pixies – “Doggerel”

  1. Nomatterday
  2. Vault of Heaven
  3. Dregs of the Wine
  4. Haunted House
  5. Get Simulated
  6. The Lord Has Come Back Today
  7. Thunder and Lightning
  8. There’s A Moon On
  9. Pagan Man
  10. Who’s More Sorry Now?
  11. You’re Such A Sadducee
  12. Doggerel

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

2 COMENTÁRIOS

  1. crítica ridícula de um jovem tolo que pouco entende da vida e damúsica. É um álbum mais refinado, amadurecido como vinho. Não existe necessidade de igualar o que foi feito outrora, e nem é isso que o album pretende. Aos meninos as coisas de meninos, e aos homens, as coisas de homens. A banda desfruta de um conforto com seu estilo,capacidades e formas particulares de fazer música, que faz com brilhantismo, mas de forma comedida, sem necessidade de impressionar, mas com detalhes que os menos afoitos vão conseguir saborear com galhardia. Nota 10

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