Assisti aos shows do Sepultura e de Max e Iggor Cavalera em SP; saiba o que achei

Apresentações realizadas no mesmo fim de semana em locais distintos da cidade agradam por razões diferentes - e evidenciam por que comparar é bobagem

Fãs de Sepultura tiveram uma oportunidade única de conferir dois (na verdade, três) shows especiais em São Paulo no mesmo fim de semana. Sexta-feira (5) e sábado (6), a banda em si se apresentou na comedoria do Sesc Pompeia. Já no domingo (7), Max e Iggor Cavalera, ex-integrantes do grupo, performaram na Audio. Cerca de 1,5 km separam os dois locais – basicamente, há apenas um Allianz Parque, estádio do Palmeiras para o qual os irmãos Cavalera tanto torcem, entre tais pontos.

Pude acompanhar o show do Sepultura na sexta (5), além da data única de Max e Iggor na capital paulista. E eu sei que você clicou para ler este texto em busca de comparações. Antes de tudo, é bom deixar claro: isso não será feito. Não há papo de “melhor” ou “pior” aqui, até porque música não é competição e esse papo de “viúva” daqui, “verdadeiro” dali enche o saco.

- Advertisement -

Além disso, qualquer paralelo traçado seria injusto. Foram apresentações diferentes, em locais de perfis distintos, em contextos incomparáveis em muitos sentidos.

Acompanhe resenhas de ambos os eventos com fotos de Gustavo Diakov / Sonoridade Underground.

Sepultura em cenário intimista

Formado por Derrick Green (voz), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr (baixo) e Eloy Casagrande (bateria), o Sepultura vive hoje seu melhor momento desde justamente a saída do frontman Max Cavalera, mais de 25 anos atrás. Os álbuns mais recentes comprovam isso – e é com a turnê do último disco, “Quadra” (2020), que o grupo segue excursionando pelo Brasil após passagens por América do Norte e Europa.

Diferentemente dos grandes festivais onde a banda vinha tocando até então, o Sesc Pompeia oferece um ambiente pra lá de intimista. Cabem algumas centenas de pessoas e há até mesas nas áreas que ficam nas laterais do palco. Era como um show em centro de convivência de faculdade, só que com o maior grupo brasileiro de heavy metal da história.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Vendo de perto, deu para confirmar que o Sepultura fez e faz justiça a esse título. A apresentação de 17 músicas correu perfeitamente do início ao fim. Da entrada pontualíssima ao palco até o encerramento com o clássico-mor “Roots Bloody Roots”, o quarteto fez transparecer que cada movimento, cada nota, cada batida havia passado por constantes ensaios. Um show redondo, tecnicamente primoroso e com performances que remetiam diretamente às gravações em estúdio – o que não é nada fácil.

Após “Polícia”, dos Titãs, ser tocada nas caixas de som, o quarteto sobe ao palco e toca “Isolation”, uma das várias músicas de “Quadra” que seriam executadas naquela noite. Impressiona, como já dito, a precisão na interpretação. Os timbres dos instrumentos, as viradas de Eloy Casagrande e especialmente os vocais de Derrick Green soam como se você simplesmente tivesse colocado o disco para tocar, tamanha a perfeição.

Emendada com a faixa de abertura, vem “Territory”, um dos maiores hits do grupo. Nesta e em outras músicas dos tempos de Max Cavalera, percebe-se que a diferença na interpretação de Derrick Green: o brasileiro nunca foi um cantor técnico e sempre convenceu na “raça”, enquanto que o americano parece ter controle de cada nota. Tem pra todo gosto – e eu curto os dois.

Ao fim de “Territory”, há a primeira interação com o público. Em português, Green agradece aos presentes e apresenta a música seguinte, “Means to an End”. Tanto ela quanto a seguinte, “Capital Enslavement”, são oriundas de “Quadra”. A segunda citada, em especial, volta a evidenciar o capricho do Sepultura em trazer performances muito similares às que ouvimos no disco, a ponto de faixas pré-gravadas com elementos orquestrais acompanharem a execução desde a introdução com bateria tribal. Conferiu um tom dramático convincente.

“Kairos”, faixa-título do visceral álbum de 2011, surgiu como uma das raras incursões a músicas da era Derrick Green pré-“Quadra”. Encerrada a performance, Andreas Kisser conversou com a plateia e foi ovacionado ao agradecer pelo apoio e carinho dos fãs após a morte de sua mulher, Patricia – o guitarrista se retirou no meio da turnê europeia para passar os últimos momentos com a esposa, que faleceu em decorrência de um câncer. No palco, não houve tanto tempo para emoção, já que uma das faixas mais empolgantes do setlist foi tocada: “Propaganda”, do disco “Chaos A.D.” (1993), com uma roda formada na plateia a pedido do próprio guitarrista.

Mais duas canções de “Quadra” foram apresentadas. A primeira foi “Guardians of Earth”, com direito à sua introdução no violão de náilon devidamente tocada por Andreas e coros reproduzidos no VS enquanto a banda quebrou tudo ao vivo. A segunda, “Last Time”, mostrou como o baixo de Paulo Jr é importante para a dinâmica do grupo: discreto, mas sólido e imponente, segurou as pontas em uma das músicas onde a guitarra de Kisser mais aparece.

Dois lados B foram emendados na sequência. Um deles, “Cut-Throat”, vem de “Roots” e representou um dos momentos mais viscerais da apresentação. “Corrupted”, de “Roorback” (2003), trouxe crueza sonora de outra forma, novamente representada pelo baixo de Paulo, incrivelmente grave. Entre essas duas canções, alguém na plateia, talvez empolgado por assistir a uma banda desse calibre num espaço tão intimista, chegou a gritar “toca Raul”. Ouviu, de outro ponto do público, um sonoro “‘toca Raul’ na casa do car#lho”. Justo.

“Machine Messiah”, faixa-título do álbum de 2017, rendeu uma merecida salva de palmas ao fim para a banda – em especial a Derrick, que interpreta toda a canção em sua voz natural. Cadenciada, a faixa até poderia quebrar o clima, mas pareceu combinar com a sofisticação técnica do repertório atual do Sepultura. Green, que passou várias músicas sem conversar com o público, voltou a se comunicar para anunciar a lado B “Infected Voice”, vinda do disco “Arise” (1991), que ganhou boa versão com a formação atual.

Antes de desfilar seus maiores hits, o grupo tocou “Agony of Defeat”, mais uma de “Quadra”, onde faixas pré-gravadas com teclados e outros elementos acrescentam uma boa dose de drama. Com o novo álbum devidamente apresentado, era hora de recorrer aos clássicos “Refuse/Resist” e “Arise”, com direito a um trechinho de “Owner of a Lonely Heart” (Yes) entre as duas, para encerrar o repertório convencional da noite.

Uma pequena pausa foi dada antes da entrada para o bis, que nos reservou mais dois hits: “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”, ambas do disco “Roots”. A primeira, por motivos óbvios, parecia mais enxuta por não trazer todos os elementos de percussão, mas soou completa e bem interpretada. A segunda foi tocada, basicamente, para lavar a alma de quem estava presente: representou o momento de catarse coletiva que todos esperam de um show da banda.

Como as músicas do Sepultura estão cada vez mais complexas e a técnica dos envolvidos tem chamado atenção conforme eles se entrosam ainda mais com o passar dos anos, dá para dizer seguramente que este é um show para se apreciar observando os detalhes muito mais do que para bater cabeça. As músicas de “Quadra” são pesadas, mas trazem ganchos melódicos fortes e passagens instrumentais que impressionam.

Sei que você está doido para ler alguma comparação, então, se te serve de consolo, talvez seja esse o único ponto que possa ser colocado em paralelo com o show dos irmãos Cavalera. O que, obviamente, não significa que um seja melhor ou pior que o outro. Dá para assistir e curtir ambos tendo esse pensamento em mente.

Sepultura – ao vivo em São Paulo

  • Local: Sesc Pompeia
  • Data: 5 de agosto de 2022
  • Turnê: Quadra Tour

Repertório:

  1. Isolation
  2. Territory
  3. Means to an End
  4. Capital Enslavement
  5. Kairos
  6. Propaganda
  7. Guardians of Earth
  8. Last Time
  9. Cut-Throat
  10. Corrupted
  11. Machine Messiah
  12. Infected Voice
  13. Agony of Defeat
  14. Refuse/Resist (com trecho de “Owner of a Lonely Heart”, do Yes, ao fim)
  15. Arise
    Bis:
  16. Ratamahatta
  17. Roots Bloody Roots

Entre o Sepultura e os Cavalera…

Enquanto o show do Sepultura não teve atração de abertura, Max e Iggor Cavalera trouxeram duas bandas para dar início aos trabalhos na Audio, já no domingo (7). A primeira, Sinaya, é um nome em ascensão no deathcore – o quarteto formado por Mylena Mônaco (vocal), Helena Nagagata (guitarra), Amanda Melo (baixo) e Amanda Imamura (bateria) se apresenta como o primeiro grupo do gênero no mundo formado só por mulheres. A segunda, Krisiun, dispensa introduções. Os gigantes do death metal, curiosamente, estampavam a camiseta usada por Andreas Kisser em seu show na última sexta (5).

Apresentada pelo mestre de cerimônias do vocalista Marcello Pompeu (Korzus), que também destacou as ações sociais da produtora do evento, Honorsounds, a Sinaya começou seu show de forma um pouco inesperada: com um solo de bateria da talentosa Amanda Imamura. Demonstrou tamanha técnica que arrancou aplausos empolgados de uma plateia que ainda se acomodava nas pistas e camarotes do local.

Ainda que esteja na ativa desde 2013, o grupo lançou até hoje apenas um álbum full-length, “Maze of Madness” (2018), além de uma série de singles e o EP “Obscure Raids” (2013). Foi este material que embasou o setlist apresentado, inclusive destacando uma nuance interessante: as músicas mais antigas são fortemente influenciadas pelo thrash/death metal de pegada convencional, enquanto as mais atuais flertam com o deathcore, embora tragam fraseados de guitarra bem tradicionais de Helena Nagagata.

Além da já mencionada habilidade de Imamura na bateria, cabe destacar a performance e a presença de Mylena Mônaco, que deu o sangue e fez o que estava a seu alcance para empolgar a ainda fria plateia presente. Em alguns momentos, conseguiu: a visceral “Legion of Demons”, a ainda inédita “Struck Out by You” (que foi gravada com participação de Diva Satanica, vocalista da Nervosa) e a paulada “Obscure Raids” foram bem recebidas.

Mas o momento que mais convenceu foi “Afterlife”, que trouxe participação de Mayara Puertas (Torture Squad) na vaga de CJ McMahon (Thy Art is Murder), presente na gravação da faixa em estúdio. A presença de duas cantoras nos distraiu de um problema que se repetia em parte do show: a falta de um instrumental mais sólido, que não ficasse vazio quando Helena fizesse solos. Apesar de terem algumas arestas pra aparar em sua performance, a Sinaya agradou a quem chegou cedo para o show.

Sinaya – ao vivo em São Paulo

  • Local: Audio
  • Data: 7 de agosto de 2022

Repertório:

  1. Pure Hate
  2. Legion of Demons
  3. Riddle of Death
  4. Buried by Terror
  5. Struck Out by You
  6. Obscure Raids
  7. Afterlife
  8. Psychopath

Minutos antes do horário combinado, o Krisiun subiu ao palco para dar sequência aos trabalhos. Anunciados por Pompeu como a melhor banda de death metal do Brasil, os irmãos Alex Camargo (voz e baixo), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) fizeram um show intenso e incrivelmente pesado.

A intro de pegada tribal foi sucedida por “Kings of Killing”, faixa do álbum “Apocalyptic Revelation” (1998), que encaixa perfeitamente na abertura. Alex Camargo pediu uma boa roda para “Ravagar”, que veio na sequência, e o público atendeu. Mesmo assim, o frontman não ficou satisfeito e pediu outras rodas cada vez maiores em várias outras músicas. Entre as duas seguintes, “Swords into Flesh” e “Combustion Inferno”, chegou a reclamar que a plateia estava “muito comportada”.

“Swords into Flesh”, vale destacar, foi uma das três músicas do novo álbum “Mortem Solis” (2022) a compor o setlist. “Serpent Messiah” e “Sworn Enemies”, respectivamente quinta e sétima do repertório, foram as outras selecionadas para a noite, que representava justamente o show de lançamento do disco.

Ainda que reclamasse vez ou outra do público pouco disposto a fazer rodas e outras manifestações do tipo, Alex não escondeu sua satisfação por tocar com sua banda naquela ocasião. Deixou claro seu respeito pelos irmãos Cavalera e pelo Sepultura, dizendo que “se o Krisiun está aqui, foi por causa do Sepultura nos anos 80”. Dino Cazares, descrito pelo frontman como um dos melhores guitarristas do mundo, também foi lembrado.

“Scourge of the Enthroned”, a já citada “Sworn Enemies”, um cover de “Ace of Spades” (Motörhead) e “Hatred Inherit” encerraram, nesta ordem, um show irretocável. A performance do Krisiun é bastante sólida, o que é difícil para um power trio em um gênero mais extremo. Max é um dos melhores bateristas do estilo em todo o mundo; Alex se distribui bem nas funções de vocalista que também precisa ser “mestre de cerimônias” e baixista com a complicada atribuição de preencher o som; e Moyses precisa ser mais lembrado como um dos grandes guitarristas de seu segmento, pois toca muito e é quem coloca a cereja neste bolo.

Krisiun – ao vivo em São Paulo

  • Local: Audio
  • Data: 7 de agosto de 2022
  • Turnê: Mortem Solis

Repertório:

  1. Kings of Killing
  2. Ravager
  3. Swords into Flesh
  4. Combustion Inferno
  5. Serpent Messiah
  6. Scourge of the Enthroned
  7. Sworn Enemies
  8. Ace of Spades (cover de Motörhead)
  9. Hatred Inherit

Irmãos Cavalera e as raízes

Com pouco mais de 15 minutos de atraso, Max Cavalera (voz e guitarra), Iggor Cavalera (bateria), Dino Cazares (guitarra) e Mike Leon (baixo) subiram ao palco para o show principal da noite. Não era Soulfly, nem Cavalera Conspiracy, muito menos Sepultura: eram Max, Iggor, Dino e Mike celebrando, ainda que com um ano de atraso, os 25 anos do seminal “Roots”, álbum de maior sucesso da ex-banda dos irmãos Cavalera – e último do vocalista com o grupo.

“Roots”, cabe destacar, não foi tocado exatamente na íntegra. A acústica “Jasco” e as pouco lembradas “Born Stubborn” e “Endangered Species” ficaram de fora da ocasião. Ligeiras mudanças foram feitas na ordem das faixas para, imagino eu, encaixar melhor com a fluidez do repertório.

Encerrada a introdução climática pré-gravada, a banda entra no palco e Max Cavalera logo diz: “São Paulo! P#ta que pariu, vamos destruir tudo”. “Roots Bloody Roots”, o maior hit da carreira dele, do irmão e do Sepultura como um todo foi tocado logo na abertura. A Audio foi abaixo. Mal dava para ouvir a voz de Max, visto que os fãs entoaram cada verso da canção em alto e bom som. Jogo ganho logo de cara.

“Attitude”, na sequência, mostrou que não era só o público que fazia a voz de Max Cavalera não ser ouvida. Seja por uma leve falta de fôlego (que curiosamente sumiria no desenrolar do repertório) ou por não ficar próximo ao microfone enquanto cantava, o frontman nem sempre era escutado com clareza. Se faltou Max em alguns momentos, sobrou Iggor no geral: nesta faixa e em toda a noite, deu para ver que o baterista tantas vezes citado como o melhor do mundo por veículos especializados não perdeu nada de sua técnica e potência. Acompanhado de sua bandeira do movimento Antifa, o homem deu show.

A gigantesca roda aberta na faixa anterior foi mantida na seguinte, a visceral “Cut-Throat”. Passado o frenesi das duas canções de abertura, percebe-se melhor o quanto Dino Cazares e Mike Leon estão à vontade em suas funções. Chama atenção especialmente que Cazares tenha se adaptado tão bem. Acostumado a comandar suas próprias bandas (Fear Factory, Brujeria, Asesino e Divine Heresy), o guitarrista caiu como uma luva. Parece tocar com Max e Iggor há décadas. Leon, por sua vez, tem presença de palco emblemática e emula os timbres pesadíssimos de Paulo Jr com perfeição.

Para não dar tempo de respirar, “Ratamahatta” vem em seguida. É a quarta música tocada sem praticamente qualquer diálogo entre uma canção e outra. Como em “Attitude” e outros momentos em que se fazem necessários instrumentos extra, há faixas pré-gravadas oferecendo apoio – aqui, com sons de berimbau. A divisão de vocais não-combinada entre Max e a plateia foi de arrepiar.

Enfim, chegamos à primeira pausa entre músicas. Max Cavalera deseja boas-vindas aos presentes que lotaram a casa para festejar os 25 anos de “Roots”. Em seguida, o repertório mergulha em algumas músicas menos lembradas do álbum: “Breed Apart” em versão enxuta pela óbvia falta de instrumentos como berimbau, “Straighhate” com todos os detalhes de instrumental bem encaixados – é difícil demais equilibrar os sons de uma banda que soa tão grave –, “Spit” e sua pegada acelerada que motiva nova abertura de roda na plateia e “Dusted” com show particular de Iggor Cavalera, fazendo o público pular mais que o habitual.

A partir de “Lookaway”, Max, que já vinha se destacando como um verdadeiro frontman nas faixas anteriores, parece se encontrar de vez. No meio da canção, que fica apenas com baixo e bumbo de bateria, o vocalista, já sem guitarra, jogou água na galera e interagiu muito. Chegou a pedir que as luzes do palco fossem apagadas para que o público, com seus celulares, iluminasse o ambiente. Entrou aí um medley com trechos de “War Pigs” (Black Sabbath) e “Territory”.

Na sequência, a plateia foi surpreendida com uma performance de “Itsári”, a faixa que o Sepultura gravou com a tribo Xavante, e a entrada no palco de ninguém menos que o cacique Cipassé Xavante, responsável por intermediar o trabalho da banda em “Roots” junto à sua aldeia. Durante seu alerta para que toda a sociedade colabore para cuidar do meio ambiente, sonoros gritos contra o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, vieram dos presentes.

O clima de protesto foi mantido com as músicas seguintes. “Ambush”, dedicada ao ambientalista Chico Mendes (assassinado em 1988 por fazendeiros locais incomodados com seu ativismo), e “Dictatorship”, hardcore apresentado por Max como “música para mandar Bolsonaro tomar no c#”, mantiveram o público com a adrenalina lá no alto.

De volta para o bis, o quarteto se mostrou ainda mais à vontade, já que havia concluído a performance dedicada a “Roots”. Com trecho de “Raining Blood” (Slayer) e Iggor Cavalera trajando uma camisa do Palmeiras, o grupo trouxe nos vocais Alex Camargo, do Krisiun, e na guitarra Iccaro Bass Cavalera, filho do baterista, para participarem da visceral “Troops of Doom”.

Iccaro trajava uma camiseta do Brujeria, banda de Dino Cazares que na sequência seria homenageada, já sem o jovem guitarrista e Alex Camargo, com “La Migra” – cantada em português, conforme prometido por Max Cavalera. A rápida faixa foi sucedida por uma intensa performance de “Refuse/Resist”, com direito a wall of death e, novamente, trecho de “Territory”.

Sob a promessa de “voltar à praça Charles Miller, em frente ao Pacaembu”, Max deu início a “Orgasmatron”, homenagem declarada a Lemmy Kilmister, líder do Motörhead que batizou o frontman “com whisky na cabeça”, segundo o próprio. Uma versão que ganha vida própria na voz do brasileiro.

A energia caótica do bis é reforçada com uma performance de “Polícia”, que não estava prevista para aquele set, com os já clássicos palavrões introduzidos por Max Cavalera. Dá para imaginar Dino Cazares tocando Titãs? Pois é: aconteceu. Por fim, “Roots Bloody Roots” foi tocada novamente, mas em versão acelerada. Serviu para lavar de vez a alma dos presentes, que logo se deparariam com uma fina e fria garoa ao deixar a Audio.

Quem deixou de ir ao show dos Cavalera por ter lido ou ouvido alguém falar que “Max e Iggor já não soam como antes” se deu mal. Mesmo precisando de algumas músicas para se acertar, o vocalista mostrou por que ocupa um espaço tão importante na história do heavy metal mundial. O baterista, por sua vez, segue tocando como nunca e impressionando como sempre. Os irmãos se complementam de um jeito único: Max é visceral; Iggor é milimétrico. Dino Cazares e Mike Leon ofereceram a solidez necessária para que os protagonistas brilhassem – e o repertório especial, recheado de clássicos e com alguns lados B que vários fãs sempre quiseram ver ao vivo, certamente ajudou bastante.

Sob a mesma ótica, vacilou quem não tem acompanhado o Sepultura nos últimos anos e não compareceu a algum dos shows por acreditar que “a banda acabou”. Está muito longe disso, ainda bem, e os motivos foram explicados na seção do texto destinada à performance deles.

Como já destacado, cada grupo oferece um tipo de show diferente. São ambos muito bons, com energias e objetivos próprios. E nenhum deles soa como se estivesse na década de 1990. Tanto o Sepultura, que deixou seu som mais elaborado, quanto Max e Iggor, que conseguiram trazer uma dinâmica distinta para um evento que celebrou um álbum antigo.

No fim das contas, se deu bem quem conseguiu assistir às duas apresentações. Dificilmente haverá uma nova oportunidade de conferir os dois grupos em turnês tão específicas e datas tão próximas na mesma cidade.

Max e Iggor Cavalera – ao vivo em São Paulo

  • Local: Audio
  • Data: 7 de agosto de 2022
  • Turnê: Return to Roots 25 Years

Repertório:

  1. Roots Bloody Roots
  2. Attitude
  3. Cut-Throat
  4. Ratamahatta
  5. Breed Apart
  6. Straighthate
  7. Spit
  8. Dusted
  9. Lookaway (com trechos de “War Pigs”, do Black Sabbath, e “Territory”)
  10. Itsári (Cipassé Xavante sobe ao palco no fim)
  11. Ambush
  12. Dictatorshit
    Bis:
  13. Troops of Doom (com participações de Alex Camargo, do Krisiun, e Iccaro Bass Cavalera, filho de Iggor Cavalera; antecedida por trecho de “Raining Blood”, do Slayer)
  14. La Migra (cover do Brujeria)
  15. Refuse/Resist (com trecho de “Territory”)
  16. Orgasmatron (cover do Motörhead)
  17. Polícia (cover do Titãs)
  18. Roots Bloody Roots (versão rápida)

*Fotos de Gustavo Diakov / Sonoridade Underground

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasAssisti aos shows do Sepultura e de Max e Iggor Cavalera em...
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

6 COMENTÁRIOS

  1. Em termos de som extremo e brutalidade…considero a banda Krisiun a melhor de todas as bandas brasileiras!!!! Difícil não ter comparações entre Sepultura e Max Cavalera com os seus projetos…sim, Max está marcado demais com o termo projeto e o Sepultura está mais estável com a banda em si!!!! Estava ouvindo um dia desses a Banda Música Diablo que era Derrick Green nos vocais, cara…na minha opinião ali é banda e mostra um Derrick mais solto, na minha opinião!!!! O Brasil está cheio de bandas boas e muita coisa boa está escondida por aí…não podemos apenas ficar nessa de que o Sepultura abriu as portas para o Metal brasileiro ao exterior, a qualquer momento alguma banda brasileira iria fazer isso!!!! Na hora da Vibe é difícil comparar as bandas, o importante é ver os caras aí tocando e detonando!!!! Sempre vai ter comparações, não tem jeito!!!! Valeu!!!!

  2. Igor Miranda, parabéns pela cobertura e narrativa detalhada!… Belo trabalho!
    E fico feliz de ver meus velhos ídolos ainda detonando… É muito ver que cada um a seu modo continua divulgando o nome do Brasil pelo mundo…
    Sepultura atual mais técnico e Max / Igor mais viceral, mais coração e energia… Mas esta tudo ótimo como está!

  3. Impossível não haver comparações. O Sepultura era e ainda é o maior nome do metal brasileiro lá fora, goste-se ou não deles. E os projetos do Max, sim são projetos; são muito bem feitos….Soulfly , Cavalera Conspiracy e agora Iggor & Max juntos nessa tour comemorativa do magistral ” Roots”! Sem analisar performances o “Sepultura” é uma banda sólida, com disco novo na Pça, tour”s pelo mundo e se apresentando em grandes festivais na Europa e nos E.U.A. Já esse projeto do Iggor & Max é mais para quem nunca viu e os ouviu juntos tocando esse álbum. Porém é certo que ao fim da tour deve ser lançado um DVD, um disco ao vivo e pronto, cada um dos músicos contratados segue seu caminho!

  4. Eu fui no show de Ribeirão Preto.
    Saí de Uberlândia-MG pra ver esse show.
    Mesmo com os problemas que aconteceu antes do show, problemas técnicos com o backline e etc.
    Valeu a pena cada minuto, foi insano o show.
    O Iggor toca demais, concentrado parecida um músico contratado.
    Max dispensa apresentações.
    Esse show ficará na minha lembrança de tanto que foi foda.
    Infelizmente essa palhaçada de não tirar foto, essa “sub celebridade” imposta no back stage de não entrar no camarim, não fizeram questão nenhuma de tirar fotos com os fãs, certeza que isso é por conta da glória mulher do max que estava lá presente.
    Nós que temos ídolos como eles isso é importante pra geração nova entender quem é os irmãos Cavalera o que eles representa aqui e fora do país.
    Mais enfim!

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades