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Entrevista: Gangrena Gasosa prepara “saravá metal” para estreia no Rock in Rio

Banda carioca é atração principal do Espaço Favela, um dos palcos alternativos do festival, no dia 2 de setembro; show será transmitido pela TV

Uma banda como o Gangrena Gasosa, que incorpora elementos de umbanda e religiões de matriz africana em seu visual — cada integrante representando uma entidade, se vestindo como tal — e em suas letras, tinha que ser brasileira mesmo.

Comandado pelo vocalista Angelo Arede (Zé Pelintra), o grupo é o expoente máximo da mistura que outrora batizou saravá metal: um panelaço de thrash, punk, hardcore, exus, pretos velhos, caboclos e pombas-gira.

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Embora esteja na ativa desde 1990, tendo lançado quatro álbuns de estúdio, dois EPs e um DVD, somente em 2022 o grupo realizará o sonho de se apresentar no Rock in Rio, como atração principal do Espaço Favela, um dos palcos secundários do festival, no dia 2 de setembro, com transmissão pelo canal por assinatura Bis.

Às vésperas do show, bati um papo com Arede que, acompanhado do baterista Alex Porto (Exu Tiriri) e da percussionista Gê Vasconcelos (Pomba Gira Maria Mulambo), comentou o que enxerga como um potencial divisor de águas na carreira da banda e o novo disco, que voltará a ser o ponto focal tão logo eles desçam do palco do Rock in Rio.

Entrevista com Gangrena Gasosa

Marcelo Vieira: A grande novidade que está vindo aí é o show do Rock in Rio. Vai ser a primeira vez de vocês no festival. Queria saber como está rolando a ansiedade para um show tão importante.

Angelo: Rapaz, na verdade a minha ansiedade agora é pro que vai acontecer depois do Rock in Rio [Risos.]

Você acha que esse show vai gerar bons frutos para a banda tanto a curto quanto a médio e longo prazo?

Angelo: Claro que sim. Mas é aquilo, né: chegar lá não é fácil, obviamente, mas temos exemplos de um monte de bandas que tocaram no Rock in Rio e depois… meh. Não quero que seja assim. Chegar lá é uma coisa, e no mínimo manter o nível ou almejar coisas maiores é muito mais complicado. Tendo essa exposição pro mundo, uma exposição que nunca tivemos, precisamos estar preparamos.

Na verdade fico até contente que não tenha acontecido até hoje, porque agora estamos mais maduros para fazer as coisas, temos uma pegada mais profissional. Se fosse só chegar lá no Rock in Rio e tocar, beleza, mas tem um monte de coisas que se fosse há um tempo atrás a gente não conseguiria, até mesmo de aparato profissional por trás da música, por trás do que aparece pra galera. Estou bem ansioso.

Os shows, principalmente de bandas underground, meio que adquiriram um contorno de manifestação política. Se alguém puxar um “fora Bolsonaro” no meio do show de vocês, qual vai ser a reação?

Alex: Normalmente é a gente que puxa! [Risos.]

Gê: Eu sempre puxo [Risos.] A galera fica “ei, Bolsonaro, vai tomar no c#” e a gente vai na onda.

Angelo: O máximo que pode acontecer é, nessa hora, eu dar uma de isentão e pegar minha toalhinha do Lula e enxugar a cara. [Risos.] A gente vive uma situação tão atípica que o Lula está com o Chuchu [N.E.: Picolé de Chuchu, apelido de Geraldo Alckmin dado por seus opositores]! Eu nunca imaginaria isso!

Gê: Nunca imaginei que, em pleno 2022, eu teria que defender que a Terra é redonda.

Angelo: Vacina, velho, vacina! O Brasil sempre teve uma tradição incrível com vacinação, um dos sistemas mais avançados, mais permeáveis, que vai lá do agreste baiano, do rincão do Mato Grosso, e de repente temos que falar que tomar vacina não faz virar jacaré! [Risos.]

A turnê do álbum “Gente Ruim Só Manda Lembrança pra Quem Não Presta” (2018) manteve vocês na estrada por dois anos. Vocês tocaram no Brasil todo e os últimos shows foram há poucos dias. Quais os contras de fazer um trabalho de divulgação tão ostensivo e prolongado em cima de um mesmo disco?

Angelo: Pra mim o único contra é não ter sido mais shows! [Risos.] Tô aí pra fazer isso mesmo. Por mim eu tocava todo final de semana ou a semana inteira. É claro que, com essa coisa da internet, da urgência das coisas, dizem que o bom é [gravar] um disco por ano, mas trabalhar por dois anos o “Gente Ruim” foi incrível, eu adorei.

E vocês conseguiram compor no meio disso tudo?

Angelo: Não tem muito uma regra, mas eu tenho no meu HD pelo menos umas trinta ideias de músicas novas mas que precisam ser trabalhadas. As coisas meio que vêm, aí tem que anotar, fazer o registro inicial delas, mas a gente não tem uma regra não. Durante a turnê do “Gente Ruim”, eu tive algumas ideias e registrei-as todas. Mas aí a pandemia acabou dando aquele freio de mão. Depois, foram o Alex e o Minoru [Murakami, guitarrista], que deram o start nas composições durante o lockdown e tiveram uma produtividade bem boa com isso. Daí agora a gente vem completando essas ideias com outras minhas.

Gê: Ficamos quase dois anos sem nos encontrar. Ficamos em casa mesmo. O Alex e o Minoru que deram o start em tudo, eles que começaram, toda a base do próximo álbum foi feito por eles.

Alex: Minoru e eu fizemos ali o embrião. Agora quando voltamos todo mundo contribuiu, e aí sim é que a coisa se torna realmente música.

Foto: Fabiano Soares

Então o próximo álbum é basicamente o bebê pandêmico de vocês?

Alex: Com certeza. O Minoru tinha umas ideias, e eu, já prevendo que a coisa não seria tão rápida por conta da pandemia, trouxe minha bateria toda aqui para a minha casa. Passado um mês, mais ou menos, decidi montar a bateria e começar a gravar uns vídeos para matar a saudade. Aí o Minoru viu aquilo e começou a mandar ideias que tinha gravado em casa com o metrônomo, e aí eu bolei uma forma de gravar a bateria pra mandar de volta pra ele, e a gente formou basicamente o esqueleto das músicas que vão fazer parte do próximo disco.

Angelo: Tem música que é baseada em ideias, por exemplo, da turnê do “Gente Ruim”. Tem uns riffs do Minoru que eram baseados em ideias de recorte numa trip eletrônica, numa vibe eletrônica que eu tive, aí o Minoru pegou outro lance de guitarra… Tem coisas que escrevi uma letra e levei pro ensaio e a gente meio que resolveu a música praticamente num ensaio só, sacou? Foi “ó, eu só tenho essa letra aqui” e as ideias foram surgindo. Ao mesmo tempo, tem ideias lá de 2018 e 2019.

Em que pé estão as gravações?

Gê: Está tudo encaminhado para gravarmos no Tellus, o estúdio da banda Tellus Terror, de Niterói (RJ). É um estúdio bem maneiro, a gente está curtindo. A gente deve lançar uma campanha de financiamento coletivo pro álbum, porque tudo que é bom custa dinheiro e a gente é f#dido. [Risos.]

A ideia é lançar em 2023 mesmo?

Angelo: Eu gostaria que fosse esse ano ainda, mas tem uma coisa que é muito verdade também, que quando você lança um disco em novembro, por exemplo, que era o meu objetivo inicial, em dois meses ele já vai estar velho. A partir do dia 01/01 já vai ser um disco do ano passado.

Gê: Lançar em 2022 vai ser no governo Bolsonaro ainda. Melhor não lançar no governo Bolsonaro não! [Risos.]

Para encerrar, mandem um recado para a galera que vai conferir o show do Rock in Rio!

Alex: Quero convidar toda a galera para assistir ao show. Vai rolar novidades, obviamente, incluindo músicas novas. A expectativa é grande!

Angelo: A gente faz tudo por amor. É claro que tem que ser recompensado porque nem relógio trabalha de graça, mas essencialmente a gente faz porque a gente gosta. É por isso que muita gente vai ficando pelo caminho, por que muita gente diz que rock é época, é uma fase da vida. Não é. Estamos preparadíssimos para que o show do Rock in Rio seja o show das nossas vidas!

O Gangrena Gasosa sobe ao palco do Espaço Favela no dia 2 de setembro às 19h45 com transmissão pelo canal por assinatura Bis.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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