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Por que Kate Bush é avessa a fazer shows e não realiza turnês desde 1979

Apresentações da cantora eram grandiosas e inovadoras, mas o desconforto com vida pública e tragédia em sua equipe colaboraram para afastamento dos palcos

Kate Bush é uma das cantoras mais famosas do Reino Unido, com diversos hits e uma carreira mundialmente reconhecida. No entanto, são poucos os sortudos que a viram em uma apresentação ao vivo.

Até hoje, a artista fez apenas uma turnê em 1979. Depois disso, realizou performances ou participações bem esporádicas ao longo dos anos até decidir oferecer uma série de shows em 2014.

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No fim dos anos 70, época em que lançou seus dois primeiros álbuns, Bush era presença relativamente frequente em programas de TV e outras pequenas exibições. Depois da mencionada turnê de 1979, ela fez poucos shows, que ficaram bem conhecidos justamente por não serem comuns.

Duas dessas aparições ao vivo, em 1987 e 2002, aconteceram ao lado de seu amigo e mentor, o guitarrista David Gilmour, do Pink Floyd.

A grandiosa “Tour of Life”

A primeira – e única – turnê de Kate Bush consistiu em uma série de shows pela Europa em 1979, num giro que foi chamado de “Tour of Life” após sua conclusão. As apresentações contavam com números de mágica, poemas, dança e era um espetáculo realmente grandioso e muito bem coreografado, segundo quem teve a oportunidade de assistir ou trabalhar com a cantora nessa época.

Com uma grande quantidade de profissionais envolvidos, os shows trouxeram inovações para a época, como o uso de microfones auriculares, que permitiam maior liberdade de movimento. A cada música ou momento do show, Bush trocava de figurino e assumia um “personagem” relacionado à música que seria interpretada.

A tour rendeu um EP ao vivo (“On Stage”, 1979) e um álbum/vídeo (“Live at Hammersmith Odeon”, 1994). Todavia, quem esteve presente diz que as gravações não capturam a real grandiosidade do show.

A BBC também produziu um documentário que mostrava a preparação dos profissionais, a montagem do palco e o envolvimento de Bush com o show, que ia desde a escolha do cenário até o design do tourbook.

Kate Bush enfrenta problemas

Apesar do sucesso, a “Tour of Life” teve seus problemas. O maior deles aconteceu quando o engenheiro de iluminação Bill Duffield acabou morrendo em um show de aquecimento da turnê. Isso teria impactado Kate Bush negativamente, embora a tour tenha seguido, com direito a um show-tributo que levantou uma quantia para a família de Duffield. Peter Gabriel e Steve Harley, com quem o engenheiro havia trabalhado, participaram do evento.

Além disso, Bush também sofria de um medo agudo de voar. Apesar de sua performance impecável em todas as datas, Brian Southall, representante da gravadora EMI que acompanhou a turnê, contou ao The Guardian que não era raro ver a cantora “terrivelmente nervosa” antes e durante as apresentações.

https://www.youtube.com/watch?v=XJ1uSKHy03s

Em 2014, a própria Kate falou à BBC sobre sua reação diante de uma plateia e deixou claro que fica bastante ansiosa em situações públicas. Ela disse que sentiu medo do palco em todas as noites, temendo se perder em seus próprios pensamentos e acabar perdendo o foco do momento.

“Eu naturalmente tendo a correr com minha mente, estou sempre pensando em situações e passando por elas. Eu acho que talvez seja um tipo de coisa primal, quando você está tentando pensar ‘consigo chegar até aquela árvore antes do tigre me pegar?’

Então minha cabeça está sempre à frente, tentando chegar à conclusão do que quer que seja essa jornada. E quando começamos o show, eu tenho que estar absolutamente naquele momento. Mas eu ficava tão preocupada que minha mente vagasse e que quando eu voltasse eu não saberia onde estava.”

A cantora entendia que a vida em turnê era agradável, mas muito exaustiva. Dessa forma, passou a se dedicar apenas aos trabalhos em estúdio e aos videoclipes, agregando dessa forma a parte visual à sua obra.

“Não foi planejado desse jeito”

Por outro lado, em entrevista ao jornal The Independent, Kate Bush admitiu que, originalmente, os planos eram de fazer mais turnês.

“Não foi planejado desse jeito, porque eu realmente gostei dos primeiros shows que fizemos. O plano na época era de que eu faria mais dois álbuns com material inédito e então, faríamos um novo show. Mas é claro, quando eu cheguei no final do álbum ‘The Dreaming’, a coisa saiu um pouco de controle, porque eu me envolvi muito mais com o processo de gravação.

E também, sempre que eu terminava um álbum, entrava em projetos visuais, e mesmo que sejam peças curtas, eles ainda levam muito tempo para fazer. Então eu comecei a me afastar da ideia de ser uma artista que performa ao vivo, para ser uma artista de gravação com trabalhos visuais.”

Com exceção das aparições esporádicas, ela só voltaria aos palcos 35 anos depois da “Tour of Life”.

Kate Bush volta com “Before the Dawn”

Em 2014, Kate Bush anunciou uma residência de 22 datas no mesmo Hammersmith Odeon (agora renomeado Hammersmith’s Apollo) onde encerrou sua turnê de 1979. O projeto recebeu o título de “Before the Dawn” e era quase tão ambicioso quanto à “Tour of Life”: o show era dividido em 3 atos, com direito a diversos números artísticos enquanto os hits da artista eram apresentados.

Os ingressos se esgotaram rapidamente e todas as datas foram um absoluto sucesso. Porém, mais uma vez, Bush se mostrou incomodada com a ideia de se apresentar ao vivo.

Em entrevista à BBC, ela confessou que a ideia de fazer shows parecia mais agradável do que colocar tudo em prática de fato.

“Sim, eu estava apavorada. A ideia de criar esse show foi algo que eu achei realmente interessante e realmente excitante… mas entrar nisso foi algo que eu tive que trabalhar duro, porque eu estava assustada por trabalhar ao vivo como performer de novo.”

Desde então, a artista não subiu mais ao palco. As atividades de sua carreira no geral também se mantiveram mais discretas: após a sequência como residente, ela lançou um livro com suas letras (“How to Be Invisible”) e box sets com seus discos remasterizados, entre outros materiais que não são inéditos.

Ressurgimento com “Running Up That Hill”

Em 2022, Kate Bush voltou a ser bastante comentada após o uso da música “Running Up That Hill” na quarta temporada da série “Stranger Things”. A faixa caiu tanto no gosto do público mais jovem que chegou ao topo do ranking global do Spotify, mesmo 37 anos após seu lançamento original.

Em nota, a cantora expressou sua felicidade pelo novo sucesso da canção.

“Vocês devem ter ouvido que a primeira parte da nova e fantástica temporada da série ‘Stranger Things’ foi lançada recentemente na Netflix. A trilha inclui a música ‘Running Up That Hill’, que está recebendo um novo sopro de vida pelos jovens fãs que amam o show – eu também amo!

Por causa disso, ela está novamente nas paradas em todo o mundo, incluindo o 8º lugar no Reino Unido. É tudo muito emocionante! Muito obrigado a todos que apoiaram a música.”

Será que isso motivaria Kate, hoje com 63 anos, a voltar aos palcos? Resta-nos aguardar.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

5 COMENTÁRIOS

  1. Que pena, adoro as músicas dela, que por sinal a primeira música que vem a minha cabeça da minha lembrança de infância é Wuthering Heights, ouço ela sempre.
    Parabéns pela matéria.

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