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Fantastic Negrito volta a se superar no incrível “White Jesus Black Problems”

Conceitual, quinto álbum de Xavier Amin Dphrepaulezz sob pseudônimo mostra de várias formas como a diversidade é importante - inclusive para o êxito artístico

Quais os próximos passos para um artista que já se estabeleceu como referência de seu segmento e ganhou três prêmios Grammy, na categoria Melhor Álbum Contemporâneo de Blues, com seus três últimos discos? Fantastic Negrito encontrou uma solução ousada em “White Jesus Black Problems” – e, como de costume, se saiu muito bem.

Em seu quinto trabalho sob o pseudônimo que o consagrou mundialmente, Xavier Amin Dphrepaulezz levou sua sonoridade mista e empolgante para outro patamar. Resolveu fazer um disco conceitual acompanhado de um filme, com o mesmo título, que transforma a história musical em trama cinematográfica.

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O enredo é, indiretamente, autobiográfico. No século 18, uma escocesa chamada Elizabeth Gallimore que trabalhava como serva contratada viveu um casamento de direito com um escravizado afroamericano na Virgínia, nos Estados Unidos. A união, que desafiava as leis da época, foi a responsável por Fantastic Negrito sete gerações depois. Sim, estamos falando dos heptavós do artista, que descobriu essa história apenas recentemente.

Ecletismo sem bagunça

“White Jesus Black Problems” funciona mesmo sem o filme que o acompanha. O enredo discutido nas letras e nas três vinhtas presentes na tracklist engrandece uma obra que mostra, no fim das contas, o quão importante é a diversidade – na música e na vida como um todo.

Como outros trabalhos de Fantastic Negrito, este álbum é extremamente eclético. Aliás, talvez seja o mais diverso entre todos. Diferentes ramificações do blues abraçam gêneros como rock, gospel, soul, funk, R&B e até country. Fora as inserções de ritmos claramente emprestados da música africana e outras referências que fogem até mesmo do conhecimento deste jornalista.

Mas nada de bagunça: a variedade de estilos é trabalhada com cuidado, de modo que tudo soe natural e amarrado. Méritos não apenas do protagonista, como também de sua banda formada por James “StickNasty” Small (também no elenco do filme) na bateria. Cornelius Mims no baixo, Mas Kohama na guitarra e LJ Holoman nos teclados, além de convidados como Mia Pixley no violoncelo e Dom Flemons no banjo.

Faixa a faixa

Acostumado a ter músicas bem enérgicas na abertura de seus álbuns, “Venomous Dogma” surpreende nesse sentido. A faixa é quase prog: começa lenta e logo progride junto da história narrada na letra ao adotar uma pegada visceral. “Highest Bidder”, liberada anteriormente como single, dá sequência mesclando funk rock com grooves raros entre artistas americanos. Um dos grandes destaques.

A questionadora vinheta “The Mayor of Wasteland” prepara o cenário para “They Go Low”, melancólica tanto em melodia – com direito a uma das melhores performances vocais do álbum – quanto na letra que, como o título indica, retrata como o ser humano pode ser baixo. Momento grandioso do trabalho.

O clima muda um pouco com a upbeat “Nibbadip”. Apesar da letra refletir sobre a prisão da heptavó de Negrito por ter um relacionamento ilegal com o escravizado heptavô, a melodia positiva guiada por guitarras funky e órgãos envolventes te faz ter alguma esperança.

A esquisitinha (no bom sentido) “Oh Betty” coloca sintetizadores na linha de frente enquanto o heptavô canta para sua amada que não irá desistir dela. A vinheta “You Don’t Belong Here”, explicitando absurdos racistas que se ouvia (e ainda ouve) na América, é sucedida pela obscura “Man With No Name”, talvez uma das mais viscerais do trabalho. Chama atenção a capacidade de interpretação vocal de Negrito, que capricha nos tons agudos.

“You Better Have a Gun” é um dos momentos mais surpreendentes do trabalho. Não só pelo tom positivo, mas especialmente por explorar o country – à moda Xavier, claro, com seus grooves e recheios sonoros típicos.

Talvez os dois momentos menos convincentes do disco estejam na sequência: o blues frenético “Trudoo” e a experimental “In My Head”. Ambas funcionam no contexto do álbum, mas perdem força se analisadas isoladamente.

Por sorte, o clima geral no fechamento do registro se eleva novamente. Mais uma vinheta, “Register of Free Negroes”, precede a conclusão da tracklist e da história: “Virginia Soil”. O tom esperançoso sobre a “vindoura liberdade” da letra é abrilhantado pela parte musical, que nos remete ao melhor que há dos gêneros de raiz americanos – muitos deles desenvolvidos pelos negros. Os acréscimos de violoncelo e banjo são surpreendentes, assim como o trabalho vocal conjunto.

Surpreendendo novamente

“White Jesus Black Problems” volta a mostrar por que Fantastic Negrito é um dos grandes nomes da música contemporânea. Não é fácil de ser absorvido em audições iniciais, mas é do tipo de álbum que vale parar pra ouvir prestando atenção em cada detalhe.

Por ser diferente das obras anteriores de Negrito, este disco não rende comparações com seus antecessores. Agrega, evidentemente, muitos elementos especialmente de “Have You Lost Your Mind Yet?” (2020), que também discute o racismo – só que na contemporaneidade – e mergulha em misturas musicais de forma mais clara que os demais.

Ainda assim, “White Jesus Black Problems” soa diferente de tudo o que Xavier Amin Dphrepaulezz já fez. Não só isso: é diferente de tudo o que você já ouviu até então. Só por isso, vale sua atenção. E valerá mais ainda após a seguinte definição: é um dos melhores discos que ouvi neste ano.

Ouça “White Jesus Black Problems” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Fantastic Negrito – “White Jesus Black Problems”

  1. Venomous Dogma
  2. Highest Bidder
  3. Mayor of Wasteland
  4. They Go Low
  5. Nibbadip
  6. Oh Betty
  7. You Don’t Belong Here
  8. Man With No Name
  9. You Better Have A Gun
  10. Trudoo
  11. In My Head
  12. Register of Free Negroes
  13. Virginia Soil

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Conceitual, quinto álbum de Xavier Amin Dphrepaulezz sob pseudônimo mostra de várias formas como a diversidade é importante - inclusive para o êxito artístico

Quais os próximos passos para um artista que já se estabeleceu como referência de seu segmento e ganhou três prêmios Grammy, na categoria Melhor Álbum Contemporâneo de Blues, com seus três últimos discos? Fantastic Negrito encontrou uma solução ousada em “White Jesus Black Problems” – e, como de costume, se saiu muito bem.

Em seu quinto trabalho sob o pseudônimo que o consagrou mundialmente, Xavier Amin Dphrepaulezz levou sua sonoridade mista e empolgante para outro patamar. Resolveu fazer um disco conceitual acompanhado de um filme, com o mesmo título, que transforma a história musical em trama cinematográfica.

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O enredo é, indiretamente, autobiográfico. No século 18, uma escocesa chamada Elizabeth Gallimore que trabalhava como serva contratada viveu um casamento de direito com um escravizado afroamericano na Virgínia, nos Estados Unidos. A união, que desafiava as leis da época, foi a responsável por Fantastic Negrito sete gerações depois. Sim, estamos falando dos heptavós do artista, que descobriu essa história apenas recentemente.

Ecletismo sem bagunça

“White Jesus Black Problems” funciona mesmo sem o filme que o acompanha. O enredo discutido nas letras e nas três vinhtas presentes na tracklist engrandece uma obra que mostra, no fim das contas, o quão importante é a diversidade – na música e na vida como um todo.

Como outros trabalhos de Fantastic Negrito, este álbum é extremamente eclético. Aliás, talvez seja o mais diverso entre todos. Diferentes ramificações do blues abraçam gêneros como rock, gospel, soul, funk, R&B e até country. Fora as inserções de ritmos claramente emprestados da música africana e outras referências que fogem até mesmo do conhecimento deste jornalista.

Mas nada de bagunça: a variedade de estilos é trabalhada com cuidado, de modo que tudo soe natural e amarrado. Méritos não apenas do protagonista, como também de sua banda formada por James “StickNasty” Small (também no elenco do filme) na bateria. Cornelius Mims no baixo, Mas Kohama na guitarra e LJ Holoman nos teclados, além de convidados como Mia Pixley no violoncelo e Dom Flemons no banjo.

Faixa a faixa

Acostumado a ter músicas bem enérgicas na abertura de seus álbuns, “Venomous Dogma” surpreende nesse sentido. A faixa é quase prog: começa lenta e logo progride junto da história narrada na letra ao adotar uma pegada visceral. “Highest Bidder”, liberada anteriormente como single, dá sequência mesclando funk rock com grooves raros entre artistas americanos. Um dos grandes destaques.

A questionadora vinheta “The Mayor of Wasteland” prepara o cenário para “They Go Low”, melancólica tanto em melodia – com direito a uma das melhores performances vocais do álbum – quanto na letra que, como o título indica, retrata como o ser humano pode ser baixo. Momento grandioso do trabalho.

O clima muda um pouco com a upbeat “Nibbadip”. Apesar da letra refletir sobre a prisão da heptavó de Negrito por ter um relacionamento ilegal com o escravizado heptavô, a melodia positiva guiada por guitarras funky e órgãos envolventes te faz ter alguma esperança.

A esquisitinha (no bom sentido) “Oh Betty” coloca sintetizadores na linha de frente enquanto o heptavô canta para sua amada que não irá desistir dela. A vinheta “You Don’t Belong Here”, explicitando absurdos racistas que se ouvia (e ainda ouve) na América, é sucedida pela obscura “Man With No Name”, talvez uma das mais viscerais do trabalho. Chama atenção a capacidade de interpretação vocal de Negrito, que capricha nos tons agudos.

“You Better Have a Gun” é um dos momentos mais surpreendentes do trabalho. Não só pelo tom positivo, mas especialmente por explorar o country – à moda Xavier, claro, com seus grooves e recheios sonoros típicos.

Talvez os dois momentos menos convincentes do disco estejam na sequência: o blues frenético “Trudoo” e a experimental “In My Head”. Ambas funcionam no contexto do álbum, mas perdem força se analisadas isoladamente.

Por sorte, o clima geral no fechamento do registro se eleva novamente. Mais uma vinheta, “Register of Free Negroes”, precede a conclusão da tracklist e da história: “Virginia Soil”. O tom esperançoso sobre a “vindoura liberdade” da letra é abrilhantado pela parte musical, que nos remete ao melhor que há dos gêneros de raiz americanos – muitos deles desenvolvidos pelos negros. Os acréscimos de violoncelo e banjo são surpreendentes, assim como o trabalho vocal conjunto.

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“White Jesus Black Problems” volta a mostrar por que Fantastic Negrito é um dos grandes nomes da música contemporânea. Não é fácil de ser absorvido em audições iniciais, mas é do tipo de álbum que vale parar pra ouvir prestando atenção em cada detalhe.

Por ser diferente das obras anteriores de Negrito, este disco não rende comparações com seus antecessores. Agrega, evidentemente, muitos elementos especialmente de “Have You Lost Your Mind Yet?” (2020), que também discute o racismo – só que na contemporaneidade – e mergulha em misturas musicais de forma mais clara que os demais.

Ainda assim, “White Jesus Black Problems” soa diferente de tudo o que Xavier Amin Dphrepaulezz já fez. Não só isso: é diferente de tudo o que você já ouviu até então. Só por isso, vale sua atenção. E valerá mais ainda após a seguinte definição: é um dos melhores discos que ouvi neste ano.

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Fantastic Negrito – “White Jesus Black Problems”

  1. Venomous Dogma
  2. Highest Bidder
  3. Mayor of Wasteland
  4. They Go Low
  5. Nibbadip
  6. Oh Betty
  7. You Don’t Belong Here
  8. Man With No Name
  9. You Better Have A Gun
  10. Trudoo
  11. In My Head
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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