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Da estabilidade à fantasia: o sucesso do Uriah Heep em “Demons and Wizards”

Quarto álbum de estúdio da banda de hard rock provou que jornalista da Rolling Stone estava errada ao dizer: “se essa banda despontar, eu terei que cometer suicídio”

Uma das críticas mais infames da história da Rolling Stone, escrita por Melissa Mills sobre o primeiro disco do Uriah Heep, “Very ‘Eavy, Very ‘Umble” (1970), pode ser resumida a uma frase:

“Se essa banda despontar, eu terei que cometer suicídio.”

O Uriah Heep era uma daquelas bandas inicialmente ignoráveis do boom do blues rock britânico do fim dos anos 60. Inspirados pelo som do grupo americano Vanilla Fudge, o quinteto amargou seus primeiros anos de carreira a infâmia associada a essa resenha da Rolling Stone. Por mais que estivessem construindo um pouco de sucesso, vestiam a letra escarlate.

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Além disso, sofreram de um mal comum a bandas dessa época: formações constantemente em fluxo. Apesar de contarem com um núcleo duro constituído pelo vocalista David Byron, o guitarrista Mick Box e o organista Ken Hensley, o Uriah Heep tinha um entra e sai constante de baixistas e bateristas. Faltava estabilidade justamente onde se dava estabilidade à música.

Entre o carrossel de baixistas e bateristas a passar pelo grupo, é importante ressaltar o papel do baixista Mark Clarke. Embora tenha passado pouquíssimo tempo na banda, o músico deu uma contribuição vital para o que seria o primeiro passo em rumo ao maior sucesso deles, como conta Mick Box à revista Classic Rock:

“Eu lembro do Ken tocando ‘The Wizard’ num violão no fundo da nossa van. Era a primeira vez que eu ouvia alguém tocar com uma afinação drop-D. Ele não conseguia achar uma ponte, então Mark Clarke que compôs, e a canção completa soou muito boa pra todo mundo. Acho que todos sabíamos que era algo especial.”

Rumo ao estúdio e ao sucesso

Mark Clarke logo não conseguiu lidar com o estresse de turnês constantes, beirando um colapso nervoso, e deu lugar a Gary Thain no baixo em fevereiro de 1972, que junto ao também novo baterista Lee Kerslake, deram uma encorpada no som do grupo. Mick Box descreveu a dinâmica da cozinha nova à Classic Rock:

“Agora finalmente tínhamos uma locomotiva na cozinha. Aqueles dois monstros atrás de nós deu uma fundação maravilhosa pra banda. Lee era um baterista fantástico e Gary bolava ótimas linhas de baixo que nunca ficavam no caminho da melodia, mas sempre serviam para realçá-la. Era um baita instinto.”

O grupo entrou em estúdio em março para gravar o que seria o álbum “Demons and Wizards”, com as músicas refletindo as sensibilidades de cada compositor. Enquanto as canções compostas por Hensley tinham arranjos elaborados, as escritas por Box eram mais roqueiras. O fator comum correndo por todo o disco era a temática fantasiosa das letras, que subsequentemente fizeram o Uriah Heep ser colocado entre as bandas pioneiras do heavy metal.

Uma dessas criações foi vista quase imediatamente como um hit pelo grupo. Composta em 15 minutos por Ken Hensley, “Easy Livin’”, era uma brincadeira com a percepção externa do estilo de vida da banda, e roqueiros em geral.

Elogiada pela mesma revista que achincalhou o Heep dois anos antes, a música impulsionou o disco “Demons and Wizards” para o número 20 das paradas britânicas e 23 nos Estados Unidos.

Galera do quase

Tentando capitalizar em cima desse sucesso, o Uriah Heep entrou no estúdio novamente para gravar um sucessor, intitulado “The Magician’s Birthday”. Mas a natureza corrida das sessões rendeu um disco que, embora tenha vendido muito bem, ficou aquém das expectativas criativas do grupo e exacerbou tensões internas.

O Heep começou a brigar muito com seu empresário, Gerry Bron, acusando-o de transformá-los em um veículo para que ele conseguisse dinheiro. Gary Thain chegou a fazer tal alegação em uma entrevista para a revista Sounds, o que causou a demissão do baixista ao fim de 1974.

A banda continuou tendo sucesso nesse período, com John Wetton se juntando à formação no lugar de Thain após deixar o King Crimson. Contudo, em 1976, o Heep teve seu maior baque quando o vocalista David Byron foi demitido e John Wetton anunciou sua saída também.

Apesar do sucesso, o Uriah Heep hoje é visto como parte da galera do “quase” dos anos 70. Grupos que, embora tenham vendido bastante, não tiveram um legado como Led Zeppelin, Black Sabbath, Queen ou Deep Purple. Mick Box, porém, lembra do período positivamente, como ele falou à Classic Rock:

“Tem algo em todo disco do Uriah Heep que consigo lembrar com carinho, mas ‘Demons and Wizards’ importa muito pra mim. Onde estávamos como uma unidade, criativamente, era a banda no seu auge, com aquela formação. Ouvindo o álbum pelos monitores de estúdio em 1972, nós tínhamos a sensação que havíamos feito algo especial, mas isso era só dentro do nosso círculo íntimo. Depois disso só tem como torcer para que adquira vida própria e tenha sucesso. O que, para nossa imensa gratidão, teve.”

Isso tudo e Melissa Mills não cumpriu sua promessa. Ainda bem.

Uriah Heep – “Demons and Wizards”

  • Lançado em 19 de maio de 1972 pela Bronze / Island / Mercury Records; produção de Gerry Bron.

Faixas:

  1. The Wizard
  2. Traveller in Time
  3. Easy Livin’
  4. Poet’s Justice
  5. Circle of Hands
  6. Rainbow Demon
  7. All My Life
  8. Paradise
  9. The Spell

Músicos:

  • David Byron (vocal)
  • Mick Box (guitarra)
  • Ken Hensley (teclados, backing vocals, co-vocais nas faixas 8 e 9, guitarra, percussão)
  • Gary Thain (baixo, exceto na faixa 1)
  • Mark Clarke (baixo e co-vocais na faixa 1)
  • Lee Kerslake (bateria, backing vocals, percussão)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

5 COMENTÁRIOS

  1. Uma das maiores e melhores bandas de Rock and Roll de todos os tempos. Se tivesse tido uma condução midiática como outras tiveram estaria sendo cultuada eternamente.

  2. Tenho a prensagem inicial lançada aqui em 73. Não canso de ouvir. Uma faixa melhor que a outra. Um dos melhores discos de rock já lançados.

  3. Gosto muito do Uriah Heep… músicas com uma suavidade mesmo as mais rock de agradar aos ouvidos. Byron impressionante com sua voz… não à toa Robert Plant disse que ele era o maior vocal do rock and roll. Além desse disco fenomenal tem outras músicas em vários discos digna de encantar a gente. Acho que só não explodiu pq não tinha uma guitarra marcante; o teclado era a criatividade das músicas mas o rock and roll sem uma guitarra marcante agrada mas não desponta. A guitarra tocava em uníssono com o teclado… isso encorpa o som mas fica faltando aqueles solos de guitarras inesquecíveis… os riffs… enfim…

  4. Cara, como é bom saber que não sou o único falésia banda, para mim, a melhor e maior formação de uma banda de rock é esta, depois da conturbada saída de Byron nunca mais foi a mesma.
    Aí, Pedro e Igor, por, postem mais sobre Uriah Heep. Obrigado

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