A carreira do Scorpions se divide em duas fases bem distintas. De início, a banda fazia um som típico da década de 1970 e ainda mesclava com influências clássicas, muito por conta do guitarrista Uli Jon Roth. Depois, passou a fazer um hard rock mais direto e radiofônico. Embora a mudança tenha começado bem antes, “Love at First Sting” (1984) é um símbolo dessa segunda fase, que carimbou o passaporte do grupo alemão para o mercado americano.
A inclinação mais comercial havia começado em “Lovedrive” (1979), com Matthias Jabs (e Michael Schenker) na vaga deixada por Roth. “Animal Magnetism” (1980) e “Blackout” (1982), estabelecendo Jabs como guitarrista solo do grupo, aprofundaram a pegada e tornaram o som bem mais próximo do que tornou o Scorpions mundialmente famoso.
Mas foi só no próximo trabalho que essa nova fórmula iria chegar ao ápice em termos, principalmente, de popularidade.
“Love at First Sting”: amor ao primeiro riff
“Love at First Sting” consegue um resultado que poucos álbuns dessa época alcançam: mesmo com a orientação mais comercial e várias músicas que poderiam tocar facilmente nas rádios, o peso era notório e havia muita personalidade no som. O disco moldou muito do que o próprio Scorpions fez dali em diante – e a presença das guitarras é um ponto de destaque nesse sentido.
Aqui, Rudolf Schenker e Matthias Jabs encaixam riffs de altíssimo nível e solos impactantes, em um entrosamento que se tornou marca registrada da banda e durou por décadas adiante. Músicas como a paulada “Bad Boys Running Wild”, a envolvente “Big City Nights” e a imortal “Rock You Like a Hurricane” são bons exemplos disso.
Outro ponto está na orientação artística. De modo geral, o Scorpions não tentou “reinventar a roda” no álbum – e mesmo assim acertou mais do que o normal na maioria das músicas. Dieter Dierks, produtor de longa data do grupo, assinou o trabalho mais uma vez e tratou de conduzir tudo com naturalidade, sem forçar alterações desnecessárias.
Se alguma mudança supostamente ocorreu, foi na “cozinha” do Scorpions, mas vale destacar que se trata apenas de um boato. Reza a lenda que o baixista Francis Buchholz e o baterista Herman Rarebell estavam fora da banda durante as gravações e acabaram sendo substituídos, respectivamente, por Jimmy Bain e Bobby Rondinelli, veteranos do Rainbow na época. Mas os integrantes do grupo alemão negam a história e qualquer possível gravação envolvendo os dois músicos teria se perdido com o tempo.
Mais uma das capas do Scorpions
Como já havia acontecido no passado, a capa de “Love at First Sting” gerou uma certa dor de cabeça para os músicos, principalmente considerando que a banda tentava entrar no conservador mercado americano.
O grupo sempre teve problemas por conta de capas excessivamente eróticas, notadamente nos casos de “Virgin Killer” (1976), “Lovedrive” e “Animal Magnetism”. Não foi tão diferente com a imagem do casal que estampa o 9º disco dos caras, clicada por Helmut Newton.
Mas por incrível que pareça, a situação foi contornada de forma mais fácil, apesar das críticas inevitáveis. Uma segunda opção de capa, trazendo uma imagem dos integrantes, foi disponibilizada para o mercado americano. Ainda assim, o retrato original seguiu como o mais conhecido.
Disco ao vivo e Brasil
“Love at First Sting” foi o primeiro sucesso definitivo do Scorpions na América do Norte, além de um bom desempenho na Europa. O álbum chegou ao 6º lugar da Billboard 200, principal parada dos Estados Unidos, e vendeu 3 milhões de cópias por lá. Em território europeu, destacam-se uma 17ª posição no Reino Unido e outra 6ª lugar na Alemanha, terra natal dos caras.
Quatro faixas foram promovidas como singles: “Rock You Like a Hurricane”, “Still Loving You”, “Big City Nights” e “I’m Leaving You”. As duas primeiras se destacaram mais, especialmente a segunda, balada que segue como um dos maiores hits do grupo.
A turnê do disco trouxe a banda pela primeira vez ao Brasil, para tocar no primeiro Rock in Rio, no início de 1985. O público conhecia principalmente os hits do novo álbum, o que tornou a excursão muito bem-sucedida e criou uma boa relação dos músicos com o país. Não à toa, os alemães tocaram por aqui mais 9 vezes depois disso, com direito à gravação de um DVD, “Amazônia: Live in the Jungle”, em 2009.
A proveitosa tour rendeu também o segundo disco ao vivo da banda, intitulado “World Wide Live” e lançado também em 1985. O material reúne gravações feitas em shows na França, Estados Unidos e Alemanha. O bom desempenho comercial foi repetido, agora que a popularidade do grupo estava mais alta do que nunca.
Até os dias de hoje, “Love at First Sting” segue como o álbum mais vendido do Scorpions nos Estados Unidos. Em outros países, especialmente na Europa, “Crazy World” (1990) com seu mega-hit “Wind of Change” chega a superá-lo.
Há quem diga que o nono disco de estúdio do Scorpions seja o seu melhor. Há quem diga que a banda nunca mais foi a mesma após esse trabalho. Tem ainda quem prefira os trabalhos da década de 1970. Fato é que não dá para passar despercebido por “Love at First Sting”.
* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.
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Gosto do Scorpions, mas pra falar a verdade, nunca consegui engolir este álbum por completo… Pra mim, este Love at First Sting “quase” acabou com a trajetória até então vitoriosa do quinteto alemão justamente por conta de ter feito tanto sucesso na época. Os caras estavam em alta antes desse nono trabalho, porém quando foi finalmente lançado… Vai entender, né?
Cara, discos como Virgin Killer, 1976, Lovedrive, 1979, e Blackout, 1982, são marcos muito importantes para a banda. Depois de Crazy World, 1990, a banda não foi mais a mesma, principalmente porque o baterista Herman Rarebell colocou na cabeça que iria deixar o quinteto, depois de 1995, o que se viu foi uma banda querendo sobreviver a saída do baterista, lançando discos de estúdio medianos como Pure Instinct, 1996, o fraco Eye II Eye, 1999. Assim surgiram o Moment Of Glory, com a orquestra de Berlin, 2000, e o Acoustica, 2001, tentando trazer de volta a popularidade, que de certa forma voltou…