A história da capa de “Houses of the Holy”, do Led Zeppelin, banida do Facebook

Obra da famosa empresa Hipgnosis, protagonizada pelos irmãos Stefan e Samantha Gates, já causou problemas na rede social de Mark Zuckerberg

O quinto álbum do Led Zeppelin foi o primeiro da banda a ter, de fato, um título. “Houses of the Holy” (1973) não tem nada escrito em sua capa, mas a imagem do álbum em si é altamente reconhecível.

Curiosamente, em tempos de algoritmos e redes sociais, a foto tem causado alguns problemas na plataforma do Facebook.

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A obra é de autoria de Aubrey “Po” Powell, da Hipgnosis, empresa famosa por fazer capas de álbuns do Pink Floyd e outras bandas clássicas. Um conceito anterior foi apresentado pelo outro sócio da companhia, Storm Thorgerson, mas a banda optou por seguir com o projeto de Powell, que foi o responsável por fazer as fotos do encarte como um todo.

Quem são todas aquelas crianças?

A capa de “Houses of the Holy” tem como principal inspiração o livro “O Fim da Infância”, de Arthur C. Clarke. Mais especificamente, por uma ocasião em que várias crianças se reúnem para serem enviadas ao espaço.

É mais ou menos isso o que acontece na imagem que estampa o quinto disco do Led Zeppelin – a não ser pelo fato de que não são tantas crianças assim.

Para a produção do retrato, foram usados apenas os irmãos Stefan e Samantha Gates, que foram fotografados ao longo de dez dias, sempre no nascer e no pôr-do-sol, na chamada Calçada dos Gigantes, um monumento natural localizado na Irlanda do Norte. Choveu bastante durante todos os dias, o que dificultou o trabalho da equipe da Hipgnosis – fora os conflitos entre Inglaterra e Irlanda que estavam eclodindo naquele momento.

Em entrevista à Super Seventies, Aubrey “Po” Powell relembrou o trabalho atrapalhado pela chuva e como a coloração roxa do corpo das crianças surgiu por acaso.

“Eu tirei as fotos todas em preto e branco, numa manhã miserável com chuva forte. Originalmente, eu queria que as crianças fossem douradas e prateadas. Porque eu tirei a foto em preto e branco e era um dia cinza, as crianças saíram muito brancas. Então quando pintamos a mão, o artista, por acidente, colocou um pouco de tinta roxa nelas. Quando eu vi, eu disse ‘oh, meu Deus’. Então olhamos de novo e eu disse ‘espere um minuto, isso tem uma pegada de outro mundo’. Então deixamos como estava”.

A Hipgnosis editou as cores e replicou as imagens das crianças para aumentar a quantidade. Jimmy Page e o empresário do Led Zeppelin, Peter Grant, gostaram bastante do resultado e o disco foi lançado.

Para as crianças, porém, a experiência não foi tão marcante.

Décadas depois…

Stefan Gates, o menino que aparece ao lado da irmã na capa de “Houses of the Holy”, acabou se tornando um apresentador de TV de um programa na BBC. Em diversas ocasiões, ele relembrou os dez dias que passaram na Irlanda do Norte, dizendo que foi como uma viagem de férias que certamente seus pais não poderiam pagar naquela época.

Em 2007, Gates afirmou que nunca mais havia voltado à Calçada dos Gigantes e revelou que nunca havia escutado o disco. Quando o fez, sentiu como se um “peso” tivesse sido tirado de suas costas, numa espécie de reconexão com seu passado.

Já Samantha, a irmã mais velha de Stefan, vive atualmente na África do Sul. Em entrevista ao Dangerous Minds, ela revelou ter uma opinião mais conservadora sobre a capa, que certamente causaria polêmica se fosse feita nos dias de hoje.

“Lembro da sessão de fotos claramente, principalmente porque estava muito frio e chovendo o tempo todo. Estávamos nus em muitas das fotos de modelo que fizemos, ninguém  pensava nisso naquela época. Você provavelmente não conseguiria fazer isso agora.”

“Houses of the Holy” e a censura do Facebook

Samantha Gates tem razão no que diz – e isso é facilmente comprovado ao observarmos a polêmica envolvendo o Facebook e a capa do disco do Led Zeppelin, que ocorreu em 2019. Vários internautas e até mesmo veículos de comunicação, como este site, fizeram posts na rede social com a capa e foram notificados pela rede de Mark Zuckerberg.

O Facebook acusou tais páginas de não seguirem as normas da rede social, por conta da presença de nudez na foto. Um problema similar já havia acontecido com a capa do álbum “Nevermind” (1991), do Nirvana, que traz um bebê nadando nu em uma piscina – e a justificativa foi exatamente a mesma.

Após muitos protestos e contatos com o suporte da rede social, o Facebook afirma ter voltado atrás no banimento da capa de “Houses of the Holy”. No entanto, situações similares continuam acontecendo, incluindo outras capas de álbuns ainda menos polêmicas, como ocorreu recentemente em um post, novamente deste site, com a capa de “Kill ‘em All” (1983), do Metallica.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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