Como Miles Davis mudou a história do jazz e da música com “Kind of Blue”

Disco de 1959 praticamente criou o chamado jazz modal, tornando a sonoridade mais acessível

Miles Davis deixou seu nome gravado como uma das lendas do jazz. Entre os grandes trabalhos de sua discografia, “Kind of Blue” é provavelmente o mais icônico, com importância reconhecida até mesmo em outros estilos musicais.

Ao longo das 5 faixas desse álbum – a maioria com duração superior a 9 minutos -, Davis reinventa o jazz de uma forma simples, mas que nunca havia sido pensada por ninguém até então.

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Lançado em 17 de agosto de 1959, o trabalho é considerado o precursor do chamado jazz modal, que utilizava uma estrutura musical diferente de tudo o que existia até então.

Os parceiros de Miles nessa empreitada são o que havia de melhor no jazz da época em termos de técnica. Julian “Cannonball” Adderley (sax alto), John Coltrane (sax tenor), Bill Evans (piano), Paul Chambers (baixo) e Jimmy Cobb (bateria) colaboraram com o artista e seu trompete.

Miles Davis quase blues

O som apresentado pela banda de Miles Davis em “Kind of Blue” ficou conhecido como jazz modal justamente por ter músicas compostas com base nos modos, ou escalas, em vez de acordes. O resultado disso foi uma sonoridade mais acessível, menos “malabarista” do que os chamados bebop e hard bop, famosos pela complexidade das peças e tão em voga na época.

Davis e seu sexteto construíram grandes canções com base em estruturas simples, trazendo uma influência cuja “dica” está no título do álbum, citando o blues, bem como de algumas músicas. Obviamente, o “blue” que dá nome ao disco também faz referência à tristeza, mas a menção ao gênero musical é facilmente percebida.

Nesse trabalho, algumas estruturas do blues ajudaram a diminuir um pouco o ritmo e explorar mais as variações melódicas em vez da harmonia, característica muito explorada até então. Percebe-se tal orientação principalmente nos solos.

O maior exemplo da pegada blues que Davis incorporou ao jazz no álbum é a música “Freddie Freeloader”, a única do tracklist a contar com o pianista Wynton Kelly no lugar de Bill Evans. Outro caso está representando em “All Blues”, que abre o lado B do LP com seus mais de 11 minutos e meio, e que também demonstra a influência do estilo na sonoridade.

O jazz modal seria explorado futuramente por músicos como John Coltrane, que participou do próprio “Kind of Blue”, e Herbie Hancock. Na contramão, ao longo da década de 1960, Miles Davis afastou-se dessa sonoridade mais acessível para embarcar novamente na complexidade harmônica do bebop.

Legado de “Kind of Blue”

“Kind of Blue” é inovador e influente em vários níveis. E não só dentro do jazz: o álbum transcendeu o estilo musical ao longo dos anos.

Músicos ligados ao rock, à música clássica e até ao hip hop já admitiram que foram influenciados pelo álbum. Muitos o citam como um de seus favoritos.

Entre alguns nomes mais notórios fora do jazz que exaltam a importância desse disco, pode-se citar o guitarrista Duane Allman, da Allman Brothers Band; o tecladista Richard Wright, do Pink Floyd; e o cantor Bilal.

Críticos, em geral, consideram “Kind of Blue” o maior trabalho de Miles Davis. Curiosamente, o próprio músico, no fim da carreira, não parecia muito empolgado com o disco, bem como outros de seus álbuns da mesma época. Como já apontado, não à toa, ele não explorou tanto o jazz modal em seus álbuns posteriores.

Não importa: a história já estava feita com “Kind of Blue”, que deixou o jazz como um todo mais acessível para o grande público.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, argumentação base e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação complementar e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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