Na metade da década de 1980, o Queen não passava por seu melhor período em questões internas. Todavia, foi nessa época que a banda realizou sua apresentação mais famosa, no Live Aid, que mudou toda a situação e motivou o grupo a gravar mais um álbum, “A Kind of Magic” (1986), o último a ser divulgado com uma turnê.
Em janeiro de 1985, o Queen fez shows históricos no primeiro Rock in Rio, o que certamente também ajudou o grupo a retomar seu fôlego. Por outro lado, a banda estava rachada internamente.
O vocalista Freddie Mercury começava sua carreira solo com o contestado “Mr. Bad Guy”, lançado em abril daquele ano. O clima entre os integrantes estava longe de estar bom, como chegou a ser retratado na cinebiografia “Bohemian Rhapsody” (2018).
O show do Queen no Live Aid
Surgiu, então, a oportunidade de tocar no Live Aid. O evento beneficente organizado por Bob Geldof e Midge Ure contou com uma verdadeira constelação de artistas em eventos simultâneos espalhados pelo mundo.
O resultado não poderia ter sido melhor, como relembrou o baterista Roger Taylor, em entrevista mais recente à NHK:
“Nós chegamos perto de acabar, mas o Live Aid, realmente, nos tirou de um período em que estávamos entediados e um pouco exaustos. Acho que aquilo nos lembrou de que éramos uma boa banda e o público tinha muito amor por nós. Dessa forma, nos deu uma confiança renovada.”
Roger Taylor
A impressão de Taylor foi compartilhada por todos os que presenciaram a curta, mas certeira apresentação do Queen naquele 13 de julho de 1985. Enquetes populares e veículos de mídia destacavam o show como o melhor do festival, bem como outros artistas que participaram do evento.
Roger Waters (ex-Pink Floyd) já rendia elogios à performance do grupo em uma entrevista ainda no backstage do Live Aid. “Todo mundo que encontrei está comentando sobre o Queen. Eles enfeitiçaram completamente todo mundo”, declarou o baixista naquela ocasião.
Em uma entrevista concedida a um veículo japonês no ano seguinte, Freddie Mercury admitiu a importância desse show para o momento que a banda atravessava.
“De nossa perspectiva, o fato de que o Live Aid aconteceu quando aconteceu foi realmente uma sorte. Veio do nada para nos salvar. Com certeza foi um ponto de virada. Talvez possamos dizer que, na história do Queen, foi um momento muito especial.”
Freddie Mercury
A Kind of Magic: um tipo de mágica
A injeção de ânimo logo após o Live Aid levou o Queen a passar algum tempo em estúdio. O resultado foi o single “One Vision”, música que abre o próximo álbum do grupo, “A Kind of Magic”.
Lançada como compacto ainda em 1985, a música foi creditada aos quatro integrantes, apesar de Roger Taylor ter declarado em entrevistas que a ideia original partiu dele.
Meses depois, o público teve acesso a “A Kind of Magic”, que voltaria a trazer o Queen em um bom momento – possivelmente, o último com a saúde de Freddie Mercury ainda aceitável. Muitas das músicas do álbum fizeram parte da trilha sonora do filme “Highlander” (1986), embora apareçam no disco com arranjos diferentes.
Musicalmente, percebe-se essa “sobrevida” dada ao Queen em “A Kind of Magic”. A sonoridade dá sequência à pegada de trabalhos como o antecessor “The Works” (1984), que contam com uma orientação típica da década de 1980, com teclados e sintetizadores evidentes.
Além da já mencionada “One Vision”, o material apresenta hits como “Friends Will Be Friends”, “Who Wants to Live Forever” e a faixa-título. Clássicos da “fase oitentista” do grupo.
Sete das nove faixas do trabalho foram lançadas como singles, o que comprovou a boa aceitação daquele registro. As únicas músicas que não foram promovidas nesse formato foram “Gimme the Prize (Kurgan’s Theme)” e “Don’t Lose Your Head”.
Com mais de 600 mil cópias vendidas em território britânico,, o trabalho alcançou posições expressivas nas paradas na Argentina (1º), Reino Unido (1º), Holanda (2º), Áustria (3º), Suíça (4º), Alemanha Ocidental (4º), Noruega (5º), França (6º), Nova Zelândia (9º) e Suécia (9º). Um embalo ideal para a turnê de divulgação, que marcaria a despedida de Freddie Mercury dos palcos.
* Texto desenvolvido em parceria por Igor Miranda e André Luiz Fernandes. Pauta, edição geral e argumentação-base por Igor Miranda; redação geral e apuração adicional por André Luiz Fernandes.