O Rock in Rio 2001, realizado de 12 a 21 de janeiro daquele ano, representou, ao todo, a terceira edição do famoso festival carioca, que já havia feito história em 1985 e 1991. Apesar dos vários shows internacionais que rolaram naquela ocasião, o evento também ficou marcado pelo boicote de seis grandes bandas brasileiras, que se recusaram a tocar.
O boicote ao Rock in Rio 2001 foi promovido por O Rappa, Cidade Negra, Raimundos, Charlie Brown Jr, Skank e Jota Quest. Os músicos das seis bandas reclamavam das condições oferecidas, tanto em cachê quanto em estrutura, para a realização dos shows.
O site ‘G1‘ apurou, por exemplo, que cada banda recebeu um cachê de R$ 20 mil para tocar no festival. A dupla Sandy e Junior, uma das atrações da chamada “noite teen”, com nomes do pop adolescente da época, recebeu cinco vezes mais: R$ 100 mil. Isso teria deixado os roqueiros nacionais um tanto descontentes.
Porém, de acordo com o jornal ‘Folha de S. Paulo‘, o grande problema estava na falta de estrutura. E foi O Rappa que liderou o boicote, iniciado em outubro de 2000, após ter seu horário de show antecipado para 18h, sem direito a passagem de som.
Menos de 3 meses antes do festival ser realizado, os músicos d’O Rappa foram informados sobre as mudanças e questionaram se as atrações internacionais teriam o mesmo tratamento que eles. Os organizadores, então, convidaram todos a deixarem o evento – algo que foi atendido pela banda.
Uma semana depois, as outras cinco bandas – Cidade Negra, Raimundos, Charlie Brown Jr, Skank e Jota Quest -, que também estavam confirmadas no line-up, desistiram de realizar suas apresentações, em apoio a O Rappa, que nega ter mobilizado esses grupos a tomarem essa atitude. Isso acabou gerando uma série de “buracos” na programação, que foram tapados de última hora.
A situação questionava, indiretamente, as reais intenções do Rock in Rio 2001 em promover um concurso de bandas independentes para escolher um nome para tocar no palco principal. Eles queriam realmente promover o rock no país? Ou só faturar? Fato é que o Diesel, que se tornou Udora futuramente e revelou o baterista Jean Dolabella (Ego Kill Talent, ex-Sepultura), foi o vencedor da competição.
Marco Soares, produtor do Jota Quest, comentou em entrevista à Folha:
“A organização do festival não estava conduzindo a produção como deveria. Não tinha definição de horários, ordem de apresentação das bandas e de utilização de equipamentos. O tratamento desigual vai desde o horário da passagem de som até o horário de apresentação.”
O profissional também negou que a motivação seria financeira.
“As bandas acharam o festival interessante porque era uma promoção. O cachê é o de menos. Banda nacional nunca ganhou dinheiro em festivais.”
Roberto Medina, presidente do Rock in Rio, tentou interceder, mas não conseguiu. Nem O Rappa, nem as outras bandas se apresentaram. Curiosamente, todas elas acabaram tocando em edições futuras, com exceção d’O Rappa.
Line-up do Rock in Rio 2001 após o boicote
Não dá para dizer, ao certo, quais bandas entraram no lugar das seis dissidentes. Sabe-se que Sepultura e Capital Inicial não estavam no line-up inicial, mas foram beneficiadas pelo boicote, já que foram escaladas de última hora.
Pela falta de preparo em seu show, não é loucura mencionar que O Surto também parece ter entrado de última hora. A apresentação da banda cearense ficou marcada pela inexperiência dos músicos, que apostaram em covers (inclusive uma versão bizarra para ‘Californication’, do Red Hot Chili Peppers, transformada em ‘Triste mas eu não me queixo’) e tiveram que tocar o hit ‘A Cera’ duas vezes para compor um repertório aceitável.
Outro nome que não parecia ser planejado para a ocasião foi o de Carlinhos Brown, que protagonizou a famosa chuva de garrafadas por fazer um show de axé ao abrir para Guns N’ Roses, Oasis e Papa Roach. Embora tenha inflamado a plateia, Brown não é exatamente o grande culpado, já que o público foi mal-educado e a organização o colocou numa “fogueira”.
O line-up final do Rock in Rio 2001 em seu Palco Mundo – ou seja, desconsiderando os palcos alternativos -, ficou da seguinte forma:
Sexta-feira, 12 de janeiro de 2001
- Sting
- Daniela Mercury
- James Taylor
- Gilberto Gil
- Milton Nascimento e Orquestra Sinfônica Brasileira
Sábado, 13 de janeiro de 2001
- R.E.M.
- Foo Fighters
- Beck
- Barão Vermelho
- Fernanda Abreu
- Cássia Eller
Domingo, 14 de janeiro de 2001
- Guns N’ Roses
- Oasis
- Papa Roach
- Ira! e Ultraje a Rigor
- Carlinhos Brown
- Pato Fu
Quinta-feira, 18 de janeiro de 2001
- ‘NSync
- Britney Spears
- Aaron Carter
- Sandy e Junior
- Five
- Moraes Moreira
Sexta-feira, 19 de janeiro de 2001
- Iron Maiden
- Rob Halford
- Sepultura
- Queens of the Stone Age
- Pavilhão 9
- Sheik Tosado
Sábado, 20 de janeiro de 2001
- Neil Young
- Sheryl Crow
- Dave Matthews Band
- Kid Abelha
- Elba Ramalho e Zé Ramalho
- Engenheiros do Hawaii
Domingo, 21 de janeiro de 2001
- Red Hot Chili Peppers
- Silverchair
- Capital Inicial
- Deftones
- O Surto
- Diesel (vencedora da Escalada do Rock)
O que as bandas dizem hoje
Como quase todas as bandas que promoveram o boicote ao Rock in Rio 2001 acabaram tocando em outras edições do festival, você já deve imaginar que, no geral, elas se arrependem do que fizeram. Ou, no mínimo, evitam comentar o ocorrido.
O Skank se apresentou logo na edição 2011, após tocar no Rock in Rio Lisboa, em Portugal, no ano de 2008. Na época, o vocalista e guitarrista Samuel Rosa disse ao G1:
“Fomos muito precipitados naquela ocasião, de não estabelecer um diálogo maior com a organização do festival. O Rock in Rio tinha por tradição alguns episódios assustadores, como a rejeição que o Erasmo teve (em 1985), depois a do Lobão em 90… Então tínhamos motivos para estar com o pé atrás.”
O Rappa, única banda que não se apresentou em edições futuras do Rock in Rio, manteve um discurso mais ácido. Em 2013, os músicos tocaram na primeira edição brasileira do festival Lollapalooza – de dia, vale mencionar – e, em entrevista à Veja, alfinetaram a organização do evento carioca.
O vocalista Marcelo Falcão disse:
“Não fomos mais convidados. [Mas] Hoje, estamos em um festival que realmente respeita o músico. Estamos no Lollapalooza.”
O guitarrista Xandão destacou que não recusaria um show no Rock in Rio, pois “é um palco” e isso faz parte do trabalho da banda. Falcão, então, complementou:
“Tínhamos um contrato assinado. E nossas únicas exigências eram: tocar à noite e passar o som. Chegando próximo do festival, eles nos comunicaram que a gente tocaria à tarde, e não poderia passar o som. A gente agradeceu, mas disse que dessa forma não queria mais participar. Acabou. A partir daí, o que aconteceu não tem absolutamente nada a ver com a gente.”
O que diz Roberta Medina
Filha de Roberto Medina, organizador do Rock in Rio, Roberta Medina trabalhou em sua primeira edição do festival justamente em 2001. Em meio a tantos problemas comuns a serem resolvidos às vésperas de um evento desse tamanho, ela, que tinha apenas 22 na época, precisou enfrentar mais essa.
Em entrevista ao G1, em 2019, Roberta definiu o boicote como uma “bobagem”:
“Aquilo, na minha opinião, foi uma bobagem. Foi por muito pouco. Depois de seis meses, eles ficaram nervosos? Aí a gente falou: ‘Se vocês não querem, não é a gente que ia ceder’.”
Como organizadora de festivais, ela disse ter aprendido muito com tudo aquilo:
“Aquela situação foi uma grande lição de vida. Eu era muito nova e não entendia nada do mundo artístico, né? Mas fui eu quem acabei caindo nas reuniões e dando entrevista a respeito daquilo.”
Roberta Medina também apontou que não vê mais esse tipo de situação se repetindo entre as bandas brasileiras nos dias de hoje. O motivo, segundo ela, foi a profissionalização desses artistas:
“Eu acho que evoluiu, vejo o mercado se profissionalizando. As bandas foram virando empresas, né? Não é aquela informalidade. Não vejo esses conflitos acontecerem. É muito irritante essa conversa de que (banda brasileira grande) só tem que tocar de noite. E na Europa que não tem noite?”
O boicote das bandas brasileiras ao Rock in Rio 2001 ajudou, inclusive, a inspirar a criação do Palco Sunset, espaço secundário para shows no festival no período da tarde. A aposta começou em 2011 e deu tão certo que seguiu nas edições seguintes.
“Pensamos em fazer um palco que começa de dia, depois podem assistir um por do sol… Acabou essa conversa de não poder ter show de dia. Eu sei que o show à noite tem o recurso da iluminação, que dá um diferencial importante, tudo bem. Mas também pode ser o melhor show do mundo sem isso.”
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No texto diz que o.público do Brown foi mal educado. Mentira! Eu estava lá. No show dele a galera começou pedir as bandas que vinham depois, nisso ele parou e começou dizer que a galera do rock era mal educada e não respeitava quem estava tocando. Aí rolou a primeira garrafada. Ele foi até o fundo do palco, pegou um pano branco e disse que o pessoal podia jogar o que quiser que ele tinha o corpo fechado. Pediu, tomou!
Hehehe lembro-me bem desse dia!
Fui justamente no domingo 21. Dia de Deftones, Silverchair, RedHotChilliPeppers eeeee O Surto que, se não me falha a memória, tocaram 3x “o piercing dela refletia a luz do sol”. Realmente, essa música fez sucesso entre os jovens.
Colocar Carlinhos Brown para tocar num festival de Rock foi a pior ideia que poderiam ter! Mas já virou costume qualquer coisa se apresentar no Rock in Rio mesmo…
Sobre o evento do Carlinhos Brown passados mais de 20 anos não vi uma única matéria que abordou efetivamente o que ocorreu naquele dia. Calor de mais de 40 graus. Sensação térmica lá na frente do palco muito pior. Foram mais de 150 mil pessoas. Os copinhos de água muito caros naquela época não chegavam na frente do palco. Várias mulheres desmaiando de calor. Os bombeiros tentando evitar uma tragédia jogando água em todos nós que estávamos lá na frente e entra o Sr. Carlinhos Brown e MANDA CORTAR A ÁGUA que era jogada no público. Por isso tanta vaia, tanta indignação e cada novo momento mais gente passando mal. Mais uma coisa… não foi só ele que levou garrafada, eu e todos que estávamos mais a frente, morrendo de sede e calor, levamos garrafadas também. Eu levei uma garrafada cheio de areia o que quase me desacordou. Um absurdo terem colocado Carlinhos Brown lá, mas o artista não teve na condução do show a menor preocupação com o bem estar e a segurança da platéia. Antipatizou o público boa parte do tempo.