...

The Struts tem seu 1º tropeço em ‘Strange Days’; ouça o novo álbum e leia resenha

O The Struts lançou seu terceiro álbum de estúdio, 'Strange Days', por meio da Interscope Records. O material foi gravado em 10 dias na casa do produtor Jon Levine e traz participações de Robbie Williams, Tom Morello e mais.

O The Struts lançou seu terceiro álbum de estúdio nesta sexta-feira (16). O disco, intitulado ‘Strange Days’, chegou a público por meio da Interscope Records.

Formado por Luke Spiller (vocal), Adam Slack (guitarra), Jed Elliott (baixo) e Gethin Davies (bateria), o The Struts gravou ‘Strange Days’ com o produtor Jon Levine (Dua Lipa, Nelly Furtado, Selena Gomez, Drake, Avril Lavigne) em um período de 10 dias. O material foi todo composto durante o período da pandemia do novo coronavírus e registrado na casa de Levine.

- Advertisement -

Além do método de gravação, ‘Strange Days’ chama atenção por seus convidados especiais. O álbum traz participações do vocalista Joe Elliott e do guitarrista Phil Collen (ambos do Def Leppard, na música ‘I Hate How Much I Want You’), do cantor pop Robbie Williams (na faixa-título) e dos guitarristas Tom Morello (Rage Against the Machine, em ‘Wild Child’) e Albert Hammond Jr (The Strokes, em ‘Another Hit of Showmanship’).

Ouça ‘Strange Days’ na íntegra, a seguir, via Spotify ou YouTube (playlist). Abaixo, confira resenha sobre o álbum.

Resenha: The Struts tem seu primeiro tropeço em ‘Strange Days’

Não foi por acaso que apontei, em outras ocasiões, que o The Struts é uma das grandes sensações do rock na atualidade. O quarteto britânico apresenta um hard rock de forte tempero pop, ganchos melódicos e refrães que ficam na cabeça e muito carisma, especialmente pelo frontman Luke Spiller.

Everybody Wants‘ (2014), primeiro álbum da banda, chegou com o pé na porta. Muito acima da média. ‘Young & Dangerous‘ (2018) aprofundou o flerte com o pop e trouxe o grupo com ares de superprodução. Acertaram em cheio novamente.

‘Strange Days’, infelizmente, não preserva o padrão mostrado anteriormente. Logo na primeira audição, o álbum retrata seu contexto: gravação apressada, em apenas 10 dias, aproveitando músicas que talvez não sejam as melhores que o Struts criaria em uma situação normal.

A sonoridade da gravação também deixa um pouco a desejar. Desta vez, eles convocaram um produtor com 99% de sua carreira no âmbito da música pop, o que pode ter influenciado em uma escolha não tão boa de timbres, especialmente da bateria.

Há, claro, bons momentos ao longo do álbum. E as músicas que não convencem também não são, exatamente, ruins – só ficam abaixo da competência evidenciada pelo grupo em momentos anteriores.

A faixa-título ‘Strange Days’ abre o álbum de forma surpreendente. Trata-se de uma balada conduzida inicialmente ao piano e com uma inusitada participação de Robbie Williams. De início, gera estranheza, mas acaba funcionando muito bem. O motivo é óbvio: a música é boa e rolaria em quase qualquer momento da tracklist, seja no início, meio ou fim.

‘All Dressed Up (With Nowhere to Go)’, na sequência, é uma composição típica dos Struts, mesclando riffs típicos de Rolling Stones com um groove pop. Diferente da anterior, a letra é mais mundana, menos reflexiva. Boa música.

Em seguida, há uma versão repaginada de ‘Do You Love Me’, clássico do Kiss. Por incrível que pareça, já que sou um grande fã da banda homenageada, considero essa música uma das piores da fase clássica da carreira deles. A versão do Struts, bem inclinada ao pop e em um tom mais agudo para acomodar a voz de Luke Spiller, só reforça o quão tediosa é essa canção. Além disso, o timbre da bateria, mais artificial, começa a incomodar por aqui.

‘I Hate How Much I Want You’ traz as subaproveitadas participações de Joe Elliott (que não é pai do baixista, Jed Elliott) e Phil Collen, ambos do Def Leppard. Mal dá para dizer que eles estão nessa música, pois pouco se ouve da voz rouca de Elliott e da guitarra peculiar de Collen. A música em si tem um refrão grudento e uma abordagem divertida, além de trazer um som mais agradável de bateria e colocar a guitarra na linha de frente, mas soa meio sem foco, como uma reprodução (ainda mais) exagerada de clichês.

Outro convidado entra em cena: Tom Morello, que se faz ser notado em ‘Wild Child’. De pegada ligeiramente indie, a faixa traz um raro momento de peso na trajetória do The Struts e boa presença de Tom Morello – o solo dele decepciona, mas o timbre nos riffs é inconfundível.

Os mais de 6 minutos de duração de ‘Cool’ podem gerar confusão no fã que ainda não a ouviu, mas, não, o Struts não experimentou nessa faixa. Não ainda. Voltando a explorar a influência dos Stones, a canção soa como uma versão “ao vivo em estúdio”, com seu andamento estendido. Flui bem, apesar de poucas mudanças no andamento, e deve emplacar nos repertórios dos ótimos shows da banda.

Um dos melhores momentos de ‘Strange Days’ é ‘Burn It Down’, uma balada piano-rock no clima de Elton John. Música muito bem construída, que oferece um sopro diferente em meio a um álbum que abusou dos clichês – até mesmo para os padrões do Struts, que nunca prometeu reinventar a roda.

‘Another Hit of Showmanship’, com Albert Hammond Jr, guitarrista do Strokes, apresenta outro flerte ao indie rock, mas em uma veia mais radiofônica. Apesar do refrão ser um pouco enjoativo, é uma boa música.

Próximo ao fim, a tracklist do álbum oferece a divertida e dançante ‘Can’t Sleep’, que parece fazer referência à sonoridade de ‘Young & Dangerous’, ainda que reúna elementos claros do garage rock. Por outro lado, os formatos e efeitos usados na canção mostram um raro momento de experimentos por parte da banda. Só precisamos convencer Adam Slack a parar de usar, toda hora, o efeito oitavador típico de Brian May em seus solos. Enjoa.

‘Am I Talking to the Champagne (Or Talking to You)’, que fecha o disco, é um dos melhores e mais ousados momentos do The Struts. Aqui, a banda dispensa as construções melódicas pré-formatadas para mais experimentos, agora com um groove pulsante e uma pegada mais soturna, bem retrô. O inesperado solo de sax, cruzando com a guitarra, é um destaque.

Em seu saldo geral, ‘Strange Days’ fica abaixo dos dois álbuns anteriores, mas ainda não dá para dizer que a banda decepcionou. Vejo como um tropeço, um ponto fora da curva, provavelmente causado pelo contexto em que o disco foi concebido.

Por sorte, há pontos positivos a serem destacados por aqui, especialmente na segunda metade do álbum, com músicas mais ousadas e experimentais. Algumas delas, como as duas últimas da tracklist, podem dar o tom para os próximos trabalhos do The Struts.

Ignorados os tropeços, ‘Strange Days’ pode ser o sinal de que mesmo uma banda tão competente em repaginar clichês, como o The Struts, pode agradar mais quando resolve pensar fora da caixa. Que não seja tarde demais quando os músicos perceberem isso.

‘Strange Days’ está representado em minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play:

‘Strange Days’ – capa e tracklist

1. Strange Days [com Robbie Williams]
2. All Dressed Up (With Nowhere to Go)
3. Do You Love Me
4. I Hate How Much I Want You [com Joe Elliott e Phil Collen]
5. Wild Child [com Tom Morello]
6. Cool
7. Burn It Down
8. Another Hit of Showmanship [com Albert Hammond Jr]
9. Can’t Sleep
10. Am I Talking to the Champagne (Or Talking to You)

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasThe Struts tem seu 1º tropeço em 'Strange Days'; ouça o novo...
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades