O Deep Purple lançou um novo álbum de estúdio nesta sexta-feira (7). Intitulado “Whoosh!”, o disco é o 21° da carreira da lendária banda.
O material está sendo lançado pela gravadora earMUSIC. A edição física nacional será disponibilizada pela Shinigami Records, em CD de acrílico simples e digipack com CD e um DVD que traz o registro do show no festival Hellfest 2017.
A produção é assinada novamente por Bob Ezrin. O profissional de estúdio, notável por discos do Kiss, Pink Floyd, Alice Cooper e vários outros, também trabalhou nos últimos dois álbuns do Purple: “Now What?!” (2013) e “Infinite” (2017).
Trata-se, ainda, do quinto álbum de estúdio da formação conhecida como Mark VIII, na ativa desde 2002. O grupo conta com Ian Gillan no vocal, Steve Morse na guitarra, Roger Glover no baixo, Don Airey nos teclados e Ian Paice na bateria.
Em material de divulgação, o Deep Purple afirma que o lema do novo disco foi “colocar o deep de volta ao purple”, no sentido de dar mais profundidade às músicas. A banda aponta que “estendeu-se para todas as direções, sem limitações, deixando a criatividade fluir” neste novo disco.
A data inicial de divulgação do disco era 12 de junho, mas a banda optou por adiar devido à pandemia do novo coronavírus, que paralisou uma série de serviços – incluindo os necessários para o lançamento de um álbum.
Ouça o álbum abaixo, via Spotify, e confira resenha a seguir.
Resenha: Whoosh!, um retrato completo do Deep Purple atual
Como uma banda com mais de 50 anos de carreira pode se reinventar? Pergunte ao Deep Purple, que encontrou uma pegada bem peculiar e própria em seus álbuns mais recentes.
A resposta pode estar em Bob Ezrin, que, conforme já citado, assina a produção de um álbum do Purple pela terceira vez em sequência. Ezrin é do tipo que consegue extrair o máximo dos músicos e ainda aplicar conceitos mais elaborados, como a teatralidade e a profundidade melódica.
Mas não dá para creditar tamanha mudança a um produtor. Os músicos são os principais responsáveis, até porque souberam como abraçar a idade avançada e adequaram suas performances e temáticas em busca de uma nova identidade. Os caras do Purple não tentam bancar os vintões ou trintões, diferente de vários outros rockstars que parecem presos ao passado.
“Whoosh!”, por um lado, soa despretensioso. Quase todas as músicas parecem ter surgido em jams, pois não soam tão formatadas ou mesmo lapidadas. Alguns grooves e fraseados se repetem ao longo das faixas, o que também indica que eles simplesmente se reuniram para tocar e o resultado obtido, de cara, foi bem próximo do que ouvimos no produto final.
Por outro lado, especialmente no que diz respeito às letras e atmosferas criadas por alguns arranjos, o álbum traz mensagens claras, de tom quase apocalíptico, de caras que ainda têm o que dizer. A começar pelo título, que, segundo Ian Gillan, representa uma expressão usada a partir do uso de radiotelescópio para retratar a natureza transitória da Terra.
Algumas letras, provavelmente assinadas por Gillan, são desiludidas e ácidas, dialogando sobre a raça humana de forma geral, com críticas à forma como tratamos o meio ambiente e a nós mesmos. Arranjos de determinadas faixas mais soturnas e quase teatrais, como “Nothing at All”, “Step by Step”, “The Power of the Moon” e “Man Alive” (com sua involuntária temática sobre o “fim do mundo”), também expressam esse sentimento.
Ainda assim, a atmosfera geral é de cinco caras tocando e se divertindo, mesmo quando busca-se transmitir uma mensagem. “Drop the Weapon” e “We’re All the Same in the Dark”, por exemplo, são classic rocks tão legítimos que soam como faixas-irmãs. A total retrô “What the What”, por sua vez, aposta no boogie woogie – e acerta em cheio. Já “The Long Way Round” dialoga com os momentos mais progressivos do Purple e, não à toa, é a canção mais longa do álbum, com 5 minutos e 40 minutos de duração.
Há, ainda, os momentos híbridos, que mesclam a essência do Deep Purple dos velhos tempos com a abordagem contemporânea. A abertura “Throw My Bones”, por exemplo, traz versos intricados e quase dramáticos, mas sua melodia “abre” no refrão. Outras canções como “No Need to Shout”, que traz um solo incrível de Don Airey com sonoridade típica de piano, e o encerramento “Dancing in My Sleep” fazem uso dessa estética que busca aglutinar o “melhor dos dois mundos” do Purple, do “ontem” e do “hoje”.
Entre as minhas favoritas da tracklist, estão a trinca de abertura – “Throw My Bones”, “Drop the Weapon” e “We’re All the Same in the Dark” –, além de “No Need to Shout” e “The Power of the Moon”. É digna de nota, ainda, a regravação da instrumental “And the Address”, faixa que abriu o primeiro álbum da banda, “Shades of Deep Purple” (1968). Curioso observar, inclusive, que Ian Paice é o único músico daqueles tempos a participar do novo registro.
Embora seja mais completo e mais aprofundado em sua proposta (colocando o “deep” de volta ao “purple”, como eles mesmos brincaram), “Whoosh!”, ao menos em minha preferência, perde um pouco para “Infinite”, que caminha mais para o lado do classic rock e soa ainda mais como produto de jams regadas a whisky e papos existenciais. Questão de gosto, pois os dois álbuns soam tão uniformes que até os timbres são reproduzidos de semelhantes.
Para os fãs, inclusive, é uma grande felicidade poder ouvir um álbum novo do Purple a essa altura do campeonato. Trata-se de um um bom trabalho de uma banda que só entrou em estúdio para gravar porque quis, já que não precisam provar mais nada a ninguém. E para desfrutar disso é fundamental desprender-se de comparações aos trabalhos das décadas de 1970 e 1980. Estamos falando de setentões que têm outros predicados a oferecer.
Whoosh! – capa e tracklist
01. Throw My Bones
02. Drop The Weapon
03. We’re All The Same In The Dark
04. Nothing At All
05. No Need To Shout
06. Step By Step
07. What The What
08. The Long Way Round
09. The Power Of The Moon
10. Remission Possible
11. Man Alive
12. And The Address
13. Dancing In My Sleep