5 descobertas posteriores sobre “Gigaton”, álbum do Pearl Jam

O Pearl Jam é uma banda enigmática. Os introspectivos músicos da banda concedem poucas entrevistas e os comunicados à imprensa são, geralmente, um tanto interpretativos, sem tantas informações diretas. Não é de se espantar o fato de esse caminho ser adotado para promover o novo álbum, ‘Gigaton’, lançado no último dia 27 de março pela Universal.

Porém, algumas entrevistas concedidas após o lançamento trouxeram mais informações palpáveis a respeito de ‘Gigaton’. Desde a suposta inspiração em Chris Cornell, líder do Soundgarden e amigo dos membros do Pearl Jam, até a proposta concreta do disco como um todo, vários pontos foram tocados em depoimentos recentes, especialmente do vocalista Eddie Vedder e do produtor Josh Evans.

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Leia resenha de ‘Gigaton’, o novo álbum do Pearl Jam

A seguir, aponto 5 fatos sobre ‘Gigaton’ que foram descobertos apenas depois do lançamento.

Pearl Jam fez música sobre Chris Cornell?

Em entrevista ao jornalista Rodrigo Ortega, do ‘G1‘, o produtor Josh Evans falou sobre a especulação de que a música ‘Comes Then Goes’ seria sobre Chris Cornell, falecido em 2017. Todos os músicos do Pearl Jam eram próximos de Cornell, especialmente Eddie Vedder e o baterista Matt Cameron (que também tocava no Soundgarden).

A resposta de Evans não é exatamente conclusiva, mas pelo menos o assunto foi abordado. Ele não sabe se tem alguma composição do disco que seja sobre Chris Cornell, mas destacou que a influência do músico está em todo o registro.

“Nunca falamos explicitamente sobre nenhuma letra. Mas a morte do Chris teve um enorme impacto sobre a banda – e em mim também. Eddie e Matt (Cameron, baterista do Pearl Jam e do Soundgarden) foram muito próximos dele. Acho que a morte dele influenciou elementos de todas as músicas. Como não poderia?”, disse, inicialmente.

Josh Evans refletiu que Eddie Vedder “não é um compositor direto”, que fala sobre assuntos de forma objetiva. “A genialidade dele é pegar o que está acontecendo no mundo, na casa dele, no coração dele, nos vizinhos, incorporar nas letras e fazer isso se conectar com todos. Não sei onde está a influência do Chris, mas sei que está em todo lugar”, disse.

Em janeiro de 2019, o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament comentaram à ‘Rolling Stone’ que ‘Gigaton’, ainda sem título divulgado, estava sendo feito de forma devagar após o falecimento de Chris Cornell. Eles se reuniram para compor “umas quatro ou cinco vezes” em 2017 e 2018, mas estavam em uma “espécie de limbo”, segundo Ament.

“Seria divertido gravar ou apenas compor uma música juntos. Acho que quando Chris (Cornell) faleceu, foi algo realmente difícil de se entender. E, então, há coisas que apenas são da vida mesmo”, destacou o baixista na ocasião.

Curiosamente, em março de 2018, eles lançaram a música ‘Can’t Deny Me’, que acabou não entrando no disco. Ouça:

Por que ‘Gigaton’ demorou para sair?

A declaração sobre a morte de Chris Cornell ter colocado ‘Gigaton’ em uma “espécie de limbo”, como dito por Jeff Ament, já responde um pouco à pergunta sobre a demora para lançar o álbum. ‘Gigaton’ chegou a público 7 anos após seu antecessor, ‘Lightning Bolt’, e estava em produção desde 2017.

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De forma mais interpretativa, Eddie Vedder falou sobre essa demora em entrevista ao podcast de Bill Simmons, com transcrição via ‘Blabbermouth’. O vocalista deu a entender que o trabalho foi construído sem pressa – algo que poucas bandas podem se dar ao luxo de fazer, já que as gravadoras exercem pressão para marcar logo uma data de lançamento.

“Apenas começou diferente e terminou diferente. Tudo o que aconteceu no meio foi diferente. Foi isso que fez a diferença”, afirmou o cantor, inicialmente.

Em seguida, ele completou: “Em algum ponto, tivemos que finalizá-lo. Ficamos concentrados e pensamos: ‘ok, acho que conseguimos isso, agora vamos juntar esses fragmentos’. No outono passado (primavera no Hemisfério Sul), demos duro e colocamos um prazo final. Achei maduro de nossa parte dizer: ‘ok, vamos concluir, essa é a parte difícil'”.

Nesse sentido, um comunicado divulgado anteriormente pelo guitarrista Mike McCready soa complementar à declaração de Eddie Vedder. Ele explicou que ‘Gigaton’ demandou uma “longa jornada” para ser concluído.

“Foi um percurso obscuro e confuso por vezes, mas também é empolgante e experimental para a redenção musical. Colaborar com os colegas em ‘Gigaton’ me deu mais amor, consciência e conhecimento da necessidade por conexão humana nesses tempos”, disse.

Na entrevista ao ‘G1’, Josh Evans também falou sobre o período de “maturação” de ‘Gigaton’. “Demorou dois anos. Na abertura de ‘Retrograde’, por exemplo, eu devo ter passado uns dois dias experimentando coisas diferentes, esticando partes de guitarras e mexendo no Pro-tools. É muito legal ter o luxo de ter esse tempo, horas incontáveis”, afirmou.

Audição completa recomendada

Durante a mesma entrevista a Bill Simmons, Eddie Vedder reforçou que ‘Gigaton’ foi feito para ser ouvido por completo, do início ao fim. A proposta é diferente de outros discos contemporâneos, em que artistas compilam singles em vez de pensar no álbum como um todo.

“Não que todos tenham que ouvir tudo, mas ainda fazemos assim caso alguém queira escutar dessa forma. É como fazemos”, disse Vedder, inicialmente, sobre ‘Gigaton’.

O cantor comparou o disco com um show ao vivo. “Também é como um show: montamos a ordem das músicas para ter um fluxo e uma energia. Uma canção passa a tocha para a outra”, afirmou.

Por fim, ele fez uma conexão com sua origem para abordar esse conceito de continuidade que tanto valoriza. “Acho que isso vem muito do meu passado, de quando eu contava pontos quando era um garoto em jogos de beisebol. Obviamente, eu não era tão bom em matemática e não fui para a faculdade de contabilidade, mas eu olhava para o placar do Wrigley Field (estádio em Chicago, nos Estados Unidos) e acho que isso me ajudou muito”, disse.

Inspiração na atualidade

Em vez de resgatar o saudosismo que é tão celebrado no mundo do rock nos dias de hoje, o Pearl Jam preferiu fazer de ‘Gigaton’ um álbum marcado pela atualidade. Dessa forma, muitas letras refletem angústias contemporâneas dos músicos, especialmente a preservação ambiental, que, para eles, é muito relativizada durante a gestão de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos.

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Percebe-se que essa temática é explorada não só nas letras, como, também, no título e na capa de ‘Gigaton’.

A imagem da capa é do fotógrafo, cineasta e biólogo Paul Nicklen, com base na foto ‘Ice Waterfall’, tirada em Svalbard, na Noruega. Tanto a foto quanto o título do disco citam uma medida usada por cientistas para medir o degelo na Antártica e Groenlândia, causado, primordialmente, pelo aquecimento global.

Durante a entrevista ao ‘G1’, o produtor Josh Evans comentou um pouco sobre o conceito de ‘Gigaton’. “Eles me falaram o título do álbum só depois. Não acho que foi intencional no começo. Mas Eddie e todos os membros pensam em tudo que está acontecendo no mundo. Eles não falaram: ‘vamos fazer um disco sobre mudanças climáticas, ou política’. Era só o que estava na cabeça deles hoje em dia”, disse.

Em seguida, ele destacou que esses assuntos faziam parte das conversas em estúdio, mas de forma descompromissada. “Conversávamos sobre isso, mas do mesmo jeito que todo mundo: você acorda, toma seu café, lê as notícias e fala: ‘Viu o que o Trump fez hoje? O que eles estão falando? Não acredito no que está acontecendo’. O bom de uma banda como o Pearl Jam é que eles conseguem colocar essas emoções nas músicas. No estúdio nunca foi uma coisa direta tipo ‘estou bravo com o Trump, vamos escrever uma música sobre ele’. Estávamos vivendo nesse mundo e tentando entendê-lo juntos. Mas como todo mundo, havia muita conversa no estúdio, todo dia, sobre como esse mundo ficou doido”, afirmou.

A música ‘diferentona’ foi importante em ‘Gigaton’

Lançada como primeiro single de ‘Gigaton’, a faixa ‘Dance of the Clairvoyants’ foi recebida com estranheza pelos fãs. Muitos apontaram as influências de new wave, alternativo e até funk music. Embora não tenha agradado a todos, a canção foi importante para validar o trabalho feito em estúdio.

Quem diz isso é Josh Evans, em entrevista à ‘Variety‘ divulgada na data em que o álbum foi lançado. “Ela foi feita no meio das sessões de gravação. Parecia a trilha de uma bacia hidrográfica. Começou com uma batida estranha de bateria eletrônica de Matt Cameron. Stone Gossard (guitarrista) passou algum tempo rearranjando a batida e fez uma estrutura. Ele colocou a linha de baixo que você ouve no disco, de primeira. Não acho que Jeff Ament pensou: ‘ei, eu sou o baixista, deixa eu tocar e mostrar como é feito’ (risos)”, contou, inicialmente.

“Mike colocou a guitarra ao estilo funky, meio Nile Rodgers, e eu pensava: essa música é ridiculamente boa, mas como inserir em um disco do Pearl Jam? Eddie cantou as partes dele e se tornou uma música da banda. Para mim, ela validou a forma como estávamos trabalhando. Se conseguimos fazer aquilo, então, poderíamos fazer tudo. Parecia que havíamos decifrado o código após aquela música. Fiquei ainda mais empolgado quando se tornou o primeiro single. É como uma afirmação”, completou o produtor.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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