Pantera: Far Beyond Driven, o álbum mais pesado a chegar ao topo das paradas

Pantera – “Far Beyond Driven”
Lançado em 22 de março de 1994

Ainda é complicado pensar que “Far Beyond Driven” conquistou tamanho sucesso. O sétimo disco de estúdio do Pantera oferece uma espécie de conclusão à evolução iniciada com “Cowboys From Hell” (1990) e complementada com “Vulgar Display of Power” (1992). Por uma série de variáveis, que vão desde o confuso (porém prolífico) cenário musical da década de 90 até os méritos musicais, esse disco chegou ao primeiro lugar das paradas dos Estados Unidos. É, talvez, o registro mais pesado a conquistar tal feito.

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“Vulgar Display of Power” já parecia ter cooptado todo o sucesso que o Pantera poderia conquistar. A partir dali, o quarteto americano tinha três opções: repetir a fórmula, amaciar o som (como o Metallica fez no “Black Album”) ou aumentar a dose de peso. A última alternativa parecia a mais complicada em termos comerciais – e vale lembrar que todo mundo precisa colocar comida na mesa e que heavy metal, por si só, não enche barriga –, mas foi o caminho seguido, com maestria, pelos talentosos músicos envolvidos.

Além do feito impressionante no mercado americano, “Far Beyond Driven” chegou ao topo das paradas australianas e ao top 10 de países como Reino Unido (3°), Suécia (2°) e Alemanha (7°), entre outros. E tudo isso sem um single de verdade para promover o álbum – quatro faixas foram lançadas como canções de trabalho, mas não emplacaram sozinhas – e soando cada vez mais pesado na proposta de seu groove metal.

O que tem de tão diferente em “Far Beyond Driven” para acumular feitos tão expressivos em um momento de baixa no heavy metal? Além de concluir uma evolução iniciada em “Cowboys From Hell”, a sensação de que o Pantera estava, finalmente, fazendo o som que queria ajudou a dar sinceridade às músicas. Naquele momento, o grupo estava na ativa há uma década, sendo metade desse período com o vocalista Phil Anselmo. A experiência conferiu maturidade àquele desejo espontâneo de aumentar a “grosseria sonora”.

“Foi um álbum difícil de se fazer, porque nos esforçamos muito”, relembrou o já falecido baterista Vinnie Paul, em entrevista à revista “Revolver”. “E Terry (Date, produtor) estava lá para elevar o patamar ainda mais. Eu chegava com linhas de bateria que eu nunca pensei que faria porque veio dessa pressão intensa. Terry ainda pedia: ‘vamos lá, me dê algo a mais, faça alguma coisa que você nunca tenha feito’. Eu pedia 30 minutos para bolar algo, voltava e trazia algo completamente único”, completou.

A espontaneidade de Far Beyond Driven

Musicalmente, “Far Beyond Driven” explorou influências mais distintas. “Strength Beyond Strength”, por exemplo, é crossover puro. “Becoming”, por sua vez, tem um riff típico do metal industrial. A espontânea “Good Friends And A Bottle Of Pills” beira o bizarro com toda aquela recitação. “Hard Lines Sunken Cheeks” tem sete minutos de duração – e com paulada do início ao fim, diferente dos momentos alternados de “Cemetery Gates” (do álbum “Cowboys From Hell”), que também tem o mesmo tempo de reprodução. Até a versão de “Planet Caravan”, original do Black Sabbath, fugiu do que se esperava – ou só eu ouço uma pontinha grunge na pegada dessa aqui?

Sinto que o principal responsável por engrossar o caldeirão das influências foi Phil Anselmo, que, enfim, parecia se sentir à vontade – algo que foi bom musicalmente, mas que não deveria ter acontecido por completo, já que o fez expressar pensamentos ideológicos lamentáveis ao longo dos anos. Porém, outro nome parece ter “saído da casinha” por aqui: o saudoso guitarrista Dimebag Darrell, que, pela primeira vez, era creditado com o nome que o consagrou e não como Diamond Darrell, dos tempos de “Pantera glam”. A cozinha, claro, não fica para trás, com Rex Brown desempenhando suas funções de forma tímida, mas regular, e Vinnie Paul mostrando por que foi um dos últimos grandes bateristas do metal.

A espontaneidade chegou às letras, que refletiam muito do que os integrantes viviam naquele momento. “I’m Broken”, por exemplo, foi o relato de Phil Anselmo sobre as dores que sentia nas costas – algo que desencadeou o “início do fim” do Pantera” e será explicado nos parágrafos seguintes. Outro destaque, “5 Minutes Alone” foi a resposta da banda para um processo movido por um rapaz que apanhou durante um show do grupo, abrindo para o Megadeth. Vinnie Paul contou a história: “Esse cara ficou nos zombando o show todo, até que nós paramos e eu disse: ‘se você não notou, 18 mil pessoas aqui parecem estar curtindo, só você está fazendo essa m*rda’. Dez caras bateram nele em seguida. O pai dele nos processou, ligou para nosso empresário e disse: ‘me dê cinco minutos sozinho com aquele tal Phil Anselmo’”.

O início do fim

Infelizmente, o Pantera nunca mais foi o mesmo após “Far Beyond Driven”. Os discos seguintes mantêm bom nível musical, mas não soam inovadores como esse álbum e seus dois antecessores. Muito disso aconteceu graças ao clima ruim entre os integrantes, que teria início com o que foi descrito em “I’m Broken”: Phil Anselmo foi diagnosticado com uma doença degenerativa que afeta as costas e se afundou em álcool, medicamentos fortes e heroína.

“Eu me sentia preso”, relembrou Anselmo, à “Revolver”. “Eu me sentia perdido até mesmo explicando para os caras na banda, que estavam acostumados a ver um Superman no palco, que eu não era mais o Superman. Eu estava morrendo ali, me sentindo como um animal preso e muito confuso”, afirmou.

Com isso, os desentendimentos entre os integrantes, geralmente envolvendo o vocalista, eram frequentes. “Quando saímos em turnê, foi quando as coisas começaram a sair do controle e as pessoas não sabiam o que os outros estavam fazendo. Phil passou a viajar em ônibus separado. As coisas começaram a se transformar naquilo que nos levou ao fim”, contou Vinnie Paul.

O Pantera só acabou, mesmo, em 2003, mas “Far Beyond Driven” foi o início do fim. Ao mesmo tempo, foi a maior glória, artística e comercial, da banda e da história de seus integrantes. Sem Dimebag e Vinnie Paul, que nos deixaram, e um Phil Anselmo empenhado em queimar seu filme cada vez mais, resta-nos celebrar a história de uma banda que mudou a regra do jogo do metal na década de 90.

Phil Anselmo (vocal)
Dimebag Darrell (guitarra)
Rex Brown (baixo)
Vinnie Paul (bateria)

1. Strength Beyond Strength
2. Becoming
3. 5 Minutes Alone
4. I’m Broken”
5. Good Friends and a Bottle of Pills
6. Hard Lines, Sunken Cheeks
7. Slaughtered
8. 25 Years
9. Shedding Skin
10. Use My Third Arm
11. Throes of Rejection
12. Planet Caravan” (Black Sabbath cover)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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