O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, chamou a atenção ao atribuir a Cazuza, cantor falecido em 1990, uma frase que nunca foi dita por ele. Em recente entrevista à revista “Veja”, Rodríguez afirmou: “liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda”.
A declaração do ministro foi dada após o entrevistador da revista ter perguntado se a liberdade de cátedra inclui ensinar marxismo, fascismo e liberdade. “Liberdade não é fazer o que você deseja. Liberdade é agir, fazer escolhas dentro dos limites da lei e da moralidade. Fazer o que dá vontade não é ser livre. Isso é libertinagem. No Brasil, por força de ciclos autoritários, temos uma visão enviesada da liberdade. Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda. Não! Isso é desrespeito à autoridade, vai para o xilindró. Nossas crianças e adolescentes devem ser formados na educação para a cidadania, que ensina como agir de acordo com a lei e com a moral”, respondeu Rodríguez.
A frase em questão nunca foi dita por Cazuza: trata-se de uma brincadeira feita pelo humorístico “Casseta & Planeta” ainda na década de 1980. A situação fez com que Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, divulgasse uma carta aberta criticando o ministro da Educação.
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“Caro Sr. Ricardo Vélez Rodriguez, ministro da Educação, se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade”, afirmou Lucinha, inicialmente.
A mãe do cantor disse que não tem o intuito de alimentar discussões políticas, “por mais que os discursos retrógrados, que agridem a liberdade individual dos cidadãos brasileiros em suas escolhas pessoais vão contra a todos os princípios” pelos quais ela afirma trabalhar à frente da Viva Cazuza, ONG que atua em prol de crianças e adolescentes soropositivos.
“Gostaria de lembrar que Cazuza foi a primeira pessoa pública no Brasil a assumir sua condição de HIV positivo, o que possibilitou a luta pelo acesso universal do tratamento, o que fez do Brasil um país reconhecido mundialmente pelo programa de Aids e posteriormente imitado por outros tantos”, disse.
Veja, abaixo, a carta completa divulgada por Lucinha Araújo:
“Caro Sr. Ricardo Vélez Rodriguez, Ministro da Educação, se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade.
Não venho a público para discussão política, nesse momento, por mais que os discursos retrógrados, que agridem a liberdade individual dos cidadãos brasileiros em suas escolhas pessoais vão contra a todos os princípios pelos quais trabalho à frente da Viva Cazuza há 28 anos.
Cazuza foi um artista que deixou um legado através de sua obra, e isso não é a mãe do artista quem está dizendo, mas sim pela importância de sua obra, do número de novos artistas que a regravam, do quanto é tocado nos rádios, do quanto é baixado nos streamings, mesmo depois de 28 anos longe de nós. Se achar que é pouco, gostaria de lembrar que Cazuza foi a primeira pessoa pública no Brasil a assumir sua condição de HIV positivo, o que possibilitou a luta pelo acesso universal do tratamento, o que fez do Brasil um país reconhecido mundialmente pelo programa de Aids e posteriormente imitado por outros tantos.
Posso vislumbrar que não seja prioridade do atual governo programas sociais que visem a igualdade de direitos, respeito as minorias, educação e saneamento básico como prioridades, mas respeito a democracia que elegeu o atual presidente e que lhe nomeou. Mas, não posso deixar que declarações levianas coloquem na boca de Cazuza o que ele nunca disse. Gostaria de deixar aberta a possibilidade de se retratar publicamente para que não seja necessário ter que tomar providencias jurídicas.
Atenciosamente,
Lucinha Araújo”