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“Dirty Rotten Filthy Stinking Rich”, o álbum que lançou o Warrant

A primeira atitude do vocalista do Warrant, Jani Lane, ao receber seu adiantamento pelo contrato da banda com a gravadora Columbia resume bem sua personalidade – e a trajetória do grupo, como um todo. Logo ao receber o cheque, ele comprou um carrão (um Corvette, sendo mais preciso) e, pouquíssimo tempo depois, acabou o batendo. A impulsividade de Lane trouxe o charme e, também, a ruína do quinteto que ele liderava.

Ainda era 1984 quando o guitarrista Erik Turner resolveu montar o Warrant. A formação era bastante diferente daquela que ficou conhecida cinco anos depois, com seu álbum de estreia, “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich”. O baixista Jerry Dixon chegou ao grupo pouco tempo depois, mas foram necessários alguns anos até que chegassem Jani Lane e o baterista Steven Sweet, ambos de outro projeto chamado Plain Jane. O também guitarrista Joey Allen, que havia tocado com Turner nos primórdios da carreira musical, completou a line-up.

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Antes mesmo de Jani Lane, Steven Sweet e Joey Allen terem chegado, o Warrant já era uma banda de certa reputação na cena hard rock da Sunset Strip, em Los Angeles, pois tocaram com nomes do porte de Ted Nugent, Stryper e Black ‘n Blue. Com a entrada do trio, a mudança de patamar era inevitável: os novos músicos eram mais experientes e carismáticos, com menção especial a Lane, que era bom cantor, frontman e compositor.

Em 1987, o quinteto gravou uma demo para a Paisley Park Records, gravadora do lendário Prince. A partir daí, os caras passaram a chamar ainda mais a atenção, tendo até emplacado uma música, intitulada “Game of War”, na trilha sonora do filme “Bill & Ted’s Excellent Adventure”. E tudo isso antes do primeiro álbum.

No fim das contas, a Columbia contratou o Warrant – com direito ao infame episódio de Jani Lane com seu carrão – e “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” foi lançado em 31 de janeiro de 1989. Rolou até um atraso até que o álbum fosse finalizado porque Lane, coitado, sofreu um colapso nervoso após flagrar a namorada na cama com o melhor amigo. O episódio inspirou a criação da música “I Saw Red”, divulgada no álbum seguinte, “Cherry Pie” (1990), mas isso é assunto para outra hora.

“Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” serve como referência não só para a carreira do Warrant, como, também, para toda aquela cena hard rock oriunda da Sunset Strip. E isso pode ter conotação positiva ou negativa. Depende de como se analisa.

Positivamente, dá para dizer que “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” é um bom álbum do início ao fim. Suas 10 faixas distribuídas em 37 minutos de duração são envolventes. As baladas “Heaven” e “Sometimes She Cries” evidenciam o potencial melódico do grupo, enquanto as animadas “Down Boys”, “Big Talk” e “32 Pennies” mostram que os caras conseguiam soar roqueiros e acessíveis ao mesmo tempo. Até as faixas consideradas B-sides são bastante convincentes, a exemplo de “In The Sticks” com sua levada curiosa, “Ridin’ High” com seu tom inconsequente e “So Damn Pretty (Should Be Against The Law)” com sua veia mais pesada.

Negativamente, “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” perde um pouco para os dois sucessores diretos, o muito bem-sucedido “Cherry Pie” e o injustamente contestado “Dog Eat Dog” (1992), porque suas músicas não tiveram o tratamento merecido. O produtor Beau Hill, visto como o Midas do hard rock oitentista e praticamente o sexto membro do Ratt, fez com que o álbum soasse muito datado. “Down Boys” sem coros e sintetizadores de fundo se transformaria numa baita música de hard n’ heavy, a exemplo do que se vê ao vivo. O mesmo vale para a grudenta “Big Talk”, que, com as saídas propostas por Hill, pode gerar até confusão: é uma boyband?

Beau Hill, aliás, é a figura polêmica por trás das especulações de que o guitarrista Mike Slamer (Streets) teria gravado todas as linhas do instrumento em “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich”, jogando Joey Allen e Erik Turner para escanteio. “Na pré-produção, eu disse: ‘estamos competindo com os maiores guitarristas do mundo e tenho que ser honesto: as músicas são ótimas, mas estamos fracos no departamento de solos e, por isso, eu gostaria de trazer alguém’”, disse Hill, em entrevista ao Ultimate-Guitar, sem detalhar o envolvimento do músico. Os integrantes do Warrant afirmam que a influência de Slamer foi menor: ele teria tocado apenas alguns solos e nada mais. A situação, aliás, se repetiu em “Cherry Pie” – e o integrante secreto foi creditado em ambos os encartes.

– Leia e conheça: Mike Slamer, o suposto responsável pelas guitarras em discos do Warrant

Felizmente, a consistência do repertório apresentado pelo Warrant fez com que “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” se tornasse uma referência mais positiva do que negativa para aquele período final do hard rock oitentista – que, na década de 1990, não sobreviveu à explosão de novos estilos de rock e, especialmente, à própria saturação. Todas as 10 músicas presentes no disco são boas, sem exceção. Isso conta muito para que um trabalho seja lembrado futuramente. Não adianta apostar nos fillers: bandas caem no esquecimento quando fazem um álbum com alguns singles e várias faixas para encher linguiça.

A banda toda soa bem neste álbum, mas é impossível não destacar as contribuições de Jani Lane. Ele assina, sozinho, a autoria de todas as músicas, além de cantar de forma única. As guitarras são muito bem gravadas e a cozinha traz a solidez necessária, ainda que sem grandes destaques.

Com um bom repertório e detalhes bem ajustados aos padrões da época, “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich” não surpreendeu ao fazer sucesso. O álbum vendeu duas milhões de cópias nos Estados Unidos no período de um ano, onde chegou ao 10° lugar nas paradas e ainda conquistou disco de platina duplo, além de chegar às 100 mil no Canadá. A música “Heaven” emplacou na segunda colocação das paradas de singles dos EUA, além de “Sometimes She Cries” e “Down Boys”, que chegaram às posições de número 20 e 27, respectivamente.

Além de shows como headliner, o Warrant se apresentou como atração de abertura para turnês de Paul Stanley, Poison, Mötley Crüe, Queensrÿche e Cinderella. Uma das performances foi filmada e lançada em vídeo – na época, VHS e Laserdisc – sob o título “Warrant: Live – Dirty Rotten Filthy Stinking Rich”. Resultado: também fez sucesso e conquistou disco de platina nos Estados Unidos.

O melhor álbum do Warrant ainda estava por vir: “Cherry Pie” representou evolução artística e até comercial para a banda, que já estava na crista da onda desde o disco de estreia, mas vendeu muito mais na virada da década. Infelizmente, a pegada não se manteve com o ótimo “Dog Eat Dog”, que já aposta em uma sonoridade mais pesada, que transitava entre o heavy metal e o alternativo.

A partir dali, a impulsividade de Jani Lane, descrita nas primeiras linhas desse texto, ganharam um tom que não se refletia tão bem quanto antes. O Warrant virou sinônimo de instabilidade, assim como a própria vida de Lane, que faleceu em agosto de 2011, aos 47 anos, vítima de intoxicação alcoólica.

Os anos anteriores ao falecimento de Jani Lane não refletem quem foi ele, nem como era o Warrant. Já “Dirty Rotten Filthy Stinking Rich”, sim, é preciso em retratar o talento e a assertividade desses caras.

Jani Lane (vocal, violão)
Joey Allen (guitarra)
Erik Turner (guitarra)
Jerry Dixon (baixo)
Steven Sweet (bateria)

Músicos adicionais:
Mike Slamer (guitarra)
Beau Hill (teclados, backing vocals)
Bekka Bramlett (backing vocals)

01. 32 Pennies
02. Down Boys
03. Big Talk
04. Sometimes She Cries
05. So Damn Pretty (Should Be Against The Law)
06. D.R.F.S.R.
07. In the Sticks
08. Heaven
09. Ridin’ High
10. Cold Sweat

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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