Os ambiciosos discos solo dos membros do Kiss, lançados em 1978

Iniciativa não conseguiu os frutos desejados, mas trouxe materiais interessantes para os fãs

De 1977 a 1978, estima-se que o Kiss tenha lucrado cerca de 17 milhões e meio de dólares com sua música e sua devida publicidade. Já eram a maior banda do mundo daquele momento. Chegaram até a bater os Beatles em um dos recordes mais complicados – lotar em cinco noites consecutivas o Budokan Hall de Tóquio, façanha que o Fab Four fez quatro vezes. Enfim, conquistaram o que desejavam… será?

Juntamente do empresário Bill Aucoin, os quatro ambiciosos mascarados arriscaram um plano que tinha a pretensão de torná-los maiores ainda. Algo maior que a vida – “larger than life”, como diria o título de uma música encontrada na parte de estúdio de “Alive II” e que pode ser a temática ideal para a trajetória trilhada por eles.

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Durante o ano de 1978, o Kiss pôs em prática o plano, que consistia em duas etapas. A primeira foi o lançamento simultâneo de quatro álbuns solo. Eis que Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss tiveram a chance de expor seus anseios musicais de forma separada, em uma ideia praticamente inédita na música até então.

A segunda foi a produção de um filme que colaboraria para a eternização da imagem do quarteto como super-heróis, distantes de serem humanos. Foi batizado de “Kiss Meets The Phantom Of The Park” e transmitido através da NBC em 28 de outubro de 1978 – três dias anteriores ao Halloween. Embora o filme seja tosco, marcou um dos maiores picos televisivos de audiência em todo o país naquele ano.

Assim como o filme, não dá para dizer que os discos solo atingiram os objetivos mais otimistas do Kiss. As vendas não foram de acordo com o planejado – afinal, quem compraria quatro álbuns de uma vez? – e o patamar de qualidade conquistado não se equiparou às produções mais clássicas do quarteto.

Além disso, o projeto megalomaníaco abriu especulações de que os trabalhos separados serviram como estratégia para segurar os descontentes Ace Frehley e Peter Criss na formação por mais tempo – algo que não funcionou, já que Criss e Frehley deixaram de integrar a banda em 1980 e 1982, respectivamente.

Apesar disso, há muito para se falar sobre esses quatro álbuns solo. Por isso, pautei-os separadamente a seguir.

Paul Stanley

O álbum de Paul Stanley é o mais fácil de se assimilar – e é por aí mesmo que notamos quem realmente guardava consigo a alma do Kiss. Stanley foi balanceado e coeso em seu álbum, bem como se responsabilizou por quase todo o processo – além dos vocais e das guitarras rítmicas, também tomou conta da produção e da mixagem por sua conta e risco, recebendo apenas auxílio de Jeff Glixman em algumas faixas.

Nomes conhecidos não são muitos – Paul optou por convocar bons músicos de estúdio, com exceção do lendário Carmine Appice, que tocou bateria na ótima “Take Me Away (Together As One)”, e Bob Kulick, que assumiu a guitarra solo do álbum. De resto, uma salada mista de músicos.

Apesar disso, o padrão é fortemente mantido – aliás, é o disco mais padronizado dos quatro, já que aposta num hard rock ganchudo, harmonioso e com bases no que o Kiss já fazia. Entre todos, é o melhor álbum, ao lado do álbum de Ace Frehley.

Os destaques vão para as rockers “Wouldn’t You Like To Know Me” e “Love In Chains”, a poderosa abertura “Tonight You Belong To Me” e a melódica “Take Me Away (Together As One)”.

Paul Stanley – vocal, guitarra base, violão, E-Bow, guitarra solo em 7
Bob Kulick – guitarra solo, violão
Steve Buslowe – baixo em 1, 2, 3, 4 e 5
Richie Fontana – bateria em 1, 2, 3 e 4
Eric Nelson – baixo em 6, 7, 8 e 9
Craig Krampf – bateria em 6, 7, 8 e 9

Músicos adicionais:
Carmine Appice – bateria em 5
Steve Lacey – guitarra adicional em 8
Doug (Gling) Katsaros – piano, cordas e backing vocals em 7
Peppy Castro – backing vocals em 3 e 7
Miriam Naomi Valle – backing vocals em 2
Maria Vidal – backing vocals em 2
Diana Grasselli – backing vocals em 2

01. Tonight You Belong To Me
02. Move On
03. Ain’t Quite Right
04. Wouldn’t You Like To Know Me
05. Take Me Away (Together As One)
06. It’s Alright
07. Hold Me, Touch Me (Think Of Me When We’re Apart)
08. Love In Chains
09. Goodbye

Gene Simmons

Embora não seja o pior, o álbum solo de Gene Simmons foi o mais decepcionante. Por ser a “figura” mais reconhecida do grupo, esperava-se que o Demon apresentaria alto patamar de qualidade em seu álbum. Não foi o que aconteceu, já que o registro oscila, mas isso não significa que as músicas sejam descartáveis e não mereçam atenção.

Gene Simmons assumiu a co-produção com o “quinto Kiss” Sean Delaney e, curiosamente, tocou apenas guitarra no álbum – o baixo ficou son responsabilidade de Neil Jason. Entre as participações, nomes de peso: Bob Seger, Joe Perry (Aerosmith), Rick Nielsen (Cheap Trick) e a então namorada de Simmons, a cantora Cher.

Gene, aliás, conta que quase conseguiu reunir John Lennon e Paul McCartney para cantarem os backing vocals de “See You Tonite”, mas ambos recusaram quando souberam que se cruzariam. Infelizmente, a morte de Lennon em 1980 impediu qualquer outro tipo de reunião.

No álbum, Simmons apostou em um repertório mais versátil, heterogêneo e com algumas faixas que fogem do Kiss. A influência dos Beatles, banda favorita do Demon, é forte. Além disso, há momentos com efeitos sonoros duvidosos, pegada pop e até uma regravação de “When You Wish Upon A Star”, tema do filme de Pinóquio.

O disco de Gene Simmons foi o que atingiu mais alta nas paradas dos Estados Unidos (24°), apesar de não ter sido o que mais vendeu.

Os destaques ficam para o single roqueiro “Radioactive”, a única realmente semelhante ao trabalho do Kiss por aqui; a diferente porém carismática “Burning Up With Fever”; a boa balada beatle “See You Tonight”, que também está presente no “MTV Unplugged”; e a releitura de “See You In Your Dreams”, originalmente presente no álbum “Rock And Roll Over”, de 1976.

Gene Simmons – vocal, guitarra, violão
Elliot Randall – guitarra, violão
Neil Jason – baixo
Allen Schwartzberg – bateria

Músicos adicionais:
Eric Troyer – piano e backing vocals em 1 e 6
Steve Lacey – guitarra em 1
Richard Gerstein – piano em 5 e 7
Joe Perry – guitarra em 1 e 4
Rick Nielsen – guitarra em 10
Jeff ‘Skunk’ Baxter – guitarra em 2, 3, 4 e 9
Ritchie Ranno – guitarra adicional em 4
Helen Reddy – backing vocals em 5
Donna Summer – backing vocals em 2
Bob Seger – backing vocals em 1 e 6
Cher – parte falada ao telefone em 6
Mitch Weissman & Joe Pecorino (Beatlemania) – backing vocals em 3, 7 e 9
Michael Des Barres – backing vocals em 10
Sean Delaney – backing vocals
Gordon Grody – backing vocals
Diva Gray – backing vocals
Kate Sagal – backing vocals
Franny Eisenberg – backing vocals
Carolyn Ray – backing vocals

01. Radioactive
02. Burning Up With Fever
03. See You Tonite
04. Tunnel Of Love
05. True Confessions
06. Living In Sin
07. Always Near You/Nowhere To Hide
08. Man Of 1,000 Faces
09. Mr. Make Believe
10. See You In Your Dreams
11. When You Wish Upon A Star

Ace Frehley

Diferente de seus colegas (especialmente de Gene Simmons), Ace Frehley não aderiu às excentricidades e contou com poucos convidados em seu disco. Ace assumiu vocais, guitarra, baixo e a co-produção, ao lado de Eddie Kramer. A bateria ficou por conta do excelente Anton Fig, que também gravou “Dynasty” e “Unmasked” com o Kiss, fingindo ser Peter Criss.

Talvez por estar em uma crescente criativa dentro do próprio Kiss, Ace Frehley foi o que melhor aproveitou seu álbum solo. Basicamente, ele fez um trabalho de rock and roll de primeira categoria, focado nas guitarras, no groove e em influências que vão do blues ao classic rock. Todas as músicas do álbum são boas e a simplicidade é o grande atrativo por aqui.

Por ter atendido às expectativas e substituído perfeitamente um álbum do quarteto, o álbum solo de Ace Frehley foi, junto do álbum de Paul Stanley, o que teve melhor repercussão. O trabalho do Spaceman foi além por ter emplacado o hit “New York Groove” na 13ª posição das paradas americanas.

Entre os destaques, estão as essencialmente roqueiras “I’m In Need Of Love” e “Speedin’ Back To My Baby”, para a paulada na testa “Rip It Out” e para a já citada “New York Groove”.

Ace Frehley – vocal, guitarra solo e base, baixo, violão, guitarra sintetizada
Anton Fig – bateria, percussão

Músicos adicionais:
Will Lee – baixo em 4, 7 e 8
Carl Tallarico – bateria em 9
Bill ‘Bear’ Scheniman – sino em 9
Larry Kelly – backing vocals em 1
David Lasley and Susan Collins & co. – backing vocals em 2, 5 e 6

01. Rip It Out
02. Speedin’ Back To My Baby
03. Snow Blind
04. Ozone
05. What’s On Your Mind?
06. New York Groove
07. I’m In Need Of Love
08. Wiped-Out
09. Fractured Mirror

Peter Criss

O álbum de Peter Criss é o mais fraco entre os quatro. Não só porque se desvirtuou do rock, como também pela falta de padrão em suas composiões – há momentos realmente bem ruins.

Também com uma lista de convidados considerável, que foi de Steve Lukather (guitarrista do Toto) a Stan Penridge (velho companheiro de Criss em suas bandas pré-Kiss) -, Peter Criss apenas cantou em seu disco solo, devido a um acidente de carro que havia sofrido naquele ano. A bateria ficou a cargo de músicos de estúdio.

Musicalmente, o álbum solo de Peter Criss tenta trazer algo do R&B, do pop daquela época e até do jazz. Como compositor, Criss se mostra abaixo da média, mas seus vocais são muito bons. A produção de Vini Poncia, que destaca teclados bregas e não dá pegada aos instrumentos, piora a situação.

Ainda assim, há alguns destaques no álbum, como as animadas “Tossin’ And Turnin'” (cover de Bobby Lewis) e “Rock Me Baby”, a abertura “I’m Gonna Love You” e a bela balada “Kiss The Girl Goodbye”.

Peter Criss – vocal, bateria, percussão
Stan Penridge – guitarra, backing vocals
Art Munson – guitarra
Bill Bodine – baixo

Músicos adicionais:
Allen Schwartzberg – bateria em 6, 7 e 10
Neil Jason – baixo em 6, 7 e 10
Elliot Randall – guitarra em 6 e 10
John Tropea – guitarra em 6, 7 e 10
Brendan Harkin – guitarra em 6
Steve Lukather – guitarra solo em 5 e 9
Bill Cuomo – teclados
Richard Gerstein – teclados em 6, 7 e 10
Michael Carnahan – saxofone em 3, sax em 9
Davey Faragher – backing vocals
Tommy Faragher – backing vocals
Danny Faragher – backing vocals
Jimmy Faragher – backing vocals
Maxine Dixon – backing vocals
Maxine Willard – backing vocals
Julia Tillman – backing vocals
Vini Poncia – backing vocals
Annie Sutton – backing vocals
Gordon Grody – backing vocals

01. I’m Gonna Love You
02. You Matter To Me
03. Tossin’ And Turnin’
04. Don’t You Let Me Down
05. That’s The Kind Of Sugar Papa Likes
06. Easy Thing
07. Rock Me, Baby
08. Kiss The Girl Goodbye
09. Hooked On Rock ‘N’ Roll
10. I Can’t Stop The Rain

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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