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Nervosa: novo disco, ascensão e feminismo em entrevista exclusiva

A Nervosa tem poucos anos de formação, mas já é uma das grandes bandas de metal do Brasil. Já são três discos na bagagem – o mais recente, “Downfall Of Mankind”, lançado neste ano por meio da Napalm Records – e a repercussão do grupo só aumenta com turnês que passam por todo o planeta.

Em “Downfall of Mankind”, a Nervosa se apresenta um pouco diferente. A principal mudança ocorreu na formação: a baterista Luana Dametto entrou para a banda, completa por Fernanda Lira no vocal e baixo e Prika Amaral na guitarra. E, no novo disco, a sonoridade thrash do grupo apresentou elementos interessantes do death metal, seja pelo background de Luana na música extrema – ela veio de uma banda de death metal chamada Apophizys, de Passo Fundo (RS) – ou pelo próprio desejo das demais musicistas em apostar num som ainda mais pesado.

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Em entrevista exclusiva, Luana Dametto disse que a fusão de elementos death metal à sonoridade thrash da Nervosa ocorreu de forma natural. “Creio que a banda já vinha evoluindo há muito tempo, sempre com novos elementos a cada álbum, mas claro que com o meu background tocando death metal e sendo fã de música extrema, isso possibilitou ainda mais uma mistura de death com thrash. Quando começamos a deixar algumas músicas mais extremas nos ensaios, todos gostaram. Então, certamente, esse era o rumo que tínhamos que tomar para o novo álbum. Blast beat sempre foi uma preferência nas minhas linhas de bateria e é claro que não iríamos deixar que colocar isso na Nervosa”, afirmou.

“Downfall of Mankind” contou com produção do argentino Martin Furia – “excelente produtor, testou tudo que queríamos testar e é muito aberto para mudanças e opiniões”, define Luana – e participações de João Gordo (Ratos de Porão), na paulada crossover “Cultura de Estupro”, e Michael Gilbert (Flotsam And Jetsam) e Rodrigo Oliveira (Korzus), ambos na faixa “Selfish Battle”, orientada ao heavy tradicional. “Cada convidado gravou a música que mais combinasse com o seu estilo em suas bandas originais. E cada uma teve uma sugestão de quem convidar, pois cada uma tem seus ídolos e amigos para cada instrumento. Não estive presente nas gravações com João Gordo e Michael Gilbert, pois eles gravaram após eu ter voltado ao Rio Grande do Sul. Então, só vi o Rodrigo gravando. Não poderia ter ficado mais feliz de deixar a bateria pra alguém tão profissional quanto ele. Ficamos espantados com a performance e só temos a agradecer”, disse a baterista.


Com “Downfall of Mankind” lançado, a ideia da Nervosa é seguir em turnê por um bom tempo. Atualmente, a banda excursiona pela Europa, onde cumpre datas até o início de setembro. “Ainda não temos nenhum plano fixo ainda, pode ser que as coisas mudem, mas, depois da Europa, pretendemos fazer alguns shows no Brasil para divulgar mais esse novo disco. Por enquanto é isso que posso falar, mas logo surgirão mais novidades”, afirmou Luana.

“Metal girl power”

É inegável a representatividade feminina que a Nervosa traz no metal, especialmente dentro dos gêneros mais extremos. Ainda hoje, não é tão comum ver bandas formadas apenas por mulheres ou, mesmo, presença feminina em shows, festivais ou locais destinados a fãs do gênero. De acordo com Luana Dametto, a mensagem de muitas músicas presentes em “Downfall of Mankind” é puramente feminista, o que reforça a importância da banda nesse cenário ao discutir esse tema em suas composições.

“Acho que cada vez mais estamos melhorando nessa questão da representatividade feminina. Em ‘Downfall of Mankind’, temos alguns sons com letras puramente feministas, falando dos problemas que muitas mulheres ainda vivem em nossa sociedade. Isso faz toda a diferença. Além de sermos mulheres tocando e representando nesse meio, ainda estamos abrindo espaço para que, com a nossa música, se discutam ainda mais essas questões que nos envolvem. Acredito que, sim, o metal ainda está atrasado nesse assunto. Recebemos muitos comentários machistas em cada vídeo novo que lançamos, comentando sobre a nossa aparência a todo momento, como se tivéssemos a obrigação de parecermos bonitas, mesmo que nossa única obrigação seja com a música. Esperamos um dia sermos julgadas apenas pela música e pelo trabalho, como qualquer outra banda de homem”, afirmou Luana.

Uma das músicas que discute o tema mais abertamente em “Downfall of Mankind” é “Cultura de Estupro”, com título autoexplicativo e letra em português. “Existem até muitos vídeos no YouTube mostrando a diferença entre entrevistas com atletas femininas e masculinos. Quando a pergunta é feita para uma mulher, questões sobre vida pessoal e aparência sempre estão presentes, independente se o trabalho dela tem a ver ou não com isso. E isso nada mais é do que machismo. Também há muito comentários em relações aos nossos corpos, o que é ainda pior, e se torna bem inconveniente de ler e ouvir. Abrimos os comentários para receber o feedback dos fãs e nos deparamos com coisas que nossa deixam desconfortáveis e constrangidas, vindo de muitas pessoas que nem conhecem a banda. Isso viola o respeito como mulher e como profissional e está presente dentro e fora do metal. Espero que um dia isso mude”, completou a baterista.

Entrada e adaptação

Fernanda Lira e Prika Amaral sempre estiveram na Nervosa, mas o posto de baterista já teve outras donas antes de Luana Dametto: Fernanda Terra (entre 2010 e 2012), Jully Lee (entre 2012 e 2013) e Pitchu Ferraz (entre 2013 e 2016). A atual dona das baquetas da banda foi apresentada às demais integrantes por Edu Lane, batera do Nervochaos. “Estava tocando no Apophizys, uma banda de death metal de Passo Fundo (RS), e vi na internet que a Nervosa estava procurando baterista. Em seguida, a Prika me adicionou no Facebook para tocar uma ideia, então, já saquei que iriam me convidar para um teste ou algo do tipo”, conta Luana.

A pouca idade de Luana Dametto em comparação às demais integrantes – ela tem 21 anos, enquanto Fernanda está com 28 e Prika, 32 – chama a atenção, mas não interferiu em sua adaptação à Nervosa. “Obviamente, ganhei muita experiência com a banda, pois estou sempre em novas situações e trabalhando com muitos outros profissionais da área. Porém, sempre tive bandas e projetos com pessoas de mais idade que eu, pois ainda tenho 21 anos de idade e não é muito difícil achar músicos mais velhos que eu. Sempre quis me preparar para tocar profissionalmente. Desde que comecei a ter aulas de bateria, já esperava por uma oportunidade para viver de música. Por mais que tudo esteja sendo bem novo, me adaptei facilmente, afinal, era isso que sempre esperei pra fazer da vida”, afirmou a baterista.

Nervosa em crescimento

É perceptível que a Nervosa cresce a cada disco e turnê. A banda já excursionou por dezenas de países das Américas e Europa e dividiu palco com grandes nomes do metal. Algo cada vez mais raro entre os grupos de som pesado oriundos do Brasil.

De acordo com Luana Dametto, além de ser uma banda formada apenas por mulheres, a Nervosa se destaca pela qualidade do trabalho desde seus primeiros anos de formação. “Por mais que outras bandas femininas existam, elas ainda são novidade, então, querendo ou não, chamamos bastante atenção por isso. Após a primeira demo, a Nervosa já lançou um full-length de sonoridade profissional, capa e tudo mais, uma produção muito melhor do que esperamos de uma banda tão nova. Creio que isso tenha contribuído muito para a aceitação do público e crescimento rápido. A banda sempre trabalhou em fazer muitos shows por ano, e quase que desde do início, teve o apoio da gravadora Napalm Records. Tudo contribui para ter boa aceitação”, disse.

Outro ponto curioso, ainda ligado ao fato de ser uma banda formada apenas por mulheres, é a visceralidade presente nas músicas da Nervosa. “Apesar dos anos e álbuns que a banda já carrega, muitas pessoas ainda estão nos descobrindo e ficam surpresas pela agressividade do som e performance de palco. Muitos acreditam que vamos entrar no palco e tocar algo mais melódico, mas o que acontece é justamente o contrário”, afirmou.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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