Resenha: ‘Prequelle’ traz Ghost mais envolvente, experimental e denso, sem ser metálico

Ghost – “Prequelle” (2018)

O Ghost nasceu dentro do cenário heavy metal, tanto por algumas influências oriundas do estilo, como por sua inserção em meio ao público e até aos astros do segmento. Phil Anselmo (Pantera), Charlie Benante (Anthrax) e membros do Metallica, como James Hetfield e Kirk Hammett, entre outros, já expressaram sua admiração pelo grupo.

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Por essa razão, evidentemente, muitas pessoas classificaram o Ghost como uma banda de heavy metal. Não é. O grupo liderado pelo vocalista Tobias Forge – hoje, na persona de Cardinal Copia – aglutina influências do metal, mas, também, apresenta toques do hard rock da década de 1970, da new wave, do rock progressivo e da música pop como um todo. É uma salada artística tão peculiar quanto o visual e a proposta teatral da banda.

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Em 2015, com o disco “Meliora”, o vocalista Tobias Forge e sua trupe já pareciam dispostos a fugir das influências metálicas. A “investida” em um som mais heterogêneo ganhou ainda mais força em “Prequelle”, quarto trabalho da banda, lançado nesta sexta-feira (1°).

Ainda que um pouco menos metal, “Prequelle” é, sem dúvidas, uma legítima produção do Ghost – é denso, envolvente, intenso e pesado, só que sem tanto uso direto dos recursos do heavy metal. E, talvez, o distanciamento da pegada metálica tenha feito bem à banda, pois o novo álbum é ótimo. Já dá para dizer, de cara, que é um dos melhores da curta discografia do grupo, ao lado de seu antecessor, “Meliora”.

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Em temática, “Prequelle” não chega a ser um disco conceitual, mas diferentes abordagens sobre a morte permeiam quase todas as letras. A ausência de fade-out completo em algumas transições de faixas também indica alguma conexão entre elas. Até mesmo as histórias contadas na sequência da tracklist parecem ligeiramente amarradas: das músicas iniciais, que falam sobre a derrocada da raça humana, ao fechamento com “Life Eternal”, que reflete sobre o que pode ser perene ou perecível.

A instigante vinheta instrumental “Ashes” abre “Prequelle” e prepara terreno para “Rats”, que já é conhecida do público por ter sido o primeiro single do novo trabalho. É uma perfeita união entre heavy metal e new wave, especialmente pelo cativante refrão. “Faith”, na sequência, soa mais metálica e apresenta a pegada arrastada que consagrou o Ghost no passado.

A introdução de “See The Light”, guiada por voz e piano, até promete colocar o pé no freio, mas o refrão é forte e intenso. Repleta de ganchos melódicos, é uma das melhores faixas de “Prequelle”. A instrumental “Miasma” também entra no rol de destaques, não só por sua envolvente pegada setentista, como também pelos inesperados solos de saxofone em seu andamento. Seria perfeita se tivesse os vocais de Tobias Forge.

Também conhecida do público, a radiofônica “Dance Macabre” é outra das melhores faixas de “Prequelle”. Sua melodia marca uma forte investida no pop oitentista, ainda que seja, obviamente, guiada por guitarras. Música incrível. A seguinte, “Pro Memoria”, tem um “quê” progressivo e poderia tocar nos momentos finais de algum filme de terror ligado a religião ou algo do tipo. É a cara do Ghost.

“Witch Image” é como um desdobramento mais soturno de “Dance Macabre”: conta com os ganchos melódicos típicos do pop e do rock de arena, mas apresenta um pouco mais da pegada sombria do Ghost. A climática instrumental “Helvetesfönster”, por sua vez, chama a atenção pelos sintetizadores tocados por Mikael Akerfeldt (Opeth) e pelas mudanças rítmicas em seu miolo. Outra boa faixa que ficaria ainda melhor com vocais. Mais lenta, “Life Eternal” encerra “Prequelle” com crescimento gradual e melodias grandiosas a partir de sua segunda metade.

Os singles “Rats” e “Dance Macabre” já valeriam a audição de “Prequelle” por si só, mas canções como as grandiosas “See The Light” e “Pro Memoria” e as pesadas “Witch Image” e “Faith” reforçam o bom produto que é o quarto álbum do Ghost. O disco ficaria ainda melhor se as instrumentais “Miasma” e “Helvetesfönster” fossem cantadas, já que ambas têm cara de clássico.

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No geral, “Prequelle” não é o disco que o fã mais purista de heavy metal gostaria de ouvir. E isso, em minha visão, é ótimo. O Ghost – que, reforço, não faz música para headbanger desde seus primórdios – entrou em um caminho sem volta para expandir de horizontes e o novo álbum, que é muito bom, pode ser o começo de uma série de experimentos coerentes a serem lançados no futuro.

Nota 9

Cardinal Copia (vocal)
Papa Nihil (saxofone)
Os cinco Nameless Ghouls (guitarras, baixo, bateria e teclados)

Músicos adicionais:
Steve Moore (sintetizadores)
Mikael Akerfeldt (sintetizadores na faixa 9)
Davide Rossi (orquestração na faixa 7)

01. Ashes
02. Rats
03. Faith
04. See The Light
05. Miasma
06. Dance Macabre
07. Pro Memoria
08. Witch Image
09. Helvetesfönster
10. Life Eternal

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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