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“Powerage”, o retrato mais fiel do AC/DC com Bon Scott

Trabalho lançado em 5 de maio de 1978 mostra banda com sua sonoridade furiosa e aprimorada antes do enorme "Highway To Hell" (1979)

Os discos de maior sucesso do AC/DC são, sem dúvidas, “Highway To Hell” (1979) e “Back In Black” (1980). São eles os trabalhos multiplatinados, recheados de hits e, especialmente, com apelo especial para o mercado americano. Contudo, “Powerage” é tido por muitos como o melhor trabalho da banda – e, de certo modo, isso é compreensível sob determinado olhar.

Antes de “Powerage”, lançado em 25 de maio de 1978, o AC/DC já vinha em uma crescente em termos de qualidade e popularidade. No álbum antecessor, “Let There Be Rock” (1977), a pegada “bluesy hard rock” tomou posição da pitada glam rock, presente, anteriormente, em alguns momentos dos dois primeiros discos internacionais, “High Voltage” e “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”, ambos divulgados para o mundo em 1976 e de pouco êxito comercial – “Dirty Deeds…” chegou a ser rejeitado pela Atlantic nos Estados Unidos.

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Mais cru e até um pouco mais pesado, “Powerage” explora, de forma mais contundente, a veia blues do hard rock furioso do AC/DC. Chega a ser até experimental em alguns momentos, mas mesmo as músicas mais diferentes são boas. Do início ao fim, um inspirado Bon Scott apresenta algumas de suas melhores letras e interpretações, enquanto os irmãos Young soam raivosos como nunca. Tudo dá certo.

“Powerage” é, também, o primeiro trabalho do baixista Cliff Williams, que entrou na vaga de Mark Evans e adicionou a “cola” que faltava ao som da banda, especialmente à bateria de Phil Rudd. Há quem diga que George Young tocou o baixo no álbum, mas, se for verdade, o talentoso irmão mais velho de Angus e Malcolm é bem semelhante ao que Williams apresentaria no futuro.

O “problema” – sim, entre aspas mesmo – é que, diferente de “Let There Be Rock”, “Powerage” não contém um hit. As músicas fazem mais sentido dentro do contexto do álbum, tanto que raramente apareciam nos shows do AC/DC após a morte de Bon Scott, em 1980. E são, todas elas, muito boas. Não há filler algum.

Por outro lado, “Powerage” é um dos discos mais “álbuns”, na acepção da palavra, do AC/DC. Parece conter início, meio e fim, ainda que esteja longe de ser um trabalho conceitual. Quem gosta de colocar a bolacha para tocar do início ao fim, geralmente, tem “Powerage” como um de seus preferidos da banda, senão o predileto.

“Rock ‘n’ Roll Damnation” abre o disco com a pegada mais próxima possível de um clássico do rock: riffs sedutores, refrão fácil, letra rebelde e ritmo pulsante. “Down Payment Blues”, por sua vez, é um “blues hard” inesperado e de melodia adstringente – e, por isso mesmo, genial. “Gimme A Bullet”, mais simplória, remete aos álbuns iniciais do AC/DC, mas com uma camada sonora extra, graças às guitarras mais maduras de Angus e Malcolm.

A explosiva “Riff Raff”, com seu instrumental intenso, e a forte “Sin City”, com sua veia blues pulsante, são alguns dos maiores destaques de “Powerage”. Já a grudenta “What’s Next To The Moon” tem uma pequena pitada pop rock e chega a soar como filha da música “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”.

A sedutora “Gone Shootin'”, por sua vez, volta a destacar a influência do blues no som do AC/DC. Poderia ouvir o riff de abertura por um dia inteiro que não me enjoaria. A rocker “Up To My Neck In You” volta a acelerar as coisas e “Kicked In The Teeth”, que encerra o disco, é Bon Scott puro, seja pela letra melancólica ou pela melodia old school.

“Powerage”, no geral, ganha valor não só pelo seu material, mas pelo contexto em que está inserido. Na época, a visão era de que o álbum abriria caminho para uma trajetória longeva, mas, na verdade, “Powerage” é o penúltimo trabalho de Bon Scott antes de sua morte e a última produção de Harry Vanda e George Young até “Blow Up Your Video”, de 1988. Ou seja, um ciclo foi encerrado por aqui.

O AC/DC teve muitos altos e baixos nos 10 anos posteriores a “Powerage”. Logo no álbum seguinte, em “Highway To Hell”, a banda soaria diferente, em busca de mais sucesso, com a produção de Robert John “Mutt” Lange. A morte de Bon Scott e a chegada de Brian Johnson transformaram a banda, definitivamente, em outra coisa – o que é natural.

Graças a tudo isso, é como se “Powerage” retratasse, de forma ideal, o que Bon Scott e os irmãos Young pensavam para o AC/DC. E talvez seja por sua espontaneidade que esse álbum esteja, para muitos, no topo da discografia da banda.

Bon Scott (vocal)
Angus Young (guitarra)
Malcolm Young (guitarra, backing vocals)
Cliff Williams (baixo, backing vocals)
Phil Rudd (bateria)

1. Rock ‘n’ Roll Damnation
2. Down Payment Blues
3. Gimme A Bullet
4. Riff Raff
5. Sin City
6. What’s Next To The Moon
7. Gone Shootin’
8. Up To My Neck In You
9. Kicked In The Teeth

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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