Glenn Hughes adora, mesmo, o Brasil. E o afeto parece ser recíproco: o músico passa pelo país com frequência e costuma lotar seus shows. Agora, o lendário vocalista e baixista trará sua nova turnê “Classic Deep Purple Live”, onde resgata músicas de sua fase no Deep Purple – entre 1973 e 1976 –, para nada mais, nada menos que nove apresentações em terras tupiniquins. São elas: Brasília (17/4), Belo Horizonte (19/4), São Paulo (21/4), Limeira (22/4), Curitiba (24/4), Manaus (26/4), Porto Alegre (28/4), Rio de Janeiro (29/4) e Vila Velha (1°/5).
Em entrevista exclusiva, Glenn Hughes falou sobre a preparação e a motivação para a turnê “Classic Deep Purple Love”, rasgou elogios ao Brasil, comentou sobre o retorno do Black Country Communion e revelou, até mesmo, a sua “fonte da juventude”, pois, mesmo aos 66 anos, ele continua a cantar muito bem e a viajar pelo mundo inteiro.
Normalmente, Glenn Hughes já toca algumas músicas do Deep Purple em suas turnês, mas, desta vez, o show inteiro homenageia as fases MK3 e MK4, às quais ele pertenceu. Os períodos em questão geraram os álbuns “Burn” (1974), “Stormbringer” (1974) e “Come Taste the Band” (1975) – o último, com o já falecido guitarrista Tommy Bolin no lugar de Ritchie Blackmore. “Honestamente, apenas senti que, agora, era o momento certo para fazer isso. Por anos e anos, tenho feito meus próprios shows solo, mas, no ano passado, recebi várias ofertas para fazer exatamente o que farei no Brasil”, explicou.
Hughes deixou claro que a ideia não é reproduzir as músicas conforme foram gravadas nos discos. “Queria tocar arranjos ao vivo das músicas, em vez de arranjos de estúdio. Eu queria adaptar as versões dos shows no ‘California Jam’ e do ‘Made In Europe’”, afirmou ele, que será acompanhado por Soren Andersen (guitarra), Fer Escobedo (bateria) e Jay Bo Hansen (teclados).
Além das canções das fases MK3 e MK4, o repertório conta com duas músicas da fase MK2 – a formação clássica, com Ian Gillan nos vocais e Roger Glover no baixo, além de Blackmore, Ian Paice na bateria e Jon Lord nos teclados. “Sabe, eu vi o Deep Purple pela primeira vez em 1972. Adoro a música ‘Demon’s Eye’ (de ‘Fireball’, 1971), é uma ótima canção, a minha favorita, costumava tocá-la. E a razão pela qual estou tocando ‘Highway Star’ e ‘Smoke On The Water’ é que, na época da formação MK3, David (Coverdale, vocalista) e eu costumávamos cantá-las. A única razão é que são músicas épicas, ótimas para se tocar ao vivo e eu as cantei antes, quando estava no Deep Purple”, contou.
O Brasil entrou na rota da “Classic Deep Purple Live” logo após de Austrália, com oito shows realizados em 2017, e Europa, com duas datas antes de vir à América Latina – além de nosso país, Hughes se apresenta no Chile e na Argentina. Depois, ele volta a excursionar por Europa e Estados Unidos. Para quem gosta tanto de estar em terras tupiniquins, era uma obrigação trazer a tour até aqui. “Quero deixar isso bem claro: tenho um amor muito forte pelo Brasil. Amo as pessoas, a cultura, a comida, o futebol. Amo os fãs de rock no Brasil, eles são os fãs mais incríveis e barulhentos no mundo. Sempre que vou, é muito bom. É uma grande família do rock. Eu toquei muitas vezes no Brasil e já posso dizer que vou voltar após essa turnê, é a minha promessa”, afirmou.
Considerações sobre os três discos da “era Hughes”
A visão de Glenn Hughes sobre cada um dos três discos que gravou com o Deep Purple é muito clara. O músico enxerga diferenças pontuais entre “Burn”, “Stormbringer” e “Come Taste The Band”.
“(Ritchie) Blackmore trouxe algumas ideias para o disco ‘Stormbringer’, acho que ‘Soldier Of Fortune’ e a faixa título, mas o resto do disco foi feito por mim, Jon Lord e David (Coverdale). ‘Stormbringer’ é como um disco de uma banda, assim como ‘Burn’, mas, em ‘Stormbringer’, Ritchie estava deixando o Deep Purple, então, tivemos que aceitar e controlar o processo de composição. Veja, é claro que gostaríamos que Ritchie fizesse mais músicas para ‘Stormbringer’, mas não fez, então tivemos que continuar. Mas eu amo os dois álbuns, são realmente ótimos”, disse, sobre os dois álbuns da fase MK3.
Hughes parece ter uma admiração especial por “Come Taste The Band”, o único a ser gravado com Tommy Bolin na guitarra – a banda acabou no início em 1976, um ano após o lançamento do disco, e Bolin morreu no fim daquele mesmo ano, aos 25 anos, vítima de overdose de heroína e outras substâncias. “‘Come Taste The Band’ teve outra mudança na formação e, neste, levamos a banda para outra direção. Ainda estávamos tocando rock, mas a banda ficou carregada de emoção. Com Tommy Bolin na banda, era algo diferente. Quando há uma mudança no guitarrista, modifica o tom da banda. Tommy era um guitarrista incrível, como sabemos. Ritchie Blackmore é incrível, o maior, mas Tommy trouxe algo novo para a banda e é por isso que me divirto tocando algumas músicas de ‘Come Taste The Band’”, afirmou ele, que acrescentou três músicas do álbum – “This Time Around”, “Gettin’ Tighter” e “You Keep on Moving” – ao repertório regular da turnê.
A reunião que não deu certo
Em uma entrevista anterior, Glenn Hughes contou que houve uma tentativa para reunir a formação MK3 do Deep Purple – com Hughes, David Coverdale, Ritchie Blackmore, Jon Lord e Ian Paice. Entretanto, os planos foram por água abaixo por um motivo curioso: ninguém conseguiu conversar com Blackmore.
“Ninguém conseguia entrar em contato com Ritchie. Ele não estava disponível. Foi um ano antes de Jon falecer (2011), então, David, Jon e eu tentamos, mas não deu certo. Ninguém mais poderá ver a formação MK3 no palco e é uma pena, mas é a vida”, afirmou.
O cantor e baixista destacou que, em função da morte de Jon Lord e, consequentemente, a impossibilidade de reunir a formação completa nos dias de hoje, ele teve a ideia que culminou na turnê “Classic Deep Purple Live”. “A razão pela qual estou fazendo esses shows pelo mundo é para capturar as formações MK3 e MK4. Quero que os fãs que não conseguiram ouvir essas músicas com a formação MK2 ouçam agora. Com o que foi feito pelas formações MK3 e MK4, a única forma de ver uma performance completa é ir ao meu show”, disse.
A “fórmula” da juventude
Já faz algum tempo que Glenn Hughes tem impressionado por sua performance em cima dos palcos, tendo em vista a sua idade avançada – atualmente, está com 66 anos. A voz de Hughes envelheceu muito bem, com extensão e técnica preservadas. E ele não hesitou em compartilhar os segredos para se manter tão jovem.
“Creio que Deus me colocou aqui para cantar. Acredito que sou um mensageiro, que carrega uma mensagem de esperança, amor e fé para públicos como o brasileiro. Sou um cara muito espiritual. Eu me ajoelho, rezo todos os dias e sou muito grato por Deus ter me dado a minha voz. E a minha voz está mais forte do que nunca, mais do que na década de 1970. As pessoas me perguntam: ‘como você consegue cantar da mesma forma do que quando tinha 22 anos?’. Bem, eu me cuido, faço exercícios para a voz, sou vegetariano, tomo cuidado com a minha voz, durmo muitas horas por dia, bebo muita água, não fumo, não bebo uísque. É importante que eu cante uma música da melhor forma possível e tenho muita sorte de ter esse dom, então, quero carregá-lo para todo o mundo”, afirmou.
Futuro com o Black Country Communion
Além de conduzir sua carreira solo, Glenn Hughes está com o Black Country Communion, com Joe Bonamassa (guitarra), Jason Bonham (bateria) e Derek Sherinian (teclados). Após três anos separados, os músicos voltaram a tocar juntos e lançaram o álbum “BCCIV” em 2017. E os planos do quarteto seguem a todo vapor, segundo Hughes.
“Há cerca de dois anos, quando eu estava sendo induzido com o Deep Purple para o Rock And Roll Hall Of Fame, Joe me viu na TV, me ligou e me convidou para jantar com ele. Então, conversamos sobre fazer um novo disco, que se tornou ‘BCCIV’. Joe foi até a minha casa e compusemos o disco no meu estúdio. Joe e eu ficamos muito felizes da forma que o Black Country voltou. Fizemos alguns shows no início deste ano e, agora, planejamos fazer um novo disco em algum período do próximo ano”, disse.