Já faz algum tempo que o Mr. Big desafia não só a gravidade, como a própria lógica. Desde seu retorno, o supergrupo presenteia seus fãs com álbuns e shows de alto nível e enorme exigência técnica, mesmo com dois integrantes de idade considerada avançada – o vocalista Eric Martin, hoje com 60 anos, e o baixista Billy Sheehan, com 64.
Entretanto, os últimos anos têm sido desafiadores para o Mr. Big. A banda segue em atividade mesmo após o baterista Pat Torpey ter sido diagnosticado com Mal de Parkinson. Torpey continuou no grupo, como percussionista e cantor de apoio, além de uma espécie de “produtor de bateria”. As baquetas foram assumidas pelo competente Matt Starr e o agora quinteto segue em atividade.
A incrível atitude de manter Pat Torpey só poderia vir de uma banda incrível como o Mr. Big. E somente uma banda incrível como o Mr. Big poderia fazer um trabalho consistente como “Defying Gravity”, nono da irretocável discografia do grupo.
A qualidade de “Defying Gravity” está no padrão dos demais discos do Mr. Big, mas há uma enorme diferença com relação aos antecessores, em especial os outros dois gravados após a reunião de 2009: a produção mais sóbria. A opção por timbragens mais magras lembra, em alguns momentos, nuances da “fase Richie Kotzen” – só que, aqui, até o baixo de Billy Sheehan soa mais modesto.
A mudança nas timbragens dá sequência, de forma natural, à transição percebida no disco anterior, “…The Stories We Could Tell” (2014). Desde o álbum antecessor a “Defying Gravity”, nota-se que o hard rock do Mr. Big tem bebido de fontes mais classic rock, com menos momentos de shredding/fritação. Os malabarismos instrumentais ainda estão presentes, contudo, ocupam menos espaço nas faixas.
A groovy “Open Your Eyes” e a grudenta faixa-título, duas das melhores canções do álbum, abrem os trabalhos com o astral lá em cima. “Everybody Needs A Little Trouble” é razoável, enquanto a balada “Damn I’m In Love Again” cativa pela simplicidade. “Mean To Me” têm riffs hipnotizantes; já a semi-balada “Nothing Bad (Bout Feeling Good)”, apesar de boa, chama a atenção por passar uma sensação curiosa: a letra de tom positivo contrasta com uma melodia “para baixo”.
“Forever And Back”, terceira balada do disco, se destaca por seus backing vocals bem colocados. “She’s All Coming Back To Me Now” é quase um pop rock de tons noventistas, enquanto “1992” – cuja letra destaca o início da década em questão – é dispensável. Dona de um groove irresistível, “Nothing At All” prepara terreno para o encerramento com a bluesy “Be Kind”, que, com seus exuberantes sete minutos (os momentos finais são de frenesi), é a faixa de maior duração da discografia do Mr. Big.
O saldo geral de “Defying Gravity”, enquanto disco, é bastante positivo. É um disco mais sóbrio, direto e que parece encaixar o Mr. Big ao status de “banda veterana”, devido às opções levemente mais orientadas ao classic rock.
Nota 8
Eric Martin (vocal)
Paul Gilbert (guitarra, vocais de apoio)
Billy Sheehan (baixo, vocais de apoio)
Matt Starr (bateria)
Pat Torpey (percussão, vocais de apoio)
1. Open Your Eyes
2. Defying Gravity
3. Everybody Needs A Little Trouble
4. Damn I’m In Love Again
5. Mean To Me
6. Nothing Bad (Bout Feeling Good)
7. Forever And Back
8. She’s All Coming Back To Me Now
9. 1992
10. Nothing At All
11. Be Kind
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