Firehouse: na década de 1990, fama com hard rock na era grunge

O chamado hair metal fez muito sucesso na década de 1980, mas os anos 1990 foram ingratos com boa parte das bandas do gênero. Poucos nomes conseguiram produzir trabalhos relevantes após o rock alternativo e o grunge terem se tornado tendência no mainstream.

Um dos poucos nomes que conseguiu algum destaque nesse período foi o Firehouse, cujo primeiro disco foi lançado em 1990, antes do “fenômeno ‘Nevermind'”, em menção ao álbum mais famoso do Nirvana, chegar a público. O grupo foi formado em Charlotte, na Carolina do Norte, por músicos que tentavam se firmar no cenário desde o início da década de 1980.

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O Firehouse foi formado por dois integrantes do White Heat, o guitarrista Bill Leverty e o baterista Michael Foster, em união com o vocalista C.J. Snare e o baixista Perry Richardson, que integravam o Maxx Warrior. Demorou um pouco para que o projeto engrenasse: somente em dezembro de 1989, um representante da Epic Records assistiu a um show da banda, em Nova York – e se impressionou com o que viu.

O disco de estreia, como dito anteriormente, foi lançado antes do grunge e do alternativo dominarem o mainstream naquele período. E o registro obteve boa resposta comercial, com disco duplo de platina nos Estados Unidos e os singles “Love Of A Lifetime” – que quase ficou de fora do álbum – e “Don’t Treat Me Bad” no top 20.

Contudo, um feito que respingava no primeiro álbum da banda chamou a atenção em janeiro de 1992: o grupo conquistou o prêmio de “Favorite Heavy Metal/Hard Rock Artist” naquele American Music Awards, que correspondia ao ano de 1991. Artistas como Nirvana e Alice In Chains, que já haviam se estabelecido, foram desbancados naquela premiação.

“Aquilo foi fantástico! Estávamos totalmente despreparados para aquilo, porque você sabe que era um ponto da curva”, afirmou o vocalista C.J. Snare, em recente entrevista ao site SleazeRoxx.

O segundo disco do Firehouse, “Hold Your Fire”, foi lançado em junho de 1992. Como era de se esperar, o sucesso do debut não foi repetido. Entretanto, os números foram satisfatórios: 23° posição nas paradas dos Estados Unidos e single “When I Look Into Your Eyes” em 8° lugar nos charts, além de disco de ouro.

Naquele momento, o Firehouse começou a se atentar mais em mercados alternativos aos Estados Unidos, como países da Ásia. E, claro, o grupo soube que precisava apresentar algo diferente para que a banda se mantivesse viável, em termos comerciais.

O Firehouse entrou no ano de 1994 como uma das poucas bandas de hair metal a ter um contrato com uma gravadora “major”. Boa parte de seus contemporâneos – ou até aqueles que vieram antes deles – já estavam trabalhando em lançamentos independentes, sem um orçamento significativo para boas produções.

Naquele ano, a banda começou a trabalhar em “3”, terceiro disco de estúdio, que seria lançado em abril de 1995. Ainda que o hard rock típico do grupo tenha sido mantido em músicas como “Get A Life” e “Two Sides, a tracklist do álbum contém mais baladas do que registros anteriores, como “Love Is A Dangerous Thing”, “Here For You” e “No One At All”. Outras, como “Love Is A Dangerous Thing” e “Trying To Make A Living”, beiram o pop rock.

A significativa mudança de estratégia passa não só pelo Firehouse, mas, também, pelo produtor Ron Nevison, que trabalhou em “3”. O responsável pelas sonoridades de clássicos oitentistas, como “The Ultimate Sin” (Ozzy Osbourne) e “Heart” (Heart) – além do contestado “Crazy Nights” (Kiss), havia trabalhado, poucos anos antes, com o supergrupo Damn Yankees, formado por Jack Blades (Night Ranger), Tommy Shaw (Styx) e Ted Nugent.

Guardadas os devidos relativismos – e proporções -, o Damn Yankees deu indícios sonoros do que muitos grupos de hair metal deveriam ter feito nos anos 1990, mas não fizeram: um som ganchudo, só que mais sóbrio, sem tanta imposição de guitarra e instrumentais exibicionistas. Muitos grupos preferiram copiar o grunge e se deram mal. Sábios foram o Bon Jovi e o Firehouse, que entenderam o recado e ainda conseguiram emplacar algo naqueles tempos.

Enquanto disco, “3” não chegou a obter disco de ouro e só obteve uma 66ª posição nas paradas dos Estados Unidos. Todavia, o trunfo estava no grande hit do álbum, “I Live My Life For You”, que atingiu a 26ª posição dos charts da Billboard e conquistou repercussão em diversos países – inclusive no Brasil, que contou com uma passagem do grupo, sem shows, para divulgar o disco em programas de TV, como “Programa Livre” e “Xuxa Park”. Em terras tupiniquins, a canção chegou a entrar na trilha sonora da novela “A próxima vítima”, da Globo.

Sobre não ter feito shows no Brasil, o guitarrista Bill Leverty explicou, à revista Roadie Crew: “Fomos ao Brasil apenas para uma promo tour e naquela época tínhamos mesmo a intenção de voltar aí para fazer uma turnê, mas não houve acerto com os promotores de shows. Nós estávamos esperando uma oferta legítima para assinar o contrato, mas isto nunca de fato aconteceu […] Com respeito à música ‘I Live My Life For You’, na época ficamos sabendo que ela seria incluída numa novela para a TV e nos sentimos honrados com isso, pois sei que as novelas brasileiras fazem muito sucesso, inclusive em outras partes do mundo”, disse.

No vídeo abaixo, o Firehouse toca “Here For You”, mas outras músicas foram apresentadas – como o mega-hit “I Live My Life For You”:

“3” também foi o disco responsável por estabelecer, de vez, o Firehouse na Ásia. A recepção da banda por países como Tailândia, Singapura, Indonésia, Filipinas e Malásia, além do Japão, passou a ser ainda maior. Algo positivo para a banda, enquanto os Estados Unidos já não era mais uma opção tão rentável.

Na sequência de “3”, foi lançado o álbum acústico “Good Acoustics” (1996), que também refletia a nova proposta do Firehouse. O repertório do grupo ganhou uma estética ainda mais afável nos violões e, como resultado, foi agraciado com disco de ouro na Malásia, nas Filipinas e na Tailândia.

Em entrevista ao Rock Eyez, no ano de 2005, C.J. Snare relembrou essa aventura curiosa do Firehouse no mainstream da década de 1990. “No início dos anos 1990, surpreendemos muitas pessoas por sermos a única banda do estilo a ter um hit no top 20 em meio à cena de Seattle. Isso foi com ‘I Live My Life For You’, em 1995. Lembro como a indústria reagiu a isso… foram pegos com as calças arriadas”, afirmou.

Snare complementa: “Agora que você tem conglomerados musicais que monopolizam o que você escuta, para mim, o ‘pop’ é o que gravadoras querem que seja. Se é o que vai tocar na MTV e o que tem dólares das grandes companhias por trás, é o que as crianças vão escutar”.

Apesar do grande feito, a dupla “3” e “Good Acoustics” foi o último suspiro do Firehouse no mainstream. O contrato com a Epic Records foi encerrado na sequência e a banda assinou com o selo japonês Pony Canyon. A popularidade do grupo passou a ser trabalhada em território asiático daquele momento até o início da década de 2000, com três discos – “Category 5” (1999), “O2” (2000) e “Prime Time” (2003).

Depois disso, as próprias atividades do Firehouse deram uma esfriada. O único disco lançado após “Prime Time” foi “Full Circle” (2011), com regravações dos hits passados. Na estrada, a média é de 30 a 50 shows por ano, com apresentações mais recentes no Brasil nos anos de 2007 e 2013.

* Escrevi esse texto originalmente para o Whiplash.Net Rock e Heavy Metal.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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