Formações originais: e se grandes bandas as mantivessem?

Formações originais, geralmente, são aclamadas quando sobrevivem o suficiente para tal. Costuma soar mais sincero o trabalho de uma banda da forma que ela foi concebida desde o início.

Entretanto, grandes bandas de rock e metal tiveram problemas em suas formações iniciais. Para tais grupos, mudanças foram necessárias até que se chegasse a uma boa line-up que pudesse gravar o primeiro disco ou fazer a primeira turnê.

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A lista abaixo apresenta cinco formações originais de grandes bandas e um curioso exercício de imagnação: e se tais line-ups se mantivessem?

Para fazer esse exercício de imaginação, selecionei, entre algumas das maiores bandas do rock e metal, aquelas que sofreram mudanças em suas formações originais antes de registrarem o primeiro disco de músicas inéditas. Ou seja: Kiss, Led Zeppelin, Angra e Black Sabbath, além do grupo de apoio de Ozzy Osbourne, foram desconsiderados nesta lista, enquanto Guns N’ Roses, Iron Maiden, Metallica, Megadeth e AC/DC marcaram presença na análise.

Veja:

Guns N’ Roses

(Na foto: Rob Gardner, Izzy Stradlin, Axl Rose, Tracii Guns e Ole Beich)

O Guns N’ Roses é uma das bandas que mais teve mudanças de formação ao longo de sua história.

A primeiríssima formação do Guns N’ Roses contou com Axl Rose nos vocais, Tracii Guns na guitarra solo, Izzy Stradlin na guitarra rítmica, Ole Beich no baixo e Rob Gardner na bateria. A line-up durou por alguns meses de 1985 até que Tracii deu lugar a Slash, Ole foi substituído por Duff McKagan e Rob teve o seu posto tomado por Steven Adler.

A formação alternativa existiu porque a banda, na verdade, era uma união entre o L.A. Guns (integrado por Tracii Guns, Ole Beich e Rob Gardner) e o Hollywood Rose (de Axl Rose e Izzy Stradlin). Daí o nome Guns N’ Roses. Não foi uma junção muito natural, tanto que, em poucos meses, 60% da formação havia mudado. Vale destacar, ainda, que Axl Rose também cantou no L.A. Guns.

Após dois ou três shows com a formação original, Ole Beich acabou demitido para dar lugar a Duff McKagan. Tracii Guns saiu após uma discussão com Axl Rose e Rob Gardner saiu logo após, sabe-se lá o motivo. Curiosamente, as duas últimas vagas foram ocupadas por ex-integrantes do Hollywood Rose: Slash e Steven Adler.

Ole Beich acabou por morrer afogado em outubro de 1991, sem grandes contribuições à música nos seus últimos anos de vida. Rob Gardner ainda está vivo, mas também não teve outros trabalhos de destaque na música. Já Tracii Guns se estabeleceu com um L.A. Guns reformado a partir de 1985.

Apesar dos méritos de Tracii Guns enquanto guitarrista solo, dificilmente o Guns N’ Roses atingiria o status que obteve sem os músicos que entraram depois, em especial, Slash. O guitarrista da cartola era diferenciado: trouxe de volta um estilo old school de se tocar guitarra quando todos ainda tentavam emular Eddie Van Halen.

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Iron Maiden

(Na foto: Dave Sullivan, Rob Matthews, Paul Day, Terry Rance e Steve Harris)

O Iron Maiden sofreu com diversas mudanças em sua formação nos seus anos iniciais. Depois, contou com substituições pontuais, mas houve relativa estabilidade após a fama.

A primeira formação do Iron Maiden consistiu em Paul Day nos vocais, Dave Sullivan e Terry Rance nas guitarras, Steve Harris no baixo e Ron Matthews na bateria. Durou por apenas alguns meses entre o fim de 1975 e o início de 1976.

Em pouco tempo, Paul Day acabou demitido por Steve Harris. O motivo é que, segundo Harris, Day não tinha energia ou carisma no palco. Ele foi substituído por Dennis Wilcock, que permaneceu entre 1976 e 1978 até a chegada de Paul Di’Anno.

Paul Day chegou a formar uma banda chamada More, que conseguiu tocar no Monsters Of Rock de 1981. Também integrou o Wildfire até conseguir uma grande chance no Sweet, banda a qual integrou entre 1985 e 1989. Depois, não fez nada de grande relevância.

Os guitarristas Dave Sullivan e Terry Rance também saíram em 1976, após uma jogada estratégica de Steve Harris. O baixista queria que Dave Murray entrasse para a banda, só que Sullivan e Rance não desejavam a entrada do músico.

De forma temporária, Steve Harris deu fim ao Iron Maiden. A banda foi reformada meses – ou até semanas – depois, mas Sullivan e Rance não foram convidados para voltar. Tudo isto para Dave Murray se juntar ao grupo. A outra vaga foi ocupada por Bob Sawyer.

Ron Matthews foi o integrante original que mais durou, fora Steve Harris. Ele permaneceu na banda até 1977, quando foi demitido a pedido de Dennis Wilcock. Ele foi substituído por Thunderstick – aquele mesmo, do Samson.

A formação original do Iron Maiden também seria um entrave para o seu futuro sucesso. Apesar de ter se firmado apenas em dezembro de 1979, meses antes da gravação do disco de estreia, a line-up que registrou o álbum em questão era bastante afiada. Especialmente Paul Day soaria deslocado – tanto que ele integrou futuramente o Sweet, grupo pouco similar ao Maiden.

Metallica

(Na foto: James Hetfield, Ron McGovney, Lars Ulrich e Dave Mustaine)

Com uma das formações originais mais icônicas desta lista, o Metallica começou, em 1981, com James Hetfield no vocal e na guitarra rítmica, Dave Mustaine na guitarra solo, Ron McGovney no baixo e Lars Ulrich na bateria.

Ron McGovney foi o primeiro a ser dispensado do Metallica. Ainda em 1982, James Hetfield e Lars Ulrich o substituíram por Cliff Burton, não só porque Burton era um baixista fora de série, mas, também, porque McGovney pouco contribuía com o grupo em termos autorais. Ele apenas seguia as ordens.

Dave Mustaine foi demitido em 1983 após mostrar-se um sujeito problemático, devido aos seus vícios em álcool e drogas. A gota d’água foi seu comportamento agressivo ter aflorado pouco antes das gravações do primeiro disco do Metallica, “Kill ‘Em All”. Ele foi substituído por Kirk Hammett, que integrava o Exodus, na mesma tarde da demissão.

A formação original poderia ter dado certo e errado ao mesmo tempo. Ron McGovney, que chegou a entrar no Phantasm futuramente, era nulo em termos autorais, enquanto Cliff Burton era um cara bastante ativo neste quesito. James Hetfield diz, em entrevistas, que foi Burton o responsável por estimular os integrantes do grupo a estudarem música. A complexidade das composições, especialmente em “Master Of Puppets”, é evidente.

Dave Mustaine, por sua vez, era tão bom compositor que os dois primeiros discos do Metallica têm composições suas. Essa faceta se evidenciou no Megadeth, que é uma das grandes bandas de thrash ao lado do próprio Metallica.

Mas o talento criativo de Dave Mustaine, naquela época, dividia espaço com seu comportamento errático ao longo dos anos. Descrevo, em um texto paralelo, os motivos pelos quais a saída de Mustaine foi ótima para ambos os lados.

– Leia também: Dave Mustaine precisava ser chutado do Metallica

Megadeth

(Na foto: David Ellefson, Dave Mustaine e Greg Handevidt)

Formado por Dave Mustaine após a dispensa do Metallica, o Megadeth contou com inúmeras mudanças em sua formação. Somente Mustaine esteve presente em todas elas – seu braço-direito, o baixista David Ellefson, esteve fora da banda entre 2004 e 2010.

É difícil estabelecer qual foi a primeira formação do Megadeth. Dave Mustaine chegou a contar até com um vocalista – Lawrence Kane – nos primórdios. Mas a line-up considerada inicial da banda, após uma certa fase de testes, consiste em Mustaine nos vocais e na guitarra, Greg Handevidt na guitarra, David Ellefson no baixo e Lee Rausch na bateria.

Handevidt durou apenas alguns meses e o Megadeth tentou seguir como trio – chegou a gravar uma fita demo – até que chegaram à conclusão de que precisavam de outro guitarrista, Kerry King, do Slayer, chegou a ocupar esta vaga até decidir voltar à sua banda de origem. Quando King deixou o grupo, Lee Rausch também foi dispensado e deu lugar a Gar Samuelson.

Não dá para imaginar o Megadeth seguindo com sua formação original, pois Gar Samuelson e o guitarrista Chris Poland ofereceram um dos grandes diferenciais do grupo: o primor técnico nas execuções. Samuelson e Poland tocavam juntos em uma banda de jazz e eram ótimos instrumentistas, o que casou com a forma visceral que Dave Mustaine e David Ellefson tocavam.

Boa parte dos músicos que ocupou as vagas de guitarrista e baterista do Megadeth contava com um background técnico. Mesmo não sendo integrantes originais, Chris Poland e Gar Samuelson acabaram por deixar um legado em uma banda cujo controle criativo é quase 100% de Dave Mustaine.

AC/DC

(Na foto: Larry Van Kriedt, Angus Young, Malcolm Young, Dave Evans e Colin Burgess)

A primeira formação do AC/DC consistiu em Dave Evans nos vocais, os irmãos Angus e Malcolm Young nas guitarras, Larry Van Kriedt no baixo e Colin Burgess na bateria. Burgess, inclusive, já era relativamente conhecido por ter integrado a banda Master Apprentices. A line-up inaugural do AC/DC durou apenas cerca de quatro meses, entre o fim de 1973 e o início de 1974.

Os primeiros a saírem foram Larry Van Kriedt e Colin Burgess. Os motivos não foram claros, mas diversos músicos assumiram os postos de baixista e baterista do AC/DC até a entrada de Mark Evans (que viria a ser substituído por Cliff Williams) e Phil Rudd, em 1975.

Posteriormente, no fim de 1974, Dave Evans foi dispensado pelos irmãos Young. Segundo eles, a demissão foi ancorada em razões mercadológicas. Na época, o AC/DC era, basicamente, uma banda de glam rock. O promotor de eventos Michael Browning viu potencial no grupo, mas sugeriu que o estilo mudasse para algo mais pesado, orientado a um hard rock mais tradicional.

A ideia de fazer hard rock ganhou uma pegada bluesy típica dos irmãos Young, que logo enxergaram que Dave Evans não seria o sujeito ideal para o projeto. Com isso, Angus e Malcolm dispensaram Evans e se mudaram de Sydney para Melbourne, ainda na Austrália. Por lá, conheceram Bon Scott e o resto é história.

Seria difícil se dissociar do glam rock ou de uma pegada mais pop com Dave Evans nos vocais. Os demais músicos não fariam tanta diferença nessa pegada, mas Evans era decisivo. Seu vocal afável não permitia uma pegada mais pesada. Curiosamente, este elemento foi desenvolvido pelo cantor com o tempo, em sua carreira solo, iniciada tardiamente, já no século 21.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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