Deep Purple acerta em “InFinite” graças ao experimental dosado


Deep Purple – “InFinite” (2017)

O Deep Purple encara um processo de reinvenção desde a saída de Ritchie Blackmore, ainda na década de 90. Discos como “Purpendicular” (1996) e “Bananas” (2003), por exemplo, mostram que o grupo sempre procurou se reciclar em uma veia até levemente experimental.

Isto representa um mérito e tanto para a trajetória do Deep Purple. O grupo poderia ter estacionado na sonoridade única que desenvolveu na década de 70, mas o anseio em apresentar algo novo ao público falou mais alto.

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Tal situação pode ter equívocos como consequência. É como classifico “Now What?!” (2013), penúltimo disco do Deep Purple até agora. A banda passou a trabalhar com o renomado produtor Bob Ezrin, só que não conseguiu acertar na fórmula. De tão experimental, soou confuso.

Graças ao erro que é “Now What?!”, tive certo receio antes de dar o play em “InFinite”, álbum mais recente do quinteto. O medo de me decepcionar com este disco se reforçou com a apenas mediana “Time For Bedlam”, único single que havia ouvido até então.

Por sorte, não tive decepção alguma. “InFinite” é um ótimo trabalho. Aqui, o quinteto soube dosar a pegada experimental característica de Bob Ezrin à sonoridade mais classic rock que os fãs esperam.

Três personagens explicitam, em suas performances, a ousadia presente em “InFinite”. São eles: o guitarrista Steve Morse, o tecladista Don Airey e o produtor – e também tecladista – Bob Ezrin.

Steve Morse se diferencia pelo background. O guitarrista tem uma conexão aparente com o jazz, cada vez mais representada em seus fraseados no instrumento. Já Don Airey, que aparece mais aqui do que em outros trabalhos do Deep Purple, consegue mesclar o que há de melhor no jazz e também na influência que Jon Lord, seu mítico antecessor, exerceu em seu estilo de tocar.

Bob Ezrin, por sua vez, é o tipo de produtor que interfere muito nos discos em que trabalha. Embora esteja mais dosada do que em “Now What?!”, sua influência em “InFinite” pode ser sentida, em especial, nas faixas de presença mais orquestrada. O criativo canadense tem créditos compartilhados com o grupo na autoria de todas as faixas do álbum – com exceção, claro, do bom cover para “Roadhouse Blues” (The Doors), onde Ian Gillan, enfim, desenterra sua gaita.

Os momentos mais arranjados, inclusive, chegam a aliar uma curiosa pegada heavy rock, quase metálica. Percebe-se este trunfo em faixas como “The Surprising”, “Birds Of Prey” e “Time For Bedlam”. Em contraponto, o groove e os riffs comem soltos em faixas como “Hip Boots”, “Johnny’s Band” e “One Night In Vegas”.

O trio veterano de Deep Purple não foi mencionado anteriormente porque demonstrou a constância de sempre – embora, para mim, o vocalista Ian Gillan tenha sido um dos que mais pecaram em “Now What?!”.

O baixo de Roger Glover soa cada vez mais pesado, enquanto os vocais de Ian Gillan estão melhor adaptados à sua idade – mesmo com 71 anos, Gillan coloca a sua voz de forma imponente ao longo da tracklist. E como toca Ian Paice! Suas linhas são impecáveis e seu groove é diferenciado. Ainda é um dos melhores bateristas em atividade.

O único fator que pesa de forma negativa, para mim, é a falta de destaque à guitarra de Steve Morse. O instrumento soa baixo na mixagem final e há poucos solos no geral, apesar de que há mais licks e passagens em que as seis cordas brilham com os teclados de Don Airey. E a veia “espacial” presente em algumas canções também não é de meu total agrado, mas essa é uma questão ainda mais pessoal e que não entra nos méritos desta avaliação.

Ainda não dá para saber se “InFinite” é, mesmo, o “canto do cisne” do Deep Purple. A banda parece não ter se decidido exatamente com relação à aposentadoria. Independente do posto que este álbum ganhará na discografia do Deep Purple, trata-se de um bom registro.

Nota 8


Ian Gillan (vocal, gaita)
Steve Morse (guitarra)
Roger Glover (baixo)
Ian Paice (bateria)
Don Airey (teclados)

Músicos adicionais:
Bob Ezrin (teclados, backing vocals e percussão)
Tommy Denander (guitarra adicional na faixa 8)

01. Time For Bedlam
02. Hip Boots
03. All I Got Is You
04. One Night In Vegas
05. Get Me Outta Here
06. The Surprising
07. Johnny’s Band
08. On Top Of The World
09. Birds Of Prey
10. Roadhouse Blues (The Doors cover)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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