A péssima 1ª impressão que Paul Stanley teve de Gene Simmons

A primeira impressão nem sempre é a que fica. E ainda bem que é assim.

É o caso da dupla Paul Stanley e Gene Simmons, que capitaneia o KISS desde sua fundação, em 1973. Os músicos se conheceram um pouco antes, mais ao início da década de 70, quando foram apresentados pelo guitarrista Steve Coronel, com quem eles tocariam no Wicked Lester.

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Em seu livro, “Uma vida sem máscaras”, Paul Stanley, à época ainda conhecido por seu nome real, Stanley Eisen, relatou como conheceu Gene Simmons, que adotou o nome Gene Klein. “[…] ele (Gene Klein) e Steve haviam tocado juntos quando adolescentes em uma banda chamada The Long Island Sounds. […] Aparentemente, ele era um pouco mais velho do que eu e já tinha se formado na faculdade”, diz.

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Steve Coronel promoveu um encontro entre Stanley Eisen e Gene Klein. A impressão que o futuro Starchild teve não foi das melhores, a começar pelo visual.

“Gene tinha cabelo comprido e barba embaixo da papada. Estava muito acima do peso. Eu tinha uma constituição bem sólida naquela época, mas o cara era enorme. Vestia sandálias e um sobretudo e parecia saído do Hee Haw, um programa de TV dedicado à música country.”

Paul Stanley relata que achou Gene Simmons muito pretensioso e cheio de si. “Ele (Gene) tocou algumas canções para nós que me pareceram meio bobas. Então ele me desafiou a mostrar uma das minhas e toquei uma chamada ‘Sunday Driver’, que mais tarde mudei para ‘Let Me Know’. Ele pareceu estarrecido com o fato de alguém além de John Lennon, Paul McCartney e Gene Klein ser capaz de compor uma música”, afirma.

Musicalmente, também não havia muito em comum entre Gene e Stanley, ao menos de início. Enquanto Gene era um beatlemaníaco, Stanley estava muito mais ligado em bandas que faziam um rock mais intenso, como Jimi Hendrix Experience, Cream, Free e Humble Pie.

Durante o encontro musical, Gene começou a julgar Stanley, o que o deixou um pouco nervoso. O futuro Starchild tinha um problema congênito chamado microtia, que causou má formação de sua orelha direita e, consequentemente, problemas de audição daquele lado. Por ter que lidar com o preconceito relacionado a isso ao longo de toda a sua infância e adolescência, Stanley não recebia bem qualquer tipo de “avaliação”.

“Fiquei irritado por ele achar que atuavam em um nível que permitia que me julgasse, como se tudo o que importava fosse sua aprovação. Como eu não havia achado as canções dele grande coisa, ele estar me julgando pareceu arrogante, condescendente e ridículo. […] É claro que Gene não sabia da minha orelha, que estava coberta por meu cabelo, mas eu havia sido programado para odiar análises e julgamentos”, diz.

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Stanley disse que não ficou empolgado para trabalhar com Gene e deu sequência à sua vida. Ele estava em procura de uma banda e entrou em contato com o tecladista Brooke Ostrander, que formava um novo grupo e anunciou, em um jornal, que procurava por um guitarrista – o problema é que eles procuravam alguém para fazer solos e não bases.

Curiosamente, Gene se interessou em trabalhar com Stanley e o ligou para trabalhar em uma fita demo que ele desenvolvia com sua banda. “Aceitei. Bizarramente, descobri que o grupo estava tocando na casa do tecladista Brooke Ostrander e aquela era a mesma banda para a qual Brooke havia posto um anúncio”, afirma Paul.

Aquela banda se tornou o Wicked Lester, formada por Stanley Eisen (Paul Stanley) no vocal e na guitarra, Gene Klein (Gene Simmons) no vocal e no baixo, Brooke Ostrander nos teclados, Steve Coronel na guitarra (substituído por Ron Leejack posteriormente) e Tony Zarrella na bateria). O grupo gravou apenas um álbum, que foi engavetado pela Epic/A&R e jamais lançado.

Desiludidos, Stanley Eisen e Gene Klein uniram forças para lançar uma banda com mais identidade musical e impacto visual. Daí surgiu o Kiss, com Peter Criss na bateria e Ace Frehley na guitarra, além de seus frontmen terem adotado os nomes Paul Stanley e Gene Simmons em definitivo. O resto é história.

Ao longo de “Uma vida sem máscaras”, Paul Stanley tece vários elogios a Gene Simmons e explica porque a parceria deu certo. Stanley e Simmons tinham uma trajetória pessoal em comum (a família de ambos fugiu da Alemanha Nazista e do Holocausto, apesar da história de Gene ter sido um pouco mais forte), sabiam compor, cantavam bem e tinham foco.

No fim das contas, as diferenças viraram semelhanças. É claro que existiram, também, diversos momentos de conflito entre Paul Stanley e Gene Simmons ao longo das últimas quatro décadas: nos anos 1980, Simmons praticamente abandonou o Kiss para se dedicar a uma malfadada carreira no cinema. Stanley segurou a barra e a parceria nunca acabou. Em boa parte do tempo, os dois sempre colocaram o Kiss acima de tudo e de todos.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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