O Korn nunca se preocupou em fazer o mesmo álbum, com a mesma direção artística, por várias vezes. São mais de 20 anos de carreira e mais de 10 trabalhos de estúdio, cada qual com sua peculiaridade, na discografia.
No entanto, por mais que toda banda conte com um momento mais experimental em sua discografia, também há aquele período em que os músicos preferem voltar às suas raízes. Nem sempre há disposição para apostar em direcionamentos muito distantes do usual.
É o caso de “The Serenity Of Suffering”, 12° álbum de estúdio do Korn. Cada vez mais conscientes de que formam uma grande banda do metal mundial, os integrantes do grupo fizeram um trabalho que não só agrada à maior parte da base de seus fãs, como também atrai muitas pessoas que não tiveram o devido contato com o som do Korn anteriormente.
“The Serenity Of Suffering” contém todos os elementos tradicionalmente encontrados em um disco do Korn. Há afinações graves, timbres pesados, baixo característico, guitarras climáticas, bateria bem tocada, mudanças rítmicas inesperadas e interpretação irretocável do vocalista Jonathan Davis. Tudo nos trinques, com uma produção que destacou, de forma cristalina, o som robusto do grupo.
Há, para mim, dois diferenciais neste trabalho. E eles parecem antagônicos, mas não são. O primeiro é o cuidado com as composições, mais melódicas e com refrãos de impacto. Várias faixas aqui presentes poderiam servir como música de trabalho, como três – “Insane”, “Rotting In Vain” e “A Different World” – já serviram. O segundo é o peso. Poucas vezes o Korn soou tão denso como em “The Serenity Of Suffering”, especialmente pelas timbragens e opções de tons. Metálico sem abrir mão da maturidade autoral.
Já conhecida pelo público, “Insane” abre o disco mostrando que o velho Korn respira. Boa música, mas a coisa melhora em seguida. “Rotting In Vain” tem riffs pesados e grosseiros, além de boa performance de Jonathan Davis. O refrão entra na mente. A seguir, a levemente arrastada “Black Is The Soul” mantém o nível, mas não é tão boa quanto as anteriores.
Na sequência, a ótima “The Hating” apresenta alguns dos riffs mais pesados da discografia do Korn. O baterista Ray Luzier dá um show por aqui. Outro trunfo do disco é a participação de Corey Taylor em “A Different World”. Além de ser uma boa música, está bem posicionada na tracklist, por oferecer uma experiência diferente mais ao meio do álbum.
A groovy “Take Me” segura o bom momento do disco com seu molejo acentuado. Em seguida, os contrastes rítmicos e vocais de “Everything Falls Apart” chamam a atenção, enquanto a comum “Die Yet Another Thing”, mais padronizada, não tem algo a se destacar a não ser o pequeno trecho instrumental em seu miolo. Perde-se um pouco de fôlego em “When You’re Not There”, que, apesar da boa interpretação de Jonathan Davis, é uma faixa apenas razoável.
“Next In Line” volta a mostrar um Korn criativo e até ousado, especialmente pelas guitarras que fogem do lugar comum e pelas alternâncias notáveis entre peso e melodia, além de uma pitada de discotecagem em alguns momentos. “Please Come For Me” encerra o álbum com riffs grosseiros e variações entre versos com batidas programadas e refrães grudentos.
No geral, “The Serenity Of Suffering” agrada bastante. Mas não se deve escutá-lo em busca de um Korn diferente. Aqui, a banda apostou em seu som característico, sem muitos experimentos, mas com um cuidado extra nas melodias. Vale a pena dar o play.
Nota 8
Jonathan Davis (vocal, teclados, programação)
James “Munky” Shaffer (guitarra)
Brian “Head” Welch (guitarra)
Reginald “Fieldy” Arvizu (baixo)
Ray Luzier (bateria)
Músicos adicionais:
Corey Taylor (vocais em 5)
Nick Suddarth – Sluggo (programação)
Devin Spears – Nerd Rage (programação)
Rick Norris (programação)
DJ C-Minus (discotecagem)
01. Insane
02. Rotting In Vain
03. Black Is The Soul
04. The Hating
05. A Different World (feat. Corey Taylor)
06. Take Me
07. Everything Falls Apart
08. Die Yet Another Night
09. When You’re Not There
10. Next In Line
11. Please Come For Me