Beatles: os 50 anos de “Revolver”

Beatles – “Revolver”
Lançado em 5 de agosto de 1966

É difícil apontar qual disco dos Beatles foi o maior responsável por mudar a indústria fonográfica. Em praticamente todos os seus trabalhos, a banda conseguiu deixar marcas específicas – e imponentes – na música contemporânea. É possível, porém, dividir a trajetória do grupo em duas metades.

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Os cinco primeiros álbuns – da estreia “Please Please Me” (1963) a “Help” (1965) -, representam a primeira metade, onde a inovação proporcionada pelo Fab Four estava muito mais ligada aos limites que um grupo musical poderia atingir com sua popularidade. Cada fenômeno tem a sua época, mas dá para cravar que os Beatles foram maiores do que qualquer outro artista surgido anteriormente.

Do sexto disco, “Rubber Soul” (1965), em diante, os Beatles proporcionaram uma inovação musical. Para tal, chegaram a se aposentar das turnês, algo inimaginável mesmo na década de 1960, para se dedicarem aos álbuns “de corpo e alma”.

Entre os discos dessa segunda metade, um dos mais importantes é “Revolver”, que chega ao seu 50° aniversário de lançamento nesta sexta-feira, 5 de agosto. Não só pelo repertório em si, mas pelas técnicas de estúdio utilizadas pelo grupo.

“Revolver” mostrou uma banda altamente experimental. Pode parecer amador hoje em dia, mas, aqui, os Beatles inovaram ao utilizar loop de fita, gravações ao contrário e automatic double-tracking (ADT) em diferentes momentos do registro. No rock, ainda era inédita a ousadia de misturar clichês do gênero com instrumentos indianos e octeto de cordas, como feito em algumas canções aqui presentes.

Não foi fácil obter essa independência para experimentar atributos musicais. A gravadora EMI discordava com o projeto do engenheiro de som Geoff Emerick em aproximar os microfones aos instrumentos e amplificadores, a fim de ter um som mais cru e consistente. O grupo precisou fazer pressão até ter permissão para extrair o som pretendido em “Revolver”, que se desenvolveu nos trabalhos seguintes.

O repertório reflete o experimentalismo desde a sua concepção. Mesmo sendo um rock básico, a abertura “Taxman” é peculiar pelo seu andamento rítmico, que, de início, soa desencontrado, mas seduz em seu desenrolar. Na sequência, “Eleanor Rigby” marca a junção dos Beatles com elementos da música clássica. O resultado é pop, afável e tem a cara de Paul McCartney.

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Guiada por um violão seco, a semi-folk “I’m Only Sleeping” reflete os momentos mais tranquilos da mente de John Lennon. “Love You To” marca o mergulho de George Harrison na música tradicional indiana, especialmente do norte do país. Harrison já havia contribuído com algo nesse estilo para a introdução de “Norwegian Wood”, feita por John Lennon, mas, aqui, ele assina a composição por completo.

“Here, There And Everywhere” é uma canção básica. Um devaneio de Paul McCartney pelo pop rock irresistível dos Beach Boys. No entanto, o uso de vocal em pista dupla faz com que a faixa ganhe muito. O clássico “Yellow Submarine”, que daria nome a um disco futuro do grupo, mostra o quão sedutora pode ser a voz de Ringo Starr e um refrão bem construído.

O miolo do disco destaca atributos individuais de seus principais compositores de forma alternada. Obras de John Lennon, “She Said She Said”, “And Your Bird Can Sing” e “Doctor Robert” são faixas típicas de rock n’ roll e colocam a guitarra em primeiro plano, enquanto “Good Day Sunshine” e “For No One”, de Paul McCartney, são mais orientadas ao pop e guiadas por piano. À época, McCartney começava a evitar o processo de composição conjunto – por isso suas faixas são tão individuais.

“I Want To Tell You” retoma a essência colaborativa do quarteto. Composta por George Harrison, a música tem os momentos de guitarra em evidência, mas também aposta em um approach orientado ao pop em sua vocalização.

“Got To Get You Into My Life” é a tentativa de Paul McCartney fazer um som ao estilo Motown. Uma das melhores canções do disco. A climática  “Tomorrow Never Knows” dá fim ao disco de forma lisérgica e praticamente anuncia a sonoridade psicodélica que guiaria álbuns seguintes, como “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” (1967). É, de longe, a faixa mais experimental do álbum. Agora pense ouvir essa canção no ano de 1966.

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Como qualquer outro lançamento dos Beatles, “Revolver” manteve o êxito comercial e de crítica por parte da banda. No entanto, é perceptível que o grupo atingia outro patamar por aqui. Esse disco marca o início de uma revolução musical que persistiu ao longo de toda a década de 1960.

01. Taxman
02. Eleanor Rigby
03. I’m Only Sleeping
05. Here, There And Everywhere
06. Yellow Submarine
07. She Said She Said
08. Good Day Sunshine
09. And Your Bird Can Sing
10. For No One
11. Doctor Robert
12. I Want To Tell You
13. Got To Get You Into My Life
14. Tomorrow Never Knows

John Lennon (vocal, violão, guitarra, órgão, efeitos, pandeireta)
Paul McCartney (vocal, baixo, violão, guitarra, piano, clavicórdio, efeitos)
George Harrison (vocal, violao, guitarra, baixo, sitar, tambura, maraca)
Ringo Starr (vocal, bateria, pandeireta, maraca, cowbell)

Músicos adicionais:
Anil Bhagwat (tabla em 4)
Alan Civil (trompa em 10)
George Martin (piano em 8 e 14, órgão em 13 e efeitos em 6)
Mal Evans (bumbo em 6)
Neil Aspinall, Brian Jones, Donovan, Pattie Boyd, Marianne Faithfull (backing vocals em 6)
Tony Gilbert, Sidney Sax, John Sharpe, Jurgen Hess (violinos em 2)
Stephen Shingles, John Underwood (viola de arco em 2)
Derek Simpson, Norman Jones (violoncelo em 2)
Eddie Thornton, Ian Hamer, Les Condon (trompete em 14)
Peter Coe, Alan Branscombe (saxofone tenor em 14)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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