Blink-182 aposta em melodia e boa produção em “California”

Blink-182 – “California” [2016]
“California” é um divisor de águas para o Blink-182. Para o bem ou para o mal. Cabe ao fã/ouvinte decidir.
Tom DeLonge teve uma saída conturbada. Ele segue afirmando que apenas tirou férias e que logo volta à banda. Devido a esse cenário, que beira a insanidade, não parece que DeLonge voltará ao Blink-182. O músico também se desinteressou pelo projeto nos últimos anos, enquanto Mark Hoppus e Travis Barker queriam lançar material novo.
A dupla remanescente chamou Matt Skiba, vocalista e guitarrista do Alkaline Trio – uma banda claramente influenciada pelo Blink-182, apesar de trilhar caminhos mais melódicos. Desde o primeiro show, ao menos de acordo com os vídeos divulgados na web posteriormente, Skiba parece se sentir em casa.
No entanto, a função de Matt Skiba não é fácil. Por mais doido que seja, DeLonge foi o o maior responsável por dar identidade ao trio, tanto no desleixado início quanto na transição que o grupo viveu entre os álbuns “Take Off Your Pants And Jacket” (2001) e “Blink-182” (2003).
A presença de Matt Skiba no processo criativo trouxe uma pegada diferente ao Blink-182 em “California”. O disco é, reconhecidamente, mais melódico. Soa mais introspectivo em alguns momentos. Algo potencializado pela boa produção de John Feldmann, uma espécie de Midas do post-hardcore.
Não é uma mudança muito brusca, pois o trio já havia flertado com esse tipo de sonoridade no passado. Ao menos musicalmente, há mais profundidade e elaboração em alguns arranjos – apesar das letras ainda serem, no geral, diretas e até bobas. O baixo de Mark Hoppus segue básico e Travis Barker continua um monstro com as baquetas em mãos, mas o instrumental ganhou excelência com o criativo Matt Skiba na guitarra.
A abertura “Cynical” é veloz e divertida. Não representa a proposta do disco, mas entretém. “Bored To Death”, na sequência, abusa dos clichês do hardcore melódico – algo que o Blink-182 havia feito nos singles do disco “Neighborhoods”. É a principal música de trabalho de “California”. Boa canção, mas havia potencial para mais.
“She’s Out Of Her Mind” soa como os momentos alternativos de discos como “Take Off Your Pants And Jacket”. É melódica na medida certa, sem abandonar a pegada característica do Blink-182. Um dos destaques. “Los Angeles” confunde, com um início guiado por bateria eletrônica. A canção se desdobra e fica mais Alkaline Trio do que o esperado. Interessante, porém deslocada.
“Sober” volta a mesclar bem a essência introspectiva de Matt Skiba com a pegada nervosa de Mark Hoppus e Travis Barker. A mistura deu certo por aqui. A vinheta “Built This Pool” antecede a agitada “No Future”, que destaca o entrosamento de Skiba e Hoppus nos vocais. O pé é retirado do acelerador com a acústica “Home Is Such A Lonely Place”, muito bem bolada e agradável.
“Kings Of The Weekend” volta a apostar na mistura entre o melódico e o hardcore, enquanto “Teenage Satellites” tem pinta de hino de fim de adolescência. Boas músicas, sem tanto destaque. Na sequência, “Left Alone”, mais introspectiva, e “Rabbit Hole”, de batida mais rápida, já demonstram que a fórmula começa a cansar.
Próximo do fim, “San Diego”, enfim, traz algum momento diferenciado. Arrastada por um dedilhado minimalista de guitarra, a canção mostra um bom revezamento de vozes entre Mark Hoppus, nos versos, e Matt Skiba, nos refrães. “The Only Thing That Matters” é um dos poucos momentos orientados ao punk do disco. Travis Barker é o destaque.
A paradíssima faixa que dá nome ao disco é descartável. E, por fim, a vinheta instrumental que encerra o disco, “Brohemian Rhapsody”, poderia ter sido expandida.
“California” é, no geral, um bom disco. Bem produzido e trabalhado. Tem momentos repetitivos, especialmente a partir da segunda metade do disco, mas a parceria entre Matt Skiba e os remanescentes do Blink-182 fluiu muito bem. Com entrosamento, as composições podem sair ainda melhores, especialmente se a vertente melódica seguir explorada.
Apesar da montanha-russa na tracklist, que, por algumas vezes, oscilou do mediano para o excelente, pagaria para ver Skiba em mais trabalhos do Blink-182. Por mais que Tom DeLonge tenha uma ótima histórias com a banda, na minha visão, as férias dele podem continuar por muitos anos.
Nota 7

Mark Hoppus (vocal, baixo)
Matt Skiba (vocal, guitarra
Travis Barker (bateria)
Músicos adicionais:
Alabama Barker (piano)
Jack Hoppus (vocais adicionais)
DJ Spider (scratching)
1. Cynical
2. Bored to Death
3. She’s Out of Her Mind
4. Los Angeles
5. Sober
6. Built This Pool
7. No Future
8. Home Is Such a Lonely Place
9. Kings of the Weekend
10. Teenage Satellites
11. Left Alone
12. Rabbit Hole
13. San Diego
14. The Only Thing That Matters
15. California
16. Brohemian Rhapsody
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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