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Entrevista: EP apresenta a .blackclass., banda de ex-vocalista do Dance Of Days

(Foto: Adonis Guerra/Divulgação)

A banda paulistana Dance Of Days anunciou, em junho, que entraria em um hiato. Uma das pioneiras do hardcore (HC) melódico/emocore no Brasil com mais de 15 lançamentos entre CDs e EPs em 18 anos, não tem data para voltar. Enquanto a banda para, os músicos permanecem na ativa. É o caso do vocalista e compositor Nenê Altro, que deu início ao projeto .blackclass., anunciado logo após ser divulgado que o Dance Of Days faria shows finais em São Paulo (SP). O EP “Prospectus Omni” (independente, virtual), chegou ao público no segundo semestre deste ano, após sessões de gravação pelo projeto Converse Rubber Tracks. Processo acelerado como a música do grupo. “Tivemos cinco ensaios de duas horas para criar e ensaiar as músicas para essas gravações”, diz Nenê Altro, em entrevista ao CORREIO de Uberlândia.
Musicalmente, “Prospectus Omni” é menos melódico e mais visceral em comparação ao Dance Of Days. Faixas curtas – a maioria não passa dos dois minutos de duração -, com letras densas e sonoridade punk/HC, são a proposta do .blackclass. Não há, porém, um distanciamento tão evidente em relação à banda antiga de Nenê Altro. “O Dance Of Days sempre teve um lado meio obscuro, que não só aflorou completamente em álbuns mais pesados como o ‘Coração de Tróia’ (2002), mas aparece em faixas de discos mais melódicos, como em ‘Um Canto Para Caronte’ no ‘A Valsa De Águas Vivas’ (2004)”, afirma o cantor.
A tendência era que o .blackclass. fosse ainda mais pesado. O projeto nasceu com a proposta do estilo powerviolence, um subgênero mais rápido e visceral que os mais convencionais entre o punk e hardcore. “Não queria mais ficar nessa coisa desgastada de Sick Terror vs. Seek Terror. Nesse momento de minha vida não queria tocar ‘podreira’, e mostrei algumas bases que tinha guardadas há anos para uma banda com outra cara. Eles curtiram, começamos a ensaiar, e foi assim que nasceu o .blackclass.”, afirma, em menção à banda Seek Terror, que integrou na década de 1990.
Dance Of Days
O anúncio da pausa Dance Of Days surpreendeu, pois a banda estava bastante ativa. Uma série de quatro EPs foi lançada entre 2013 e 2015, com “Acontece Agora”, deste ano, sendo o mais recente. É a segunda pausa que o grupo dá – a primeira foi em 1998. “Minha opinião particular é a de que demos passos que nos desviaram da essência do que nos unia enquanto grupo nesses 18 anos de carreira. Então o inevitável foi parar, ‘dar um tempo’ nesse ‘casamento’ para repensar o que cada um queria no relacionamento”, afirma o vocalista Nenê Altro.
O Dance Of Days vinha de um ritmo “alucinante”, segundo o vocalista Nenê Altro. Apesar do EP “Prospectus Omni” ter chegado tão rapidamente ao público, a tendência é que o .blackclass. tenha uma carreira mais “cadenciada”. Ainda assim, de acordo com Altro, o primeiro full-length está nos planos. “Após esse EP, que registrou nosso começo, mais pesado, quero trabalhar com muita calma em um primeiro álbum. Esse é o plano, o resto apenas tem acontecido”, diz.
Serviço
O EP “Prospectus Omni”, do .blackclass. está disponível para audição no site da banda.
.blackclass. é:
Nenê Altro (vocais)
Jones Pereira (guitarra)
Gustavo Nogueira (baixo)
Filipe Freitas (bateria)

Faixas de “Prospectus Omni”:
1. Fogo morro acima
2. Do que arrancas de mim
3. Sempre cedente
4. Krank ainda não pode sonhar
5. Boas lonjuras, les enfants sauvages
6. Duvenhage
7. Alpa kamaska
Entrevista completa

O hiato do Dance Of Days veio bem rapidamente para o público. Em março vocês lançaram um clipe novo, um novo EP chegou para os fãs e, pouco tempo depois, o hiato foi anunciado, sem nenhuma turnê para dar um ponto final a essa fase. Por que esse hiato e por que não dá para chamar de “fim”?

Nenê Altro: “Uma banda é como um casamento, só que no caso envolve bem mais pessoas. Muitas coisas aconteceram nos últimos anos de Dance of Days, tanto em nossas vidas particulares quanto na estrada. De 2012 em diante tivemos mudanças estruturais após dez anos de formação estável, e, em 2015, mesmo seguindo a dinâmica da reta final do projeto dos quatro eps, minha opinião particular é a de que demos passos que nos desviaram da essência do que nos unia enquanto grupo nesses 18 anos de carreira. Então o inevitável foi parar, “dar um tempo” nesse casamento para repensar o que cada um queria no relacionamento, para depois, quando estivermos preparados, retomar do ponto no passado onde as coisas ainda estavam em harmonia e aí sim tentarmos novos caminhos. Acho isso normal, racional, maduro, e não é a primeira vez que isso aconteceu com o Dance of Days”.
Houve agilidade, também, para anunciar o .blackclass. A banda foi criada depois do anúncio do hiato, mas já vinha sido planejada anteriormente?

Nenê Altro: “Assim que o Dance of Days anunciou o hiato, no começo de Junho, desmarcou todos os shows agendados e faria apenas o show do Oxigênio para encerrar a fase 2015 da banda. Nessa mesma semana do anúncio, o Filipe, ex-baterista do Seek Terror, me convidou para fazermos apenas um show tocando músicas do Sick Terror, no dia 5 de Julho em Campinas, junto ao Ratos de Porão. Ia ser só um lance para esse evento, porém acabamos empolgando nos ensaios e pensando em formar uma nova banda powerviolence, dando ao projeto o nome de “Nowhere Fast”. Então o Dance of Days anunciou mais dois shows finais no Hangar 110, dias 9 e 10 de Julho. Os dias passaram, veio o show desse projeto em Campinas, depois rolaram esses dois shows finais do Dance of Days no Hangar e então eu me senti diferente, em um processo pesado de desapego e com vontade de novos rumos. Com isso decidi que não queria mais ficar nessa coisa desgastada de Sick Terror vs. Seek Terror, que nesse momento de minha vida não queria tocar “podreira”, e mostrei algumas bases que tinha guardadas há anos para uma banda com outra cara. Eles curtiram, começamos a ensaiar, e foi assim que nasceu o .blackclass.”.
Logo a banda gravou o EP de estreia por meio do Converse Rubber Tracks. Como foi essa seleção e o processo de gravação por esse projeto, que também foi marcado pela agilidade?

Nenê Altro: “Quando a banda ainda era um projeto powerviolence, surgiram algumas músicas no ensaio, decidimos gravá-las após o show de Campinas e acabamos selecionados para o projeto Converse Rubber Tracks. Aí, quando resolvemos mudar toda história na banda, que foi no ensaio de 15 de Julho, após os shows rolarem, já havia a data de 28 de Julho agendada no Family Mob para essas gravações, com Jean Dolabella e André Kbelo, e seria loucura abrir mão disso. Então tivemos apenas cinco ensaios de duas horas para criar e ensaiar as músicas para essas gravações. Cinco das sete faixas do ep tem a raiz mais pesada, pois foram adaptadas de músicas dos ensaios desse projeto powerviolence, mas achei importante serem registradas nesse começo da banda, pois sempre será parte de nossa história. As outras duas músicas foram as únicas completamente novas que criei e apontam um pouco das direções musicais que desejo tomar com o .blackclass.”.
Musicalmente, o .blackclass. é menos melódico e mais visceral em comparação ao Dance Of Days como um todo – apesar do Dance Of Days ter tido, também, fases mais cruas. Mas a nova banda ainda trabalha com um segmento bem próximo ao da antiga. Sob o ponto de vista de quem está fazendo o som, qual tem sido a diferença entre essas duas bandas?

Nenê Altro: “Eu sou o compositor dessas músicas do ep e, pelo menos até o momento, tudo continua vindo 100% das minhas criações, então, penso eu, é natural que soe semelhante em algumas coisas com o que já fiz anteriormente. O Dance of Days sempre teve um lado meio obscuro, que não só aflorou completamente em álbuns mais pesados como o Coração de Tróia, mas aparece também em faixas de discos mais melódicos, como em “Um Canto Para Caronte” no A Valsa De Águas Vivas. Penso que o .blackclass., se for para buscar uma comparação entre as duas bandas, aponta para elementos que usei ao criar músicas como “É Só O Inferno E Mais nada” e “Pregos, Cruzes e Um Saco de Moedas”. Contudo, acho que tem mais a ver com o início mesmo de 1997, com o “Six First Hits” e talvez até mais ainda com o Awkward, que é um projeto que tive em 1998, durante o primeiro hiato do Dance of Days”.
Para fechar, o que tem sido planejado para a banda no futuro próximo?
Nenê Altro: “O Dance of Days vinha de um ritmo muito alucinante e que, por vezes, me atropelava. Particularmente nesse primeiro semestre de 2015, nessa fase esquisita da banda em que não conseguíamos nos encaixar, esse ritmo não me fez bem, pois não me trazia satisfação, então tudo foi se tornando algo cada vez mais pesado. O que estou fazendo agora com o .blackclass. é ter calma e carinho com cada passo, construindo devagar, um tijolo por dia e deixando a coisa acontecer naturalmente, sem pressa ou urgência. Diferente de outros projetos que tive, desejo que esse seja uma banda mesmo, com sua própria história, e que, quando houver a volta do Dance of Days, ela siga dentro do seu espaço e dando seus próprios passos. Após esse ep que registrou nosso começo “Endpoint”, mais pesado, quero trabalhar com muita calma em um primeiro álbum. Esse é o plano, o resto apenas tem acontecido”.
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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