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Em novo disco, Foo Fighters tenta entrar no rol do rock clássico; ouça “Sonic Highways” na íntegra

Foo Fighters: “Sonic Highways” 
Lançado em 10 de novembro de 2014
(Atenção: a lista de faixas está ligeiramente fora de ordem no player em relação à tracklist original)

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Entre as bandas nascidas após a queda do grunge, a partir da segunda metade da década de 1990, e ainda em atividade, o Foo Fighters é o principal nome do rock. Os últimos anos confirmaram isso: “Wasting Light”, sob a ótica de milhares de fãs e críticos, é um clássico contemporâneo do rock n’ roll. Gravado na garagem do líder Dave Grohl, o álbum trouxe a crueza, a força e a humildade que o estilo pede.
Após o maior êxito da carreira do Foo Fighters, seria natural que o grupo, que nunca escondeu suas grandes aspirações no cenário mundial, trabalhasse com um passo adiante no lançamento seguinte. “Sonic Highways”, que chegou ao público nesta segunda-feira (10) em todo o mundo, não escondeu essa pretensão. O disco, conceitual, contém oito músicas, cada uma gravada em uma cidade diferente dos Estados Unidos: Chicago, Washington D.C., Nashville, Austin, Los Angeles, New Orleans, Seattle e Nova Iorque.
O álbum é acompanhado de um documentário em série, “Foo Fighters: Sonic Highways”, que mostra todo o processo de gravação. Em um trabalho praticamente antropológico, Grohl e companhia pesquisaram a história de cada município e tentaram imprimir um pouco dos locais nas composições – mais nas letras, menos nas melodias.
“Sonic Highways” mostra o momento mais sofisticado do Foo Fighters. A banda parece ter trabalhado em cada melodia, em cada gancho e em cada passagem como se fosse a última oportunidade. Nesse sentido, o álbum evidencia uma clara evolução do quinteto. O antecessor “Wasting Light” é genial, mas soa muito mais instintivo e carnal. Apesar disso, o novo álbum não tem um carro-chefe. Faltou um single, o que aparentemente não foi prioridade: os caras queriam fazer um disco completo. Só que um full-length precisa ter uma boa faixa de divulgação.
É possível perceber, também, que o Foo Fighters quer entrar para o rol de bandas de rock clássico. O grupo abandonou, em alguns momentos, a pitada alternativa que deu fúria a seus maiores hits. Alguns clichês roqueiros dos anos 1970, especialmente na guitarra, foram empregados. Enxerguei como positivo, porque novas sonoridades foram exploradas. Mas há um lado negativo, justamente por deixar a identidade de lado em certos trechos onde ela era pedida.
A parte das letras mostra um êxito. Dave Grohl nunca foi um bom compositor lírico. Sempre foi bom em falar de relacionamentos e criar um bom refrão que, mesmo aos berros, grudasse na cabeça. Ao longo das oito faixas, Grohl mostra intertextualidade ao fazer relações com todas as cidades que receberam o quinteto ao longo dos meses de produção. Curiosamente, as letras foram feitas pouco tempo antes das gravações das vozes, que é a última etapa do registro antes de partir para mixagem e masterização.
A abertura “Something From Nothing” é climática. Tipo de música que eu gosto: começa lenta, soturna, com entrada gradual de instrumentos. Dave Grohl dá show de interpretação e Taylor Hawkins mostra muita destreza na bateria. Música fantástica, que ganha ares apoteóticos no final. “The Feast And The Famine” tem a impressão digital do Foo Fighters: novamente há uma entrada gradual de instrumentos, mas agora em uma pegada mais alternativa. A cama de guitarras, aliada ao baixo bem tocado de Nate Mendel, é poderosa. O refrão, explosivo, me faz apostar que essa canção estará nos repertórios dos shows da turnê.
A dupla de músicas influenciadas pelo sul dos Estados Unidos é o melhor momento do disco. A melódica “Congregation” é a melhor faixa do disco. Tem uma pegada de classic rock e um pouco da tranquilidade de Nashville, cidade norte-americana onde a canção foi gravada. Os arranjos são muito bem trabalhados para que a faixa grude e não saia de sua cabeça. O miolo, com um solo interessante de Zac Brown, é muito gostoso. Outro grande momento é “What Did I Do?/God As My Witness”. Novamente com uma aposta em arranjos trabalhados e radiofônicos, a faixa, que tem dois momentos, transmite qualidade, tranquilidade e rock n’ roll de uma só vez. Os versos dinâmicos e as interrupções no andar da carruagem foram ótimas sacadas.
“Outside” tem início com um momento de destaque ao baixo, raro no Foo Fighters. As linhas de guitarra têm a cara da banda liderada por Dave Grohl, mas com um pouco mais da boa e natural maturidade. No entanto, a velha aposta em versos contidos e refrão pesado convence, porém não fascina. A melhor parte da faixa é o solo do genial Joe Walsh. “In The Clear”, com a participação da Preservation Hall Jazz Band de New Orleans, mescla peso aos instrumentos de sopro na medida certa. Os versos transmitem autoridade, pelas mãos fortes dos guitarristas e da bateria de Taylor Hawkins. A boa e radiofônica canção tem uma influência generosa do heartland rock.
Em um disco conceitual, muito se aguarda de seu final, que costuma ser brilhante. No entanto, o encerramento de “Sonic Highways” deixa a desejar, sob meu ponto de vista. É compreensível que Dave Grohl e companhia tentaram trazer muito de Seattle e Nova Iorque para, respectivamente, as lentas “Subterranean” e “I Am The River”, mas fugiu do ideal. A primeira apresenta uma pitada da melancolia do grunge e é até uma canção razoável, só que peca pela extensão: com seis minutos, já se demonstra gasta pela metade. A segunda, que soa como uma sequência da primeira, começa com um instrumental gostoso e climático e cresce, porém, não o suficiente. A duração prolonga “I Am The River”, até que ela fique enjoativa e, especialmente, repetitiva, por conta do refrão executado mil vezes, apesar dos violinos bem colocados ao fundo e um resgate da sonoridade de “Echoes, Silence, Patience & Grace”.
“Sonic Highways” é um passo adiante na carreira do Foo Fighters, que nunca se contentou em ser apenas uma banda de rock alternativo. A banda liderada por Dave Grohl quer penetrar de vez na lista de grupos de classic rock, com um projeto grandioso. A única dúvida que pairou na minha cabeça é: será que este era o momento da sofisticação de “Sonic Highways”, ou seria mais sensato dar continuidade à crueza de “Wasting Light”?
Conscientemente, o Foo Fighters não optou pelo caminho mais confortável. Grohl relatou, em recente entrevista, que não faria algo como “Sonic Highways” novamente, por ter sido altamente trabalhado para os padrões do grupo. Mas a evolução do FF me pareceu sensata. Em alguns momentos precipitada, porém, ainda assim, sensata. Só não espere digerir um disco de atmosfera tão complexa na primeira audição.

Nota 8

Dave Grohl (vocal, guitarra base)
Chris Shiflett (guitarra solo, slide guitar em 1)
Pat Smear (guitarra base)
Nate Mendel (baixo)
Taylor Hawkins (bateria, vocal de apoio)

Músicos adicionais:
Rami Jaffee (teclados)
Rick Nielsen (guitarra barítona em 1)
Banda Bad Brains (vozes de apoio em 2)
Zac Brown (guitarra e voz de apoio em 3)
Gary Clark Jr. (guitarra em 4)
Joe Walsh (guitarra em 5)
Preservation Hall Jazz Band (sax tenor, bateria, piano, trombone, trompete e tuba em 6)
Ben Gibbard (vocal e guitarra em 7)
Joan Jett (guitarra em 8)
Tony Visconti (guitarra em 8)

1. Something From Nothing
2. The Feast And The Famine
3. Congregation
4. What Did I Do?/God As My Witness
5. Outside
6. In The Clear
7. Subterranean
8. I Am A River

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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(Atenção: a lista de faixas está ligeiramente fora de ordem no player em relação à tracklist original)

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Entre as bandas nascidas após a queda do grunge, a partir da segunda metade da década de 1990, e ainda em atividade, o Foo Fighters é o principal nome do rock. Os últimos anos confirmaram isso: “Wasting Light”, sob a ótica de milhares de fãs e críticos, é um clássico contemporâneo do rock n’ roll. Gravado na garagem do líder Dave Grohl, o álbum trouxe a crueza, a força e a humildade que o estilo pede.
Após o maior êxito da carreira do Foo Fighters, seria natural que o grupo, que nunca escondeu suas grandes aspirações no cenário mundial, trabalhasse com um passo adiante no lançamento seguinte. “Sonic Highways”, que chegou ao público nesta segunda-feira (10) em todo o mundo, não escondeu essa pretensão. O disco, conceitual, contém oito músicas, cada uma gravada em uma cidade diferente dos Estados Unidos: Chicago, Washington D.C., Nashville, Austin, Los Angeles, New Orleans, Seattle e Nova Iorque.
O álbum é acompanhado de um documentário em série, “Foo Fighters: Sonic Highways”, que mostra todo o processo de gravação. Em um trabalho praticamente antropológico, Grohl e companhia pesquisaram a história de cada município e tentaram imprimir um pouco dos locais nas composições – mais nas letras, menos nas melodias.
“Sonic Highways” mostra o momento mais sofisticado do Foo Fighters. A banda parece ter trabalhado em cada melodia, em cada gancho e em cada passagem como se fosse a última oportunidade. Nesse sentido, o álbum evidencia uma clara evolução do quinteto. O antecessor “Wasting Light” é genial, mas soa muito mais instintivo e carnal. Apesar disso, o novo álbum não tem um carro-chefe. Faltou um single, o que aparentemente não foi prioridade: os caras queriam fazer um disco completo. Só que um full-length precisa ter uma boa faixa de divulgação.
É possível perceber, também, que o Foo Fighters quer entrar para o rol de bandas de rock clássico. O grupo abandonou, em alguns momentos, a pitada alternativa que deu fúria a seus maiores hits. Alguns clichês roqueiros dos anos 1970, especialmente na guitarra, foram empregados. Enxerguei como positivo, porque novas sonoridades foram exploradas. Mas há um lado negativo, justamente por deixar a identidade de lado em certos trechos onde ela era pedida.
A parte das letras mostra um êxito. Dave Grohl nunca foi um bom compositor lírico. Sempre foi bom em falar de relacionamentos e criar um bom refrão que, mesmo aos berros, grudasse na cabeça. Ao longo das oito faixas, Grohl mostra intertextualidade ao fazer relações com todas as cidades que receberam o quinteto ao longo dos meses de produção. Curiosamente, as letras foram feitas pouco tempo antes das gravações das vozes, que é a última etapa do registro antes de partir para mixagem e masterização.
A abertura “Something From Nothing” é climática. Tipo de música que eu gosto: começa lenta, soturna, com entrada gradual de instrumentos. Dave Grohl dá show de interpretação e Taylor Hawkins mostra muita destreza na bateria. Música fantástica, que ganha ares apoteóticos no final. “The Feast And The Famine” tem a impressão digital do Foo Fighters: novamente há uma entrada gradual de instrumentos, mas agora em uma pegada mais alternativa. A cama de guitarras, aliada ao baixo bem tocado de Nate Mendel, é poderosa. O refrão, explosivo, me faz apostar que essa canção estará nos repertórios dos shows da turnê.
A dupla de músicas influenciadas pelo sul dos Estados Unidos é o melhor momento do disco. A melódica “Congregation” é a melhor faixa do disco. Tem uma pegada de classic rock e um pouco da tranquilidade de Nashville, cidade norte-americana onde a canção foi gravada. Os arranjos são muito bem trabalhados para que a faixa grude e não saia de sua cabeça. O miolo, com um solo interessante de Zac Brown, é muito gostoso. Outro grande momento é “What Did I Do?/God As My Witness”. Novamente com uma aposta em arranjos trabalhados e radiofônicos, a faixa, que tem dois momentos, transmite qualidade, tranquilidade e rock n’ roll de uma só vez. Os versos dinâmicos e as interrupções no andar da carruagem foram ótimas sacadas.
“Outside” tem início com um momento de destaque ao baixo, raro no Foo Fighters. As linhas de guitarra têm a cara da banda liderada por Dave Grohl, mas com um pouco mais da boa e natural maturidade. No entanto, a velha aposta em versos contidos e refrão pesado convence, porém não fascina. A melhor parte da faixa é o solo do genial Joe Walsh. “In The Clear”, com a participação da Preservation Hall Jazz Band de New Orleans, mescla peso aos instrumentos de sopro na medida certa. Os versos transmitem autoridade, pelas mãos fortes dos guitarristas e da bateria de Taylor Hawkins. A boa e radiofônica canção tem uma influência generosa do heartland rock.
Em um disco conceitual, muito se aguarda de seu final, que costuma ser brilhante. No entanto, o encerramento de “Sonic Highways” deixa a desejar, sob meu ponto de vista. É compreensível que Dave Grohl e companhia tentaram trazer muito de Seattle e Nova Iorque para, respectivamente, as lentas “Subterranean” e “I Am The River”, mas fugiu do ideal. A primeira apresenta uma pitada da melancolia do grunge e é até uma canção razoável, só que peca pela extensão: com seis minutos, já se demonstra gasta pela metade. A segunda, que soa como uma sequência da primeira, começa com um instrumental gostoso e climático e cresce, porém, não o suficiente. A duração prolonga “I Am The River”, até que ela fique enjoativa e, especialmente, repetitiva, por conta do refrão executado mil vezes, apesar dos violinos bem colocados ao fundo e um resgate da sonoridade de “Echoes, Silence, Patience & Grace”.
“Sonic Highways” é um passo adiante na carreira do Foo Fighters, que nunca se contentou em ser apenas uma banda de rock alternativo. A banda liderada por Dave Grohl quer penetrar de vez na lista de grupos de classic rock, com um projeto grandioso. A única dúvida que pairou na minha cabeça é: será que este era o momento da sofisticação de “Sonic Highways”, ou seria mais sensato dar continuidade à crueza de “Wasting Light”?
Conscientemente, o Foo Fighters não optou pelo caminho mais confortável. Grohl relatou, em recente entrevista, que não faria algo como “Sonic Highways” novamente, por ter sido altamente trabalhado para os padrões do grupo. Mas a evolução do FF me pareceu sensata. Em alguns momentos precipitada, porém, ainda assim, sensata. Só não espere digerir um disco de atmosfera tão complexa na primeira audição.

Nota 8

Dave Grohl (vocal, guitarra base)
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Rick Nielsen (guitarra barítona em 1)
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Joe Walsh (guitarra em 5)
Preservation Hall Jazz Band (sax tenor, bateria, piano, trombone, trompete e tuba em 6)
Ben Gibbard (vocal e guitarra em 7)
Joan Jett (guitarra em 8)
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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