Discos de cabeceira: Ace Frehley – Frehley’s Comet [1987]

Ace Frehley: “Frehley’s Comet” (1987)

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O guitarrista Ace Frehley só se revelou um bom cantor em 1977, no disco “Love Gun”, do KISS. Nada de variações extravagantes: a voz dele era básica, mas tinha uma pegada rock n’ roll. O seu álbum solo de 1978 foi o de maior sucesso entre os quatro, lançados por cada músico da banda, e as faixas de autoria e com voz do Spaceman que marcavam presença em trabalhos subsequentes do KISS eram sempre elogiadas por fãs e crítica.
A orientação musical do KISS passou a desagradar Ace Frehley, e a presença dele na formação da banda não agradava mais aos chefões Paul Stanley e Gene Simmons. Spaceman deixou de fazer parte do grupo no final 1982, mas com um bom feedback de suas composições e de canções cantadas por ele no KISS. Era hora, então, de um projeto solo.
Demorou para que Frehley realmente engrenasse em carreira solo. Ele gravou demos e até fez shows entre 1984 e 1985, mas nada. Más línguas dizem que ele esperou até 1987 para lançar “Frehley’s Comet”, com a banda de mesmo nome, porque até o ano anterior, ele teria que pagar royalties ao KISS caso colocasse algo no mercado. A versão oficial é que ele realmente não conseguia firmar um contrato com uma gravadora, até que a Megaforce Records abriu espaço a ele.
A espera, no entanto, valeu a pena. Ace Frehley fez do jeito dele. Contou com o baterista Anton Fig na formação – o mesmo que tocou em seu trabalho solo de 1978 e nos discos “Dynasty” e “Unmasked”, se fazendo de Peter Criss -, chamou o lendário produtor Eddie Kramer e, apesar da leve adequação aos padrões oitentistas de se fazer rock, fez algo espontâneo, com a cara dele: ou seja, hard rock com foco nos riffs e bateria recauchutada. Há um leve toque 1980s aqui, pela presença de sintetizadores em alguns momentos, mas nada tornou o som pasteurizado. Além de Frehley e Fig, o grupo contava com John Regan no baixo e Tod Howarth nos vocais, na guitarra e nos teclados.
“Rock Soldiers” abre o disco de forma climática, com destaque à bateria de Anton Fig. A ótima letra é autobiográfica: Ace Frehley conta sobre seu acidente de carro, no meio de 1983, que quase tirou sua vida. Com a segurança de sempre, ele brada, ao final do refrão: “Ace está de volta e ele te disse que voltaria”. Nessa faixa, Frehley mostra que voltou com muito rock n’ roll para oferecer.
“Breakout”, feita com Eric Carr ainda nos tempos de KISS, em meados de 1981, traz riffs fortes e a voz impactante e aguda de Tod Howarth. Anton Fig volta a dar show com as baquetas. Os solos são ótimos. Uma das melhores faixas do álbum. “Into The Night”, também climática por ser levemente soturna, tem o brilho de Ace Frehley do início ao fim, da voz à guitarra, especialmente no solo incrível que se estende pelo refrão. Mais elaborada, a canção traz um pouco da aura oitentista, com leves aparições de sintetizadores em poucos momentos. Os teclados ao fundo também são pouco perceptíveis, mas decisivos.
Os riffs matadores de “Something Moved” mostram que Tod Howarth, que canta e é autor da canção, não estava atrás. Era a companhia perfeita para Ace Frehley. A canção tem um pouco mais a cara dos anos oitenta, já com aparições menos tímidas de sintetizadores e melodias um pouco mais orientadas para rádio. Faixa monstruosa. E como Tod Howarth canta bem! “We Got Your Rock”, com refrão imponente, é a cara de Frehley, pois é um rockão direto, visceral e pesado. A letra da ponte resume: “se é pelo rock n’ roll que você veio, é rock n’ roll que você terá”.
“Love Me Right” abre com um riff forte, mas é mais afável e melódica. Com mais variações, Ace Frehley mostra que aprendeu a cantar melhor nos anos fora do KISS. O refrão é grudento. Essa faixa exala 1980s hard rock, mas não mais que a seguinte “Calling To You”, que volta a ter Tod Howarth nos vocais principais. O loirão mostra que poderia ser o frontman da banda sem problemas. O registro vocal é ótimo e a composição, uma versão da música “Mega Force” da antiga banda de Howarth, 707, é bem estruturada. Dobras de vozes em tonalidades diferentes e sintetizadores aparecem timidamente. A música tem cara de single e é uma pena que não tenha sido lançada no formato em questão.
“Dolls” é a música mais fraca do registro. Começa com um sintetizador petulante e uma melodia que ficou absurdamente chata sob as cordas vocais de Ace Frehley. A letra, feita em homenagem à filha, Monique, fala sobre… bonecas. Dispensável. “Stranger In A Strange Land” retoma a proposta rock n’ roll que permeia o resto do trabalho. As camas de guitarras que preenchem a canção são ótimas. Anton Fig, dinâmico e preciso, brilha. O encerramento é com a instrumental “Fractured Too”, como de costume em discos de Frehley. Bons dedilhados e arranjos marcam a faixa.
O primeiro álbum do Frehley’s Comet fez sucesso. Nada explosivo como a antiga banda de Ace Frehley, mas a repercussão foi boa. Uma pena que o sucessor, “Second Sighting”, nem de longe tenha atingido o mesmo patamar de qualidade. Os vícios de Ace fizeram com que uma ótima banda se perdesse em pouco tempo. Mas o disco de estreia serve – e como! – para a cabeceira.


Acima, show da turnê de divulgação deste disco. O repertório mistura músicas da fase de Ace Frehley no KISS com canções do álbum.

Ace Frehley (vocal, guitarra, violão)
Tod Howarth (vocal, guitarra, teclados)
John Regan (baixo)
Anton Fig (bateria)

Músico adicional:
Gordon G. G. Gebert (sintetizadores, samples e sequências de programação)

01. Rock Soldiers
02. Breakout
03. Into The Night
04. Something Moved
05. We Got Your Rock
06. Love Me Right
07. Calling To You
08. Dolls
09. Stranger In A Strange Land
10. Fractured Too

O quadro “Discos de cabeceira” indica álbuns que, de formas específicas, trabalharam na construção do meu gosto e até do meu caráter – até porque, música traz valores que podem ser levados para a vida toda. Sem preconceito ou xiitismo: há discos recentes e de outros estilos, fora do hard rock/metal, na lista. As postagens, que estão sendo feitas em ordem alfabética, aparecem em ordem alfabética invertida no site e podem ser encontradas clicando AQUI.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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