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Os 20 anos do fim do Alice In Chains – e os 10 anos do recomeço

O ano de 2016 é, de certa forma, marcante para o Alice In Chains. Para o bem e para o mal. No último domingo (3), completou-se 20 anos do último show da banda antes da morte do vocalista Layne Staley. Por outro lado, em maio deste ano, a nova formação com William DuVall nos vocais chegou a 10 anos de existência.

O Alice In Chains ainda era relevante em 1996. A banda transitava por underground e mainstream com excelência e ainda se mantinha fiel à sonoridade que fazia desde o início da carreira.

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No entanto, os problemas já tomavam conta do Alice In Chains internamente. A saída do baixista Mike Starr, as internações de Layne Staley e a opção por não fazer uma turnê para divulgar o disco “Alice In Chains”, lançado no fim de 1995, demonstravam o desgaste.

Em abril de 1996, a banda voltou a fazer um show depois de dois anos e meio fora dos palcos. A apresentação em questão foi a que originou o “MTV Unplugged”. Impulsionados, os músicos voltaram de vez à estrada como banda de abertura da turnê de reunião do KISS.

Não durou muito: a última performance com Layne Staley aconteceu em 3 de julho daquele ano, em Kansas City, nos Estados Unidos. Pouco depois da apresentação, Staley foi levado a um hospital após sofrer uma overdose de heroína. Foi o começo do fim.

A derrocada de Layne Staley

Os últimos anos de Layne Staley foram muito reservados. O cantor optou pela reclusão após a morte de sua ex-noiva, Demri Parrott, em 1996. Antes disso, pelas suas letras, Staley já pedia ajuda. As drogas são tema de praticamente metade das composições de “Dirt” (1992).

Com a pausa do Alice In Chains, o guitarrista Jerry Cantrell começou a trabalhar em uma carreira solo, que contou com contribuições do baterista Sean Kinney e do baixista Mike Inez. Em 1998, mo mesmo ano em que o primeiro disco solo de Cantrell – “Boggy Depot” – era lançado, Layne Staley saiu de sua caverna e convidou os músicos do Alice In Chains para gravar duas músicas, que integraram o box set “Music Bank”.

Depois de 1998, o Alice In Chains lançou um disco ao vivo – com gravações antigas, é claro – e duas coletâneas. Graças a empresários, não aos músicos. Jerry Cantrell focou ainda mais em sua carreira solo e Layne Staley se afundou de vez. Ele estava perdendo a batalha contra as drogas.

Staley já se reconhecia como um viciado, mas, por estar cada vez mais recluso, dificilmente era localizado por seus amigos. Quando alguém o encontrava e oferecia ajuda, ele recusava. Boa parte das pessoas de seu círculo, progressivamente retrito, também tinha vício em alguma droga, o que só atrapalhou.

Em entrevista à Rolling Stone, Sean Kinney disse que era impossível ter algum tipo de contato com Layne Staley em seus últimos anos. “Mesmo quando você conseguia entrar no condomínio onde ele vivia, ele não abria a porta. Você ligava e ele não atendia. Você não poderia somente chutar a porta e levar ele, apesar de que muitas vezes eu pensei em fazer isso. Mas se alguém não se ajuda, o que, de fato, alguém pode fazer?”, disse.

O relato é semelhante ao de outros integrantes do Alice In Chains, profissionais que trabalhavam com a banda e colegas do ramo, como membros do Pearl Jam. Somente alguns familiares conseguiam contato com Layne Staley e, aparentemente, não foi suficiente para salvá-lo de um vício potencializado.

A última entrevista que Layne Staley concedeu tem ares de melancolia. À escritora Adriana Rubio, três meses antes de falecer, Staley já dizia que sabia que morreria, após anos de uso de cocaína, heroína e, nos anos finais, crack.

“Essa m*rda de droga é como a insulina que um diabético precisa para sobreviver. Não estou usando drogas para ficar chapado, como pensam. Sei que cometi um grande engano usando essa m*rda. Meu fígado não funciona mais, vomito toda hora e defeco em minhas calças. A dor é maior do que se pode suportar. É a pior do mundo”, disse.

Com a aparência deteriorada, pesando apenas 39 kg e sem vários dentes, Layne Staley foi encontrado morto no dia 19 de abril de 2002, duas semanas após realmente ter falecido. Foi o fim de uma era.

O renascimento do Alice In Chains

O fim de uma era, nesse caso, representou o início de outra. Jerry Cantrell, Mike Inez e Sean Kinney, que haviam tocado juntos em outras oportunidades entre 1996 e 2002, se reuniram em 2005 para um show beneficente. No ano seguinte, entraram em turnê com William DuVall. O Alice In Chains estava de volta.

Há, evidentemente, quem rechace o retorno do Alice In Chains até hoje, mesmo 10 anos após o retorno. Existe uma discussão sobre continuar ou não com uma banda sem algum membro muito importante e ela é natural. É uma situação que sempre irá dividir fãs.

Mas não dá para criticar as intenções dos envolvidos. Especialmente a de William DuVall. Competente vocalista, bom guitarrista e um performer em constante evolução, DuVall aceitou o irrecusável convite para se juntar à banda, assumiu a bronca e teve boa participação no novo Alice In Chains, agora capitaneado por Jerry Cantrell.

Dois discos já se resultaram dessa nova proposta. Lançado em 2008, o ótimo “Black Gives Way To Blue” tem um tom de homenagem a Layne Staley e um som muito coeso. “The Devil Put Dinosaurs Here”, de 2013, é mais arrastado e já não me soou tão atraente como o anterior, mas tem seus bons momentos.

Antes de morrer, Layne Staley disse que os demais membros do Alice In Chains não eram seus amigos de verdade, pois não se importaram com ele. No entanto, sabe-se que, infelizmente, Staley recusou ajuda. O vício é uma doença como qualquer outra. Não existe culpado.

A solitária morte de Layne Staley ocorreu por diversos fatores, não só por um suposto abandono por parte de Jerry Cantrell e Sean Kinney. O fim de uma era não pode barrar o início de outra. Nos últimos 10 anos, o Alice In Chains tem ido bem – seja pela necessidade de fazer algo novo ou pelo intuito de manter viva a memória de Staley. E espero que continue assim.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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