Logo em sua fundação em 1966, o Cream passou a incluir em seu repertório “Cross Road Blues”, popularmente conhecida como “Crossroads”, do artista Robert Johnson. Por consequência, uma versão ao vivo da música integrou o terceiro disco “Wheels of Fire” (1968) e virou um clássico do grupo.
Curiosamente, Eric Clapton, responsável pelos icônicos solos da canção, não é um grande fã da releitura. Inclusive, o guitarrista já confessou que nem mesmo a ouvia mais.
Durante entrevista de 1985 à Guitar Player, o músico foi perguntado se houve alguma edição da performance antes de colocá-la no projeto mencionado. Em resposta, o virtuoso revelou não lembrar, já que “realmente” não curte a apresentação.
Primeiramente, ele justificou:
“Faz tanto tempo que não ouço essa música. Na verdade, eu realmente não gosto dela. Acho que tem algo errado. Eu não ficaria nem um pouco surpreso se tivéssemos nos perdido durante a música, porque isso acontecia muito.”
Em seguida, Clapton explicou que, na época, era comum que cometesse erros durante os shows, o que trazia “um som meio estranho” às músicas. Esses deslizes sempre o incomodaram — e ele acha que algo parecido aconteceu em “Crossroads”:
“Às vezes eu perdia a noção do tempo certo de entrar e começava a tocar no momento errado. Isso acontecia várias vezes. De alguma forma, isso acabava criando um som meio estranho, como se fosse uma mistura fora do planejado, e eu nunca gostei disso, porque não era o que a música pedia. O que quero dizer é: quando eu escuto um solo que estou tocando e penso ‘droga, entrei no momento errado’, eu não consigo aproveitar. E acho que foi isso que aconteceu em ‘Crossroads’.”
Ao MusicRadar em 2004, Clapton ainda afirmou não entender o sucesso de “Crossroads”. Citando mais uma vez o fato de que acredita ter falhado na versão, o guitarrista disse:
“Na verdade, eu tenho praticamente zero tolerância com a maior parte do meu material antigo, especialmente ‘Crossroads’. A popularidade dessa música com o Cream sempre me deixou intrigado. Eu não acho que seja muito boa. Além disso, estou convencido de que entro no tempo errado no meio da música, algo que acontecia com frequência no Cream. Me enlouquece saber que existe uma performance minha por aí em que eu cometi esse erro. Por isso, eu nunca revisito minhas coisas antigas. Nem chego perto.”
Sobre Eric Clapton
Em 30 de março de 1945 nasceu Eric Clapton, um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Com uma carreira longa e variada, o músico fez história no meio do caminho entre o blues e o rock.
Sua primeira banda com alguma notoriedade foi o Yardbirds. Foi nessa época que ganhou o apelido “Slowhand”. O motivo? Sempre que arrebentava alguma corda da guitarra durante o show, ele parava para trocá-la, pacientemente, ainda no palco. A plateia aguardava batendo palmas lentamente, daí a origem do nome.
Clapton saiu dos Yardbirds em 1965 e teve sua vaga ocupada por Jeff Beck e depois por Jimmy Page. Ficou por pouco tempo com John Mayall & The Bluesbreakers enquanto trabalhava em alguns outros projetos. Em 1966, passou a integrar o Cream junto de Ginger Baker (bateria) e dividindo vocais com Jack Bruce (baixo). O trio, um dos primeiros supergrupos da história, fez com que Clapton ganhasse também o mercado americano.
O Cream durou pouco, encerrando as atividades em 1968. Clapton terminou a década migrando entre projetos como o Blind Faith e o Derek and the Dominos – com este último, lançou um de seus grandes sucessos, a música “Layla”. Nos anos 70, ele se dedicou à carreira solo e lidou com os vícios em drogas e álcool, o que perdurou até a década de 80.
No início dos anos 90, uma tragédia abalou a vida do guitarrista. Seu filho, Conor Clapton, de apenas 4 anos, caiu do 53º de um prédio em Nova York. O fato inspirou a música “Tears in Heaven”, presente no álbum “Unplugged”, gravado no quadro da MTV. Tanto o disco quanto a canção foram premiados no Grammy seguinte, além de baterem recordes de vendas.
Nos anos 2000, Clapton focou em colaborações com músicos como J.J. Cale, Billy Preston e muitos outros, além de uma breve reunião do Cream em 2005. Participou de shows especiais para caridade e dirigiu o concerto em homenagem a seu amigo, George Harrison, falecido em 2001. Criou ainda o Crossroads Guitar Festival em 1999, com várias edições ao longo das décadas seguintes.
Nos últimos anos, passou a enfrentar problemas de saúde e estampou manchetes mais pelo negacionismo em relação às vacinas contra a covid-19 do que pela música, embora tenha continuado a lançar discos, realizar shows e fazer colaborações.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
